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A Época Da Livre Escolha

Dr. Michael LaitmanÉ difícil falar sobre o Holocausto porque este tema está intimamente ligado aos sentimentos das pessoas. É mais fácil discutir as guerras que ocorreram milhares de anos atrás, apesar de terem sido muitas vezes travadas entre os nossos povos, por exemplo, entre os judeus helenistas e aqueles que aderiram aos princípios fundamentais. No geral, o povo de Israel certamente comnadou muitas guerras com os inimigos externos: os romanos e outros.

Nós sabemos que todas as guerras passadas foram resultado de Israel não cumprir o seu objetivo. Sabemos da Tanach e Gemara que se o povo de Israel agisse corretamente, nenhuma nação reinaria sobre nós. Baal HaSulam escreve sobre isso no artigo “Arvut (Garantia Mútua)”. Mesmo antes, o Ari tinha dito que se tivéssemos permanecido como fiadores uns dos outros, como no período do Primeiro Templo, e se não tivéssemos caído dele, as forças impuras não teriam ganhado poder sobre nós.

No entanto, a nossa queda estava prevista no programa da criação, de modo que neste mundo, como analogia do mundo espiritual, passaríamos pela quebra dos reis de DaHGaT (a destruição do Primeiro Templo) e a quebra dos reis de TaNHYM (a destruição do Segundo Templo). Em nosso mundo material nós também tínhamos que passar por essas duas quebras, e é por isso que caímos do nível espiritual até o fundo.

Na época, o rabino Akiva riu quando viu o terreno baldio no lugar do Templo. “Eu nunca acreditei que isso iria acontecer”, disse ele, “e desde que o Segundo Templo foi destruído, agora não há dúvida de que o terceiro se levantará e que a redenção completa virá”. Portanto, essas duas destruições e o longo exílio foram necessários. Pode-se dizer que ainda não havia liberdade de escolha: todos os estados eram determinados pela interação da Luz com o vaso no caminho.

E hoje, quando chegamos ao nível mais inferior e atingimos o maior egoísmo, um novo mundo está começando a emergir. Ele já está “arredondando”, já manifesta a quebra, e como o Baal HaSulam diz, nós estamos no limiar da redenção.

Como conseqüência, novas leis estão agora agindo em nós, não os princípios “mecânicos” que anteriormente nos impulsionavam juntamente com toda a humanidade. Em paralelo com o seu desenvolvimento, nós passamos por vários estados de subidas e descidas por todo o caminho até o presente momento, mas deste ponto em diante, uma nova época está começando, a era da livre escolha.

Após a quebra, após a queda e a inclusão mútua com o mundo, hoje tudo está pronto para a correção. Nós somos os únicos que percebem essa correção através das boas ações e do pedido que vem das almas quebradas. No entanto, essas almas perdidas não são capazes de pedir e realizar boas ações. O que podemos fazer?

Nós estamos tentando nos unir num todo, como antes da quebra, antes da destruição do Templo. Mesmo se não possamos realizar isso, os nossos esforços é que são as “boas ações”. Eu continuo tentando até o momento em que imploro por ajuda, até eu clamar: “Salva-me”. Dessa forma eu elevo MAN, o pedido de correção e, em resposta, a ajuda vem do Alto, chamada MAD.

E nisso nós temos livre-arbítrio: podemos acelerar nossa história, o processo que temos de percorrer. Se não realizarmos a cada segundo tudo que somos capazes, através de nossa livre escolha, então o estado em falta e não realizado não chega como um amanhecer muito aguardado na propriedade da misericórdia (Hassadim), mas transforma-se nas propriedades de superação (Gevurot). Como conseqüência, no lugar de “águas paradas” surge “águas turbulentas”, em vez das águas de Bina surgem as águas do dilúvio, e assim por diante. Em vez de avançar no caminho da Torá e da Luz, no amai ao próximo como a si mesmo, nós vagamos, impulsionados por problemas que não nos fazem avançar, mas simplesmente nos obrigam a realizar as ações que perdemos. Afinal de contas, de uma forma ou de outra, somos obrigados a completá-las.

Isso levanta uma pergunta. No começo, eu era capaz de produzir determinada ação, auxiliado pela unificação dentro do grupo, através da compreensão e do sentimento, da inclusão mútua com os amigos, apoio mútuo, e assim por diante. Eu conseguia alcançar isso sem uma necessidade premente, mesmo que isso significasse aumentar artificialmente a importância desta ação aos meus olhos. Mas agora, quando estou sendo estimulado por catástrofes e pela necessidade, será que estou realmente realizando o meu livre arbítrio? Não. Será que eu estou indo em direção ao fim da correção como um animal que foge dos golpes de um chicote? E este é o desenvolvimento espiritual? Onde está o livre arbítrio nisso?

A única coisa é que as desgraças vão nos levar a pensar e refletir, e através de sua ajuda, vamos começar a tatear e reconhecer o mal. No entanto, para isso, teremos que pagar, e neste caso a nossa livre escolha será muito mais complexa e multifacetada. Afinal, não existem concessões aqui; a pessoa ainda tem de ir pelo seu livre arbítrio através de cada degrau dos 125 degraus da subida, desde o ponto mais baixo até o fim da correção. Caso contrário ela não será um “ser humano”.

Assim, nós elevamos um pedido de correção (MAN) e receber uma resposta (MAD) de Bina. Se isso não acontecer, nós fazemos a transição para as propriedades da superação, Gevurot. Isso significa miséria e desastres, tanto pessoais quanto coletivas, incluindo o Holocausto. Em geral, este processo assola toda a humanidade, mas o povo de Israel é afetado várias vezes mais, uma vez que não está cumprindo sua função.

No final da “Introdução ao Livro do Zohar“, Baal HaSulam escreve sobre o fato de que o mundo está dividido em duas partes: interna e externa, “Israel” e as “nações do mundo”. “Israel” também é dividido em duas partes: a interina inclui aqueles que estudam a sabedoria da Cabalá para se corrigir, e a externa inclui aqueles que não se preocupam com a correção. Por sua vez, a parte interna das “nações do mundo” é seus “justos”, e a parte externa é seus “ímpios”, “aqueles que causam danos”.

Um mecanismo de conexão age dentro deste sistema: a maneira como as duas partes se relacionam dentro de “Israel” é a mesma como elas se relacionam dentro das “nações do mundo”. Portanto, quando aqueles que estudam a sabedoria da Cabalá se elevam, correspondentemente, dentro das “nações” as pessoas que anseiam por união e boa convivência também ganham força.

Inversamente, se “Israel” ignora a Torá, a sabedoria da Cabalá, em outras palavras, se desconsidera o seu propósito, então, dentro da “nações” a pirâmide também se inverte: os externos se elevam e tomam o poder sobre todo o mundo . Claro, esses eventos são de longo alcance e têm um impacto negativo sobre “Israel”, cuja mensagem e propósito descem, dando lugar no topo aos ímpios e lançando ao fundo aqueles que estudam a Cabalá e que estão perto de espiritualidade. Assim é como a “hierarquia do poder” é colocada.

Isto é o que aconteceu conosco nos tempos de Hitler. Israel agiu em contrariedade com o seu papel, preferindo a materialidade à espiritualidade e, com isso, dentro das nações do mundo a parte destrutiva elevou-se acima do bem, até que a pirâmide inverteu-se. Nesse ponto, “aquele que traz dano” surgiu e fez o seu trabalho.

Da 4ª parte da Lição Diária de Cabalá 19/04/2, Dia em Memória ao Holocausto