O Meio Termo Entre O Misticismo E A Escolástica

Dr. Michael LaitmanEu tenho um problema: Se eu revelar alguma coisa, eu a revelo apenas como todas as outras criaturas, ou seja, nos mesmos vasos e com a mesma mente que todos os outros têm.

Por exemplo, eu descobri um fenômeno novo na física quântica. Obviamente, eu não posso falar sobre ele com qualquer dona de casa, mas há um círculo de pessoas que podem me entender. Nós desenvolvemos uma linguagem especial para descrever essas coisas, e, em princípio, qualquer um pode aprender. Em geral, todos têm uma base, e a única coisa que falta é o seu desenvolvimento sensível e racional.

Por outro lado, o desenvolvimento da sensibilidade e da razão não vai me ajudar. Uma pessoa pode se equipar com milhares de lentes, conectar radares aos ouvidos, e microscópios e telescópios aos olhos: nenhum instrumento ou sensor vai fazer qualquer bem. Nós estamos falando de uma percepção que não se fundamenta em nenhuma criatura na Terra. Muitos animais têm uma ampla gama de sensações em relação às pessoas, mas nós não estamos falando disso. Há pessoas muito inteligentes e perspicazes, cuja capacidade de perceber e analisar é muito maior do que a minha, mas essa não é a questão.

Nós estamos falando de algo que não está em nosso mundo, sobre a criação de uma nova sensação, uma nova percepção e análise que não existe aqui. Este órgão sensorial é chamado de “parte do Criador acima”. A pessoa que adquire este órgão deve ser semelhante ao Criador. Então ela sente algo semelhante ao Criador; ela decifra e identifica o Criador e a si mesma, e a relação entre eles neste órgão sensorial que é de alguma forma semelhante ao Criador. Conforme a sensação de adesão com o Criador, a pessoa pode falar sobre o que vem Dele: sobre o plano e o propósito de nossa criação, sobre o processo que passamos, e todos os eventos e situações no mundo.

Hoje, nós somos capazes de estudar a nossa existência nos níveis inanimado, vegetal e animal, mas não há nada que possamos aprender sobre o nível humano até chegarmos a conhecer o Criador, pelo menos até certo ponto. Assim, um Cabalista não pode nos dizer sobre a sua realização espiritual, porque esta é percebida no outro órgão sensorial que não tem comparação com os que temos. É impossível falar disso da mesma maneira que eu falo sobre os limites de nosso mundo.

Nesse mundo, mesmo que a pessoa não tenha um órgão sensorial, ainda podemos explicar algo a ela por analogia. Mas não há nada análogo ou semelhante ao sentido espiritual. Nós não seremos capazes de saber até alcançá-lo. Mesmo na fase de preparação, sem entrar na espiritualidade, nós percebemos como os detalhes da percepção mudam, como, de repente, se invertem e voltam novamente…

Portanto, por que os Cabalistas dão explicações?

Para aproximar as pessoas, a fim de lhes dar ao menos um primeiro ponto de contato correto. E mesmo que este não seja um contato real, ainda permite que elas evoquem a Luz que Reforma. Então, as pessoas podem se mover em direção à revelação.

Algumas “só pegam” esta revelação de cima. Como e por que não é problema nosso. Isso não vem até nós de uma só vez, mas metodicamente: um desejo oculto é revelado na pessoa, e ela se esforça e avança em resposta.

Se ela quer passar a sua revelação para os que ainda têm nada, ela deve estabelecer uma conexão com eles. Esta conexão a essência de uma linguagem, um código que podemos usar para falar uns com os outros sobre coisas que só um ou mesmo nenhum de nós compreende e nos quais nos baseamos é o que lemos no livro.

Por isso, é necessário entender como é difícil para os Cabalistas chegar e explicar alguma coisa para as pessoas que ainda não entraram no mundo espiritual. Na verdade, nem mesmo explicar, mas progredir. É por isso que chamamos o nosso estudo de “um meio especial”. Afinal de contas, não se trata da compreensão e nem mesmo da sensação: nós só precisamos pensar nesse meio, como é dito: “Eu trabalhei e encontrei”.

Isso levanta uma questão: Qual é a linguagem mais adequada para isso? De que forma os Cabalistas chegam até nós, para que não apenas aprendamos recebendo algum conhecimento abstrato, mas, ao mesmo tempo, não sejamos empurrados ao misticismo? Como é que eles nos mantêm longe do apelo nda mente e dos sentidos? Como é que eles nos protegem de fitas vermelhas e bênçãos, assim como cair na escolástica? Como é que eles nos guiam através do “meio termo”, a linha do meio, para que estudemos, estejamos imbuídos do sentido, e atuemos no grupo corretamente?

Isso só é possível com a ajuda de meios especiais que às vezes chamamos de “jogo”. Este é, de fato, um conceito muito sério que ilustra um pouco melhor o nosso relacionamento com o superior: nós realmente queremos estar no Seu nível, mas não chegamos ainda.

Da 4ª parte da Lição Diária de Cabalá 25/11/12, “A Essência da Sabedoria da Cabalá”