“O Significado De Ser Judeu” (Times Of Israel)

Michael Laitman, no The Times of Israel: “O Significado De Ser Judeu

Recebi um e-mail de um homem que se converteu ao judaísmo em uma sinagoga reformista no Arizona, EUA. Para sua consternação, ele descobriu que sua conversão não era reconhecida pelas denominações conservadora e ortodoxa. Como resultado, ele começou a pesquisar o significado de ser judeu e me perguntou o que a sabedoria da Cabalá e o Livro do Zohar dizem sobre isso.

Para começar, a sabedoria da Cabalá não se relaciona com o corpo de uma pessoa ou com suas ações materiais. Ela fala e se relaciona apenas com os desejos do coração da pessoa, e como nos ajudar a nos unir uns com os outros e com o poder da unidade, o Criador. Como resultado, a sabedoria da Cabalá não se relaciona com a religião formal de uma pessoa, mas apenas com seu estado espiritual. Em outras palavras, uma pessoa pode ser judia e membro da nação israelense em um momento, e um gentio (não-judeu) em outro. Ao mesmo tempo, alguém pode nascer em uma religião totalmente diferente, mas ser considerado um membro do povo de Israel no sentido espiritual. Espero que minha explicação abaixo esclareça o que quero dizer com essas declarações, que sei que surpreenderão muitas pessoas.

A palavra hebraica para “judeu” é Yehudi, da palavra yechudi [único ou unido]. A unidade é o coração e a alma do judaísmo, e particularmente a unidade acima das diferenças e divisões. O rei Salomão disse (Provérbios 10:12): “O ódio provoca contendas, e o amor cobrirá todos os crimes”. O Livro do Zohar (porção Aharei Mot) descreve a relação entre unir-se precisamente acima do ódio, e o que isso significa para o mundo inteiro: “’Quão bom e quão agradável é que os irmãos também vivam juntos’. Estes são os amigos, pois eles se sentam juntos inseparavelmente. A princípio, eles parecem pessoas em guerra, desejando se matar. Então ‎eles voltam a estar no amor fraterno.‎ …E vocês, os amigos que estão aqui, como vocês estavam em carinho e amor antes, não se separarão doravante … e por seu mérito haverá paz ‎no mundo”.

Os ancestrais do povo de Israel se uniram tão profundamente que se tornaram um, ou como o grande comentarista RASHI descreveu, “como um homem com um coração”. Apenas uma vez que eles alcançaram essa profunda unidade, eles foram proclamados uma nação, tendo se unido com o poder de doação que nos referimos como o Criador, e uns com os outros. Uma vez que eles alcançaram essa unidade, eles foram ordenados a conduzir o mundo à unidade, como o Profeta Isaías (42:6-7) descreveu: “Eu te designarei como … uma luz para as nações, para abrir os olhos dos cegos, para tira os presos do cárcere, e da prisão os que habitam nas trevas”.

De fato, se examinarmos a ascendência dos fundadores da nação de Israel, descobriremos que o maior deles tinha raízes não-judaicas. Eles alcançaram a grandeza porque uniram o povo, não por algum privilégio ancestral. Abraão, o fundador de nossa nação, não nasceu judeu; a nação não existia antes do seu tempo. A esposa de Moisés, Zípora (Séfora), liderou as mulheres do povo de Israel junto com a irmã de Moisés, Miriã, depois que eles saíram do Egito e cruzaram o Mar Vermelho. Rabi Akiva, o maior sábio depois de Moisés, cujos discípulos escreveram O Livro do Zohar e a Mishná (a base do judaísmo), nasceu de pais que não nasceram judeus. Outro dos maiores discípulos de Rabi Akiva, Rabi Meir, que é o terceiro sábio mais frequentemente mencionado na Mishná, e cuja esposa Bruriah é citada na Gemara, descenderam do imperador romano Nero. E por último nesta lista, mas certamente não menos importante, Rute, a moabita, a heroína da história bíblica, foi a bisavó do maior rei de Israel, o rei Davi, e cuja dinastia foram os reis do povo de Israel por séculos, durante os melhores tempos de Israel.

Vemos, portanto, por que a sabedoria da Cabalá não presta atenção à ancestralidade física da pessoa. Se uma pessoa acredita que a unidade de todas as pessoas é o valor final, que tudo o mais é secundário a ela, e se esforça para unir todas as pessoas “como um homem com um coração”, no sentido espiritual, essa pessoa é considerada um membro do povo de Israel.

Do ponto de vista espiritual, como a sabedoria da Cabalá o vê, ser judeu não tem nada a ver com a cor ou credo de alguém. O único “teste” é se a pessoa luta pela unidade ou pelo egocentrismo. Enquanto ela escolhe a unidade, é Israel. Se você já assistiu a uma de minhas aulas, verá que tenho alunos de todo o mundo e de todas as etnias e origens. A única coisa que nos une é a nossa aspiração de se unir acima de todas as diferenças. Esse é o povo espiritual de Israel.