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Banquete De Um Cabalista

Laitman_506_2Maimônides, um grande Cabalista do século XII, filósofo, médico e astrônomo, dedicou um bom número de artigos médicos às refeições e à necessidade de alimento. Em particular, ele escreveu: “A comida deve ser mastigada completamente para receber prazer”, caso contrário a comida vai ser prejudicial, “e agradeça ao Criador por isso”.

No mundo espiritual, a comida é a Luz Superior que precisamos receber a fim de doar, ou seja, por prazer e não porque queremos satisfazer a fome, e não temos outra escolha.

É dito (mesmo entre aqueles que não eram Cabalistas) que, para mastigar os alimentos, é necessário mastigar 72 (Ayin-Bet) vezes com os dentes. Do ponto de vista espiritual, os dentes mastigam Ohr Chochma, dividindo o desejo numa multiplicidade de fragmentos, de modo que será possível misturá-los com Ohr Hassadim. E no mundo físico, isso é expresso na mistura dos alimentos com a saliva quando a pessoa mastiga.

É necessário comer tranquilamente entre os amigos ou a família (é desejável não comer sozinho), de modo que a cada momento nos sentimos agradecidos.

É assim que era com o meu professor Rabash; a refeição ocorria em silêncio total; ninguém dizia uma palavra. Nós cuidávamos inclusive os nossos movimentos, de modo a não perturbar os outros dentro de seus pensamentos mais íntimos.

Em geral, com a nossa educação atual, nós estamos acostumados a falar durante uma refeição. As pessoas se reúnem num café ou num restaurante para uma conversa entre elas, para se conectar e assim por diante. E aqui tudo é completamente diferente; tudo é feito em silêncio, trabalhando dentro de si mesmo, mas em relação aos outros. Portanto, o Rambam escreve que é “necessário comer em silêncio entre amigos ou na família, e se sentir agradecido a cada momento”.

Eu espero que, por fim, comecemos a ter refeições como essa.

Da Lição Diária de Cabalá 17/04/14, Perguntas e Respostas com o Dr. Laitman

L’Chaim – Pela Vida Espiritual

laitman_285_02Escritos do Baal HaSulam, Shamati # 173: “Ele disse sobre dizer L’Chaim (à vida) ao beber vinho, que é como nossos sábios disseram: ‘O vinho e a vida de acordo com os sábios e os seus discípulos’”. Isso é desconcertante: por que especificamente de acordo com nossos sábios? Por que não de acordo com o ignorante?

A questão é que dizer L’Chaim” implica a vida superior. Quando bebemos vinho, devemos lembrar que o vinho tem a sua fonte espiritual, o que implica “o vinho da Torá”, a Luz que vem como uma recompensa, e por isso nós dizemos, “L’Chaim!”, um lembrete de que devemos estender a Luz da Torá, chamada “vida”.

A vida corporal, no entanto, é chamada pelos nossos sábios, “Os ímpios, em suas vidas, são chamados de ‘mortos’”. Por isso, é especificamente nossos sábios que podem dizer, “vinho e vida”. Isso significa que só eles são qualificados a prolongar a vida espiritual. As pessoas incultas, no entanto, não tem nenhum desejo por ela ou as ferramentas para estendê-la.

O vinho simboliza Ohr Hochma (Luz da Sabedoria), a qual eu quero receber a fim de doar (com Ohr Hassadim). Se eu posso manter Ohr Hochma com Ohr Hassadim (Luz da Misericórdia) e não violar a acomodação entre elas para sentir a vida, então essa energia entra em nós de uma forma positiva.

Mas se eu não tenho suficiente Ohr Hassadim, então a Shevirat HaKelim (a quebra dos vasos) acontece e eu caio novamente no desejo egoísta. Então, eu aparentemente analiso se tenho suficiente Ohr Hassadim para receber Ohr Hochma, de modo que uma Luz pode ser vestida na outra. Então, Ohr Hochma é revelada, e o próximo nível é revelado em mim.

Uma análise como essa é chamada de L’Chaim, doar com fé acima da razão. Receber em prol da doação é o processo de comer, que se expressa na palavra, “L’Chaim” , o que significa que eu estou fazendo isso em prol da vida espiritual.

Eu transmito a Luz que recebo a partir de Cima através de mim, transmitindo-a aos outros, caso contrário, ela não entra em mim. Esta é a lei do mundo superior. Quando eu recebo a fim de doar, transmitindo através de mim para os outros, e eles por sua vez fazem a mesma coisa, transmitindo-a através de mim, isso é chamado de “L’Chaim“.

Portanto, quando nós bebemos vinho, nós dizemos, “L’Chaim!”, o que significa que nos lembramos de que é necessário se preocupar com a recepção direita da Luz da vida, a fim de atingir o nível superior.

Da Lição Diária de Cabalá 17/04/14, Perguntas e Respostas com Dr. Laitman

Um Lugar Para Trazer Um Sacrifício

laitman_749_04Pergunta: Na transição dos cinco sentidos do mundo para os cinco sentidos para sentir o Mundo Superior, onde há um lugar para “trazer um sacrifício”?

Resposta: No início, a pessoa não tem nada. Nós começamos a trazer sacrifícios durante o êxodo do Egito, quando o Criador parece exigir que se traga sacrifícios, a construção do tabernáculo para as “tábuas da aliança” e assim por diante.

Se a pessoa já se encontra num determinado grau de realização, é como se eles lhe dissessem: “O seu desejo é egoísta nesse grau, e outro desejo – em outro grau. É necessário cortá-lo neste grau aqui, e de lá – para outro grau”. Isso significa que eles lhe mostram como, em que medida, e com que acomodação aos outros desejos ela pode usar cada um de seus desejos com uma intenção em prol da doação.

Quando a pessoa sente claramente que está passando de um mundo para o outro, ela começa a sentir uma espécie de distanciamento do mundo. Isso já é aparente em algum grau nas pessoas que vêm estudar a sabedoria da Cabalá.

Depois disso um desejo claro pelo próximo estado é revelado, a descoberta do Criador. Mas a pessoa ainda não entende o que o Criador é, que tipo de característica é – doação e amor, e o que ela deve sacrificar para descobrir o Criador, que ela quer muito depois de tudo.

É claro que a pessoa precisa de um grupo, a fim de se desenvolver corretamente, para olhar para os outros e manter a sua inveja e desejo dentro dela, sua aspiração de avançar. Ela precisa sentir que não está sozinha.

Ela faz um Tzimtzum (restrição) em si, e se esforça para frente em todos os níveis. E os problemas são constantemente despertados dentro de si, que, aparentemente, a puxam para trás: retirada, indiferença e desculpas. Depois disso, ela dá um salto para frente; ela passa por experiências difíceis na forma das pragas do Egito, a divisão do Mar Vermelho, o deserto, e assim por diante.

Mas o principal é que só depois é que ela recebe instruções e orientações sobre o que fazer. Afinal de contas, ela não recebe imediatamente instruções sobre como trazer sacrifícios.

Em primeiro lugar, nós entendemos a importância do desapego deste mundo em que apenas o nosso corpo físico existe. E nós, com os nossos desejos, intenções e esperanças, avançamos para a realização do mundo superior, a característica de doação e conexão entre todos.

Como investigadores sérios nós queremos descobrir como os níveis  inanimado, vegetal e animal da natureza estão conectados, onde estão as forças que existem entre eles.

Nós gradualmente descobrimos tudo isso em duas etapas. Na primeira etapa, nós não queremos nada para nós mesmos, nós tentamos estar completamente separados da característica de recepção, e, desta forma, adquirimos uma característica chamada “Hassadim” (misericórdia).

Na segunda etapa, nós subimos totalmente ao nível de Hassadim, ao nível de Bina, depois de fazer uma correção em nossos desejos, quando eles são encontrados em separação total da recepção e de qualquer realização. Depois disso, nós começamos a transformar esses desejos em características de doação e amor. É aqui que o lugar para o sacrifício é revelado. Em outras palavras, nós devemos esclarecer a forma de santificar cada um dos nossos desejos, tudo o que está dentro de nós: inanimado, vegetal, animal, e falante.

De KabTV “Segredos do Livro Eterno” 20/11/13

A Fonte Espiritual Mais Próxima De Nós É Pessach

Dr. Michael LaitmanPergunta: Qual é a conexão entre nós, com a qual nós saímos do Egito?

Resposta: Do Egito partem apenas desejos que querem se conectar, ou seja, apenas Israel. Todo o resto das partes do desejo de receber que não sente atração pela conexão morre no Egito; elas são o exército de Faraó.

Nós trabalhamos com a conexão entre nós num grupo; mas descobrimos que não estamos prontos para alcançá-la, de modo que “… e os filhos de Israel suspiraram por causa da servidão…” (Êxodo 2:23). Isso significa que nós clamamos ao Criador e pedimos que Ele nos conecte.

Pergunta: Então, qual é o nosso trabalho? Nós devemos trabalhar em oração?

Resposta: A oração não pode ser artificial, pois ela é o trabalho do coração. No final de todos os meus esforços, depois de ter me convencido de que nada depende de mim, eu saio em oração.

É impossível orar pelo relógio, isso não é chamado de oração. A oração deve ser ajustada ao sentimento no coração. Portanto, neste momento, você pode estar num estado de “Yom Kippur” e em mais algumas horas estar num estado de “Pessach” (Páscoa Judaica). Isso não se refere ao tempo, mas a estados.

Portanto, por que há um grande significado no feriado de Pessach que está marcado no calendário? É porque as Luzes Superiores que chegaram até nós do “fim da correção”, através de todos os degraus da escada, alcançam o nosso mundo e até mesmo cria uma pequena iluminação nele. E nós queremos conectar essa iluminação com todas as luzes superiores de doação e  amor ao próximo, que nós ansiamos alcançar, para conectá-las junto ao mundo do Infinito. Assim, também em nosso mundo, nos ramos físicos, nós celebramos esse estado e queremos ser como ele mesmo no nível físico. Isto é particularmente relevante ao feriado de Páscoa.

Os demais feriados são muito elevados: Rosh Hashaná (abraçando a direita) e  Sucot (abraçando a esquerda) são grandes Luzes Circundantes. Mas tudo começa com Pessach. Por isso, é chamado de “cabeça” de todos os meses. O êxodo do Egito é o nascimento da espiritualidade, por isso esta fonte espiritual é a mais próxima de nós, estando bem acima de nossas cabeças. Os demais feriados são muito superiores.

Nós queremos nos aproximar desta fonte, ou seja, começar a nos conectar ativamente, tanto quanto possível. O símbolo do êxodo do Egito é a primeira conexão entre nós, e depois disso, nós adicionamos mais e mais “carne”, mais desejos, a esse ponto de conexão.

Mas o primeiro contato é o êxodo do Egito, razão pela qual é chamado de “nascimento” do homem – do que conseguimos acumular a partir das partes quebradas ao saltar sobre o nosso ego e da conexão entre nós. Isso é chamado de um verdadeiro “milagre”. Nós recebemos esta oportunidade graças à influência da Luz; de outra forma, é impossível.

Nós devemos nos preparar seriamente para este estado porque passamos muito tempo juntos nas refeições e nas aulas com todos os grupos no mundo e tentamos alcançar ativamente uma conexão. Nós esperamos ter sucesso na implementação disso; ainda temos tempo. Não há tempo na espiritualidade e nós podemos realizar isso muito rapidamente, atingindo pelo menos temporariamente este estado e descendo novamente. E há também uma segunda “Pessach” na outra semana. Alguém que não consegue perceber isso na primeira Pessach vai ter uma segunda oportunidade.

Pergunta: O que significa se conectar ativamente?

Resposta: Todos os nossos corações devem entrar em contato um com o outro num único ponto, chegando a um ponto de contato. Não basta apenas querer isso, mas sim, devemos realizar ativamente isso. A oração é despertada numa pessoa apenas no momento necessário, que vem como resultado da ação no mundo físico. Se eu faço alguma coisa e sofro totalmente com a falha, a partir deste ponto a oração irrompe.

Da 3ª parte da Lição Diária de Cabalá 13/04/14, O Zohar

As Atuais Megacidades São Como As Antigas

Dr. Michael LaitmanNas Notícias (da University of Colorado Boulder): “Viver nos maiores e mais densos assentamentos permitiu que os habitantes de cidades antigas fossem mais produtivos, assim como é verdade para os habitantes modernos, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas da Universidade de Colorado Boulder e do Instituto Santa Fe.

“À medida que as cidades modernas crescem, elas obedecem a determinadas regras. Conforme a população cresce, por exemplo, a área assentada se torna mais densa em vez de se alastrar. Isso permite que as pessoas vivam mais juntas, usem infra-estrutura de forma mais intensiva, interajam com mais frequência, e, como resultado, produzam mais por pessoa.

Num artigo publicado no ano passado, a equipe de pesquisa – liderada por Scott Ortman, um professor adjunto no Departamento de Antropologia do CU-Boulder – descobriu que este conjunto de regras, conhecidas como escala urbana, parece se aplicar às cidades antigas, bem como às modernas. Nesse estudo, os pesquisadores analisaram como os artefatos estavam espalhados e como as casas estavam distribuídas para mostrar que as cidades antigas também se tornaram mais densas na medida em que a população cresceu.

“Agora, os pesquisadores têm expandido este trabalho para mostrar que os habitantes de assentamentos antigos também se tornavam mais produtivos conforme o tamanho e a densidade de seus assentamentos cresciam, assim como nas cidades modernas”.

Meu Comentário: A humanidade, em seu desenvolvimento, passa por apenas duas etapas:

  1. Egoísta: o egoísmo inconsciente – os níveis inanimado, vegetal e animal – , e depois o egoísmo consciente (a realização do mal).
  2. Altruísta: subida até esse nível e seu desenvolvimento até o ponto do desaparecimento do nosso mundo (aparente).

Até agora, nós não mudamos a nossa natureza da etapa 1 para 2, de modo que, não importa o que nós construamos, nossas vidas estão focadas na satisfação de nossas necessidades animais (físicas), e não há grande diferença nas formas de vida em diferentes épocas.

Existe Vida Eterna?

Dr. Michael LaitmanPergunta: Existe vida eterna?

Resposta: Existe vida eterna, mas não no nosso corpo físico. O nosso organismo biológico é uma máquina que não pode existir mais do que algumas décadas.

A ciência pode prolongar a vida útil do corpo até várias décadas mais do que vivíamos no passado, mas é difícil entender por que as pessoas devem querer viver assim por muito tempo se não estiverem dispostas a desenvolver a alma dentro de si. Nós vemos que as pessoas hoje vivem o dobro do tempo, e até três vezes mais do que há 200 ou 300 anos.

A vida eterna é a vida no desejo altruísta, não no desejo egoísta. É porque o ego se mata, enquanto nós podemos viver para sempre com o desejo de doar, porque ele não desaparece e é continuamente renovado. O desejo de doar se conecta a outras pessoas e vive nelas.

Quando uma pessoa desenvolve a alma dentro dela, o que significa o amor pelos outros, ela sai de seu estreito mundo que está cheio de dor e problemas, e entra no grande mundo eterno.

Do Programa na Radio Israelense 103 FM, 01/02/15

Como Um Feixe De Juncos – Sinos Misturados, Parte 2

Like a Bundle of ReedsComo um Feixe de Juncos, Por que Unidade e Garantia Mútua são Urgentes HojeMichael Laitman, Ph.D.

Capítulo 7: Sinos Misturados

Ser Judeu, ou Não Ser Judeu, Eis a Questão!

Espanha, a Trágica História de Amor

Flávio Josefo escreveu sobre o caloroso acolhimento com o qual os expatriados foram recebidos na Síria e Antioquia depois de sua expulsão pelos Romanos. Os judeus foram “muito misturados”, ele escreveu, e viveram “com a tranquilidade mais imperturbável”. [i] Ele também escreveu sobre como o Imperador Romano, Titus Flavius, “os expulsou de toda Síria”. [ii] Na Antiguidades dos Judeus, ele citou o geógrafo Grego Strabo dizendo, “Este povo já abriu caminho em toda a cidade, e não é fácil encontrar qualquer lugar no mundo habitável que não tenha recebido esta nação e que não tenha sentido seu poder”. [iii]

A maneira vacilante com a qual os judeus foram acolhidos – inicialmente de forma calorosa, depois rejeitados, depois repelidos uma vez mais, se não completamente destruídos – se repetiu numerosas vezes desde a ruína do Primeiro Templo. [iv] Contudo, muitos, se não a maioria dos judeus exilados depois da ruína do Segundo Templo, são ainda reconhecidos como tais, pelo menos por herança, se não por algum nível de prática.

Houve muitas tentativas de converter os judeus ao Islamismo ou Cristianismo, e eles frequentemente o desejaram fazer, e ativamente tentaram se converter. Todavia, para a maioria, essas tentativas ou falharam ou foram somente marginalmente bem sucedidas.

O Professor e investigador de História Judaica na Universidade de Wisconsin, Norman Roth, detalha tanto as tentativas massivas dos judeus de se converterem, e as consequências trágicas que resultaram dessas tentativas. Em Judeus, Visigodos e Muçulmanos na Espanha Medieval: cooperação e conflito, ele escreve, “Nos séculos quatorze e quinze, milhares de judeus se converteram, principalmente por sua própria livre vontade e não sob qualquer dureza, ao Cristianismo. O papel destes conversos [judeus que se converteram ao Cristianismo] na sociedade conduziu a feroz hostilidade contra eles no século quinze, finalmente resultando em verdadeiro estado de guerra. O antissemitismo racial emergiu pela primeira vez na história em larga escala e os estatutos de limpieza de sangre [pureza de sangue] foram erguidos [distinguindo os Velhos Cristãos ‘puros’ daqueles com antepassados muçulmanos ou judeus]. Finalmente, a Inquisição foi revivida entre falsas acusações de ‘falsidade’ dos conversos, e muitos foram queimados. Nada disto, contudo, teve alguma coisa a ver com os judeus, que na maioria continuaram suas vidas, e suas relações normais com os Cristãos, como anteriormente”. [v]

Certamente, não só os judeus que mantiveram sua fé não foram prejudicados, mas eles até nutriam um laço único com os seus anfitriões espanhóis. De acordo com Roth, “Tão incomum, pode-se dizer única, era a natureza desse relacionamento [entre judeus e cristãos] que um termo especial é usado na Espanha para isso, um termo que não tem tradução precisa noutras línguas, convivencia [grosseiramente significando, “viver juntos em afinidade”]. Na verdade, a verdadeira extensão da convivencia na Espanha medieval Cristã não havia sido totalmente revelada”. [vi]

O estudo de Roth salienta que enquanto os judeus permaneciam leais a sua herança e não tentavam assimilar culturas estrangeiras, eles eram bem-vindos a permanecer, ou eram pelo menos deixados em paz. E especificamente na Espanha, em tempos em que o calor e a intensidade do relacionamento verdadeiramente se assemelhavam a uma história de amor, completa com todas as provações e tribulações que as grandes histórias de amor exibem. Contudo, quando os judeus tentavam se misturar com outras nações e se tornavam como elas, essas nações os rejeitavam e os forçavam de volta ao judaísmo, ou os forçavam a se converter, mas de uma maneira depreciativa e forçada.

Jane S. Gerber, uma especialista na história Sefardita na Universidade Municipal de Nova Iorque, detalha eloquentemente a extensão à qual os judeus espanhóis conversos imergiam-se na vida cultural e secular espanhola (ênfases são do editor). “Profundamente enraizados na península ibérica desde a aurora da sua dispersão”, escreve Gerber, “estes Judeus nutriam fervorosamente um amor pela Espanha e sentiam uma profunda lealdade à sua língua, regiões e tradições (…) De fato, a Espanha havia sido considerada uma segunda Jerusalém”.

“Quando o decreto de expulsão do Rei Fernando e da Rainha Isabel foi promulgado em 31 de Março, [1492], ordenando que os 300.000 judeus da Espanha partissem dentro de quatro meses, os Sefarditas reagiram com choque e descrença. Seguramente, eles sentiam que a proeminência de seu povo de todos os caminhos da vida, a clara longevidade de suas comunidades (…) e a presença de tantos judeus e cristãos de linhagem judaica (conversos) nos círculos internos da corte, municipalidades e até a igreja Católica forneceria proteção e evitaria o decreto”.

“…Os judeus espanhóis eram especialmente orgulhosos da sua longa linhagem de poetas, cujas… canções continuaram a ser recitadas. Seus filósofos foram influentes até entre os acadêmicos do Ocidente, seus gramáticos inovadores ganharam um lugar duradouro como pioneiros da língua hebraica, e seus matemáticos, cientistas e inumeráveis físicos haviam ganho aclamação. A desenvoltura e o serviço público dos diplomatas Sefarditas também preencheram os anais de muitos reinos muçulmanos. Na realidade, eles não só residiam na Espanha; eles haviam coexistido lado a lado com muçulmanos e cristãos, levando a noção de viverem juntos (la convivencia) com absoluta seriedade”.

“A experiência dos Sefarditas levanta o problema da aculturação e assimilação como nenhuma outra comunidade judaica o fez. Durante muitos séculos, a civilização judaica tomou emprestada livremente da cultura muçulmana. …Quando perseguições sobrecarregaram os Sefarditas em 1391 e lhes foi oferecida a escolha da conversão ou a morte, os números de convertidos excederam o número considerável de mártires. A própria novidade desta conversão em massa, singular à experiência judaica, induziu acadêmicos a procurar causalidade no alto grau de aculturação alcançada pelos Sefarditas”.[vii]

Todavia, não foi a aculturação que fez os espanhóis se voltarem contra os judeus. Foi, na realidade, o abandono dos judeus da coesão social e garantia mútua, traços que haviam (na maioria) lhes ganho a estima inconsciente das suas nações anfitriãs. “Comentadores medievais especialmente”, continua Gerber, “gostavam de colocar a culpa pelo rompimento da disciplina comunal na aculturação judaica, e alguns dos maiores historiadores judaicos modernos, tais como Itzhak Baer, citaram em acréscimo o impacto corrosivo da filosofia averroísta e o cinismo da classe judaica assimilada cortesã. Mas, na onda das conversões em massa e os agudos conflitos comunais, não foram somente os filósofos que sucumbiram em face da perseguição”. [viii] Em vez disso, a comunidade inteira sofreu.

Assim, conscientes ou não, os judeus foram afligidos e finalmente expulsos da Espanha porque haviam se tornado demasiado desunidos, esquecendo os poderes e o benefício que a união pode lhes trazer, e que os nossos sábios ensinaram a nossos antepassados durante gerações. O Livro do Zohar escreveu sobre a panaceia da união: “Porque eles são de um coração e uma mente… eles não falharão ao fazer o que lhes é proposto fazer, e não há ninguém que os possa impedir”. [ix]

Porém, O Livro do Zohar, que ressurgiu na Espanha praticamente alguns séculos antes da expulsão, não podia salvar os Judeus. Eles estavam simplesmente demasiado espiritual e culturalmente assimilados para se unirem e levarem a cabo seu intencionado papel de ser uma luz para as nações. E uma vez que não ajustaram seu curso por sua própria vontade, a Lei de Doação da Natureza, o Criador, o fez através das suas imediações, os cristãos espanhóis, a quem os judeus admiravam.

O classicista Inglês, escritor e professor na Universidade de Cambridge, Michael Grant, observou a incapacidade dos Judeus de se misturarem: “Os Judeus provaram-se não assimilados, mas inassimiláveis. …A demonstração de que isto era assim provou um dos pontos de mudança mais significativos na história grega, devendo à influência gigantesca exercida durante as eras subsequentes pela sua religião, que não só sobreviveu intacta, mas subsequentemente deu à luz ao cristianismo”. [x]

Da mesma forma, o bispo do século XVIII, Thomas Newton, escreveu sobre os judeus: “A preservação dos judeus é realmente um dos atos mais sinalizadores e ilustres da Providência divina… e o quê senão um poder sobrenatural teria os preservado de tal maneira como nenhuma outra nação na terra havia sido preservada. Nem é a Providência de Deus menos marcante com a destruição de seus inimigos, que na sua preservação… Nós vemos que os grandes impérios, que por sua vez subjugaram e oprimiram o povo de Deus, todos chegaram à ruína… E se tal foi o fim fatal dos inimigos e opressores dos judeus, que sirva de aviso a todos aqueles, que em qualquer tempo ou em qualquer ocasião sejam a favor de levantar um clamor e perseguição contra eles”. [xi]

Porque, como mencionado no Capítulo 4, os judeus representam no nosso mundo a parte da alma de Adão que alcançou unidade de corações e assim conexão com o Criador, e como o seu papel espiritual é o de espalhar essa união e conexão resultante ao resto das nações, as nações rejeitam as tentativas dos judeus de se parecer com elas. Não é um ato de escolha consciente, mas um impulso compulsivo que vem sobre elas do próprio pensamento da Criação. Isto só raramente chega à superfície da consciência dos perpetradores da aflição, mas eles executam isso infalivelmente.

Um incidente marcante do pensamento da Criação surgindo na consciência do perpetrador ocorreu numa fatídica e trágica noite em 1492. Em O Judeu no Mundo Medieval: Um Manual: 315-1791, o acadêmico de história judaica, Rabi Jacob Rader Marcus, detalha os eventos que ele descobriu terem ocorrido. “O acordo permitindo que eles [Judeus] permanecessem no país [Espanha] através do pagamento de uma grande soma de dinheiro era praticamente completado quando era frustrado pela interferência de um prior chamado de Prior de Santa Cruz. [Uma lenda relata que Torquemada, Prior do convento de Santa Cruz, esbravejou, com crucifixo em cima, ao Rei e a Rainha: ‘Judas Iscariotes vendeu seu mestre por trinta peças de prata. Sua Alteza o venderia novamente por trinta mil. Aqui está ele, leve-o Papara longe e leiloe-o’]”. [xii] O que aconteceu a seguir ilustra que o que quer que aconteça, os judeus estão obrigados a ser o que são, e a fazer o que devem fazer. “Então a Rainha deu uma resposta aos representantes dos judeus, semelhante ao dizer do Rei Salomão [Provérbios 21:1]: ‘O coração do rei é como um rio controlado pelo Senhor; ele o dirige para onde quer’. Ela acrescentou: ‘Acreditais que isto vem sobre vós de nós? O Senhor havia colocado esta coisa no coração do rei’”.[xiii]

Certamente, os judeus foram expulsos não só por terem deixado de ter valor econômico aos espanhóis. Os judeus haviam sido reconhecidos como um bem econômico durante séculos. Na realidade, quando eles foram expulsos da Espanha, muitos deles fugiram para a Turquia, que os acolheu precisamente devido a sua contribuição para a economia de seu país anfitrião. Desta forma, o Sultão Otomano, Bayezid II, estava tão deleitado com a expulsão dos judeus da Espanha e sua chegada à Turquia que é relatado que ele “sarcasticamente agradeceu a Fernando por lhe enviar alguns dos seus melhores súditos, empobrecendo assim suas próprias terras enquanto enriquecia as dele (de Bayezid)”. [xiv] Outra fonte relata que “quando o Rei Fernando, que expulsou os judeus da Espanha, foi mencionado na sua presença [de Bayezid], ele disse: ‘Como podeis considerar o Rei Fernando um sábio governante quando ele empobreceu sua própria terra e enriqueceu a nossa?’” [xv]

Repetidamente, nós descobrimos que não é a nossa astúcia que nos concede o favor da nação. Em vez disso, é a nossa unidade, pois ela projeta sobre eles a luz, ou em vez disso o deleite que eles supostamente receberiam através de nós no pensamento da Criação. Nas palavras do escritor e pensador, Rabi Hillel Tzaitlin, “Se Israel é o verdadeiro redentor do mundo inteiro, ele deve primeiro redimir sua própria alma… Mas como ele redimirá sua alma? …Irá a nação, que está em ruínas tanto em matéria como em espírito, se tornar uma nação feita inteiramente de redentores? …Para esse propósito, eu quero estabelecer com este livro a ‘união de Israel’ …Se fundada, a unificação de indivíduos será pelo propósito da ascensão interior e uma invocação para correções de todos os males da nação e do mundo”. [xvi]

Certamente, até mesmo se reivindicarmos todos os Prêmios Nobel daqui até o Juízo Final, por todos os benefícios que as concretizações cientificas trazem à humanidade, não ganharemos crédito, mas aversão. Nós podemos produzir os melhores físicos, os mais ilustres economistas, os mais brilhantes cientistas e os mais inovadores empresários, mas até que produzamos a luz, o poder que suscitamos através da união, as nações nunca nos aceitarão, e nós nunca justificaremos nossa existência neste planeta.

[i] William Whiston, Os Trabalhos de Flavius ​​Josephus, 565.

[ii] ibid.

[iii] Flávio Josefo, Antiguidades dos Judeus, XIV, 115.

[iv] “Diáspora” A Enciclopédia Judaica, url: http://www.jewishencyclopedia.com/articles/5169-diaspora.

[v] Norman Roth, Judeus, Visigodos e Muçulmanos na Espanha Medieval: cooperação e conflito (Holanda, EJ Brill, 1994), 2.

[vi] ibid.

[vii] Jane S. Gerber, Os Judeus da Espanha: A História da Experiência Sefardita (Nova Iorque, Free Press, 2 de novembro de 1992), edição Kindle.

[viii] ibid.

[ix] Rabi Shimon Bar Yochai (Rashbi), O Livro do Zohar (com o Comnetário Sulam [Escada] de Baal HaSulam, Noah, vol. 3, inciso 385 (Jerusalém), 132.

[x] Michael Grant, De Alexander à Cleopatra: O Mundo Helenístico (New York: Charles Scribner & Sons, 1982), 75.

[xi] Citado em O Tesouro das Citações Espirituais e Religiosas (Readers Digest, 01 de janeiro de 1994 dos EUA,), 280.

[xii] Jacob Rader Marcus, O Judeu no Mundo Medieval: Um Manual: 315-1791 , (US: Hebrew Union College Press, 1999), 60-61.

[xiii] ibid.

[xiv] Dr. Erwin W Lutzer com Steve Miller, A Cruz na Sombra do Crescente: Uma Resposta Informada á Guerra do Islã com o Cristianismo (Harvest House Publishers, Oregon, 2013), de 65 anos.

[xv] Israel Zinberg, História da Literatura Judaica: O Centro da Cultura Judaica no Império Otomano, Vol 5 (New York, Ktav Pub House, 1974.), 17.

[xvi] Hillel Tzaitlin, O Livro de Alguns (Jerusalém, 1979), 5.