Textos arquivados em ''

Uma Convenção Pelo Método De Abraão

Dr. Michael LaitmanPergunta: Será que quem for à Convenção encontrará sua alma e começará a vida espiritual?

Resposta: Ele vai tentar fazer isso. Talvez, isso seja alcançado não de uma só vez, mas ele certamente irá se mover na direção certa.

Por isso, os Cabalistas convidam muitas pessoas de todos os lugares para a sua Convenção, a fim de se unir. Nós cantamos, dançamos, ouvimos conversas, palestras, realizamos workshops em círculos, e temos reuniões de amigos (Yeshivat Haverim). Milhares de pessoas de todo o mundo se reúnem, desde os locais mais remotos, como Austrália, Nova Zelândia, América do Sul, Japão e China.

Os Cabalistas reúnem todas essas pessoas e as ensinam a se conectar mutuamente, de acordo com o mesmo método que foi estabelecido por nosso antepassado Abraão.

Portanto, nós aumentamos o poder da nossa conexão com cada Convenção. Aos poucos, nós chegamos a tal conexão, a qual será suficiente para revelar o nosso próximo estado, o grau superior, o mundo espiritual. Este é o objetivo das Convenções Cabalísticas.

De KabTV “Uma Nova Vida” 08/02/15

Um Mosaico De Desejos

Dr. Michael LaitmanEu não preciso mudar meus desejos. Eu não preciso limitar, quebrar ou suprimi-los, mas apenas dirigi-los adequadamente ao objetivo certo.

Está escrito: A Torá, “Levítico” 21: 5: Não farão calva na sua cabeça, e não raparão as extremidades da sua barba, nem darão golpes na sua carne.

Primeiro eu escolho dois desejos e descubro como posso conectá-los para que juntos eles alcancem o próximo nível ao se unir neste nível num todo. Depois, no próximo nível, eles vão encontrar mais desejos que também podem se conectar e se unir a fim de atingir uma união completa naquele nível. Isto continua de acordo com uma hierarquia, até que o desejo mais superior conecta todos os outros desejos de tal forma que o Criador possa ser revelado.

Embora os desejos estejam conectados e focados na unidade, eles são diferentes. O resultado é um mosaico, onde cada parte complementa as outras até que elas atinjam a perfeição. Por um lado, a perfeição é revelada nele, mas, por outro lado, nós vemos diferentes partes, cores e formas.

Nós podemos ler este mosaico e compreender a sua unidade, uma vez que ele é feito de muitas partes. Se fosse a simples revelação e clareza da unidade na forma de uma Luz branca, seria muito mais difícil para nós entender isso. Mas, quando um mosaico de desejos joga todo um arco-íris de cores, nós percebemos isso como uma melodia.

Pergunta: Este colorido não muda para uma única cor mais tarde?

Resposta: Ele é percebido como um todo, mas, na verdade, é feito de muitos tons. Caso contrário, não seríamos capazes de sentir algo.

Nós ouvimos a harmonia na música, e apesar de existirem milhares de sons e diferentes transições, nós percebemos tudo como uma harmonia geral, como uma unidade. Mas se nós simplesmente espalhássemos o sistema de notas (a partitura) em seus componentes, pareceria como se não houvesse unidade.

Na verdade, é por esta razão que quando pessoas de diferentes nacionalidades, mentalidades e profissões se reúnem, elas podem chegar a um único objetivo, um único desejo. Quanto mais nós subimos rumo à unidade, maior será a diferença sentida entre nós, para que possamos alcançá-la.

De KabTV “Segredos do Livro Eterno” 23/04/14

Como Uma Única Pessoa No Domínio Privado

Laitman_931-03Escritos do Rabash, Vol. 2, “Igrot” (Cartas) # 42: Como eles poderiam ser como um homem com um coração? Afinal, o que os sábios disseram é bem conhecido: “Assim como seus rostos são diferentes, suas opiniões são diferentes” (Talmud Yerushalmi Berachot, Capítulo 9, Coluna3, Halachah 1). Portanto, como eles poderiam ser como um homem com um coração?

Se nós estamos dizendo que todos estão preocupados com suas próprias necessidades, nós descobrimos que é impossível ser como um só homem. Certamente eles não são um como o outro. Contudo, se todos anulam seus próprios domínios, e estiverem preocupados apenas em beneficiar o Criador, então, suas opiniões não são individuais, uma vez que toda a individualidade foi anulada, e todos entram no domínio privado.

E esta é a ideia do que estava escrito, “o conhecimento dos habitantes é oposto ao conhecimento da Torá”. Isso ocorre porque o conhecimento da Torá é a anulação dos domínios privados, como os sábios disseram: “A Torá não é sustentada, exceto por alguém que se mata por ela”. Quando ele se mata por ela, isto ocorre por seu próprio benefício, e tudo o que ele faz é apenas em prol do céu. E isso é chamado de preparação para receber a Torá.

Nós sentimos a realidade dentro do nosso vaso, que é chamado desejo de prazer. Cada um serve este vaso, que ele recebe desde o início, e faz de tudo para preenchê-lo. Eu sempre faço um cálculo: quanto de esforço tenho que fazer para o benefício esperado? Vale a pena ou não vale a pena fazê-lo? Quanto eu preciso investir para ver o preenchimento dentro do meu vaso? É assim que existimos de momento a momento.

A minha dependência do meu vaso só pode ser anulada se nos conectarmos uns com os outros, e se concordarmos com isso, se começarmos a encontrar novos espaços na conexão entre nós que não sentíamos antes.

Afinal de contas, nós olhamos para tudo do ponto de vista do nosso desejo egoísta que domina toda a matéria, nos níveis inanimado, vegetal, animal e humano. Desta forma, nós obtemos impressões da nossa realidade interior, embora nos pareça ser uma realidade externa. Na verdade, este é o meu mundo interior que está gravado no meu desejo pessoal de prazer.

Os níveis inanimado, vegetal, animal e humano da natureza são os níveis 0, 1, 2, 3, 4: os níveis do meu desejo de receber onde sinto a minha realidade. Meu ego se encontra entre eu e os outros, separando-nos e fazendo com que eu me sinta só.

Se eu tento anular esta tendência de modo a poder chegar à conexão com o Criador através desta anulação eu descubro que há outro espaço que é diferente do espaço do desejo de receber egoísta. Eu começo a sentir que estou num novo espaço, num mar de forças de doação.

Todas essas forças que são descobertas na anulação do ego, me trazem a sensação do Criador, e, apesar de eu ter uma leve impressão disso, a fim de realmente descobri-Lo, eu preciso de um meio mais forte. Afinal de contas, eu só posso anular o ego e usá-lo em prol da doação através da força superior. Eu descubro que não tenho chance, nenhuma possibilidade, de alcançar a anulação pessoal através dos meus próprios poderes e compreensão.

Assim, está escrito: “A Torá não é sustentada, exceto por alguém que se mata por ela”. No entanto, a fim de me matar em prol da Torá, em outras palavras, em prol da correção, eu exijo a força superior. Como está escrito: “E a regra dos proprietários é o oposto da regra da Torá”. Quando uma pessoa começa a obter observações através do poder da Luz, tanto suas emoções como seu intelecto se tornam novos e completamente diferentes.

Assim, ela entende que todas as contradições que tinham eram apenas estímulos para a busca de soluções. No entanto, resolvê-los só é realmente possível através da Luz Superior.

De acordo com o ramo e a raiz, nós estamos no início do feriado de Shavuot, a festa da entrega da Torá. O feriado de Shavuot começa à noite e é dividido em dia e noite. Noite simboliza os dias de exílio, que são reunidos para a noite de Shavuot, de modo que nós aprendemos na noite de Shavuot porque queremos terminar o exílio e chegar ao seu fim.

Depois disso, nós decidimos que provavelmente já investimos o suficiente na anulação pessoal, e, assim, chegamos ao dia e à noite, os mesmos Kelim se transformam em Kelim de revelação. É assim que chegamos ao festival de Shavuot, a festa da entrega da Torá, e desde então, gradualmente, podemos avançar e constantemente corrigir todos os defeitos e aprender o quanto podemos ser como o Criador quando descobrimos como somos diferentes Dele.

Essa diferença entre a verdade e a imagem nos dá profundidade na compreensão do Criador, e, a partir desta profundidade, chegamos à adesão.

Da Preparação para a Lição Diária de Cabalá 01/06/14

Numa Pequena Jangada

Laitman_716_01Pergunta: Se cada pessoa que nos deixa está fazendo um buraco em nossa conexão, será que o nosso barco não está cheio de buracos?

Resposta: Não, essas pessoas não participavam da conexão e não tinham a intenção de estar integradas nela. Portanto, nós as afastamos de nós; simplesmente as jogamos no mar, em nosso mar coletivo egoísta chamado Malchut.

Pergunta: Quem está neste barco?

Resposta: No barco estão aqueles que querem estar no navio. O navio é o Masach (tela) que nos conecta, que nos une. Este navio é o início do Kli, a primeira condição para estarmos no navio de modo a não nos afogarmos no grande mar de nossas forças impuras (Sitra Achra).

No barco estão os “pontos no coração”, e sob ele está o grande mar de nosso ego. E o navio é usado como um Masach protetor, como uma jangada em que nos conectamos com nossos pontos no coração e não afundamos. À nossa volta, as ondas agitadas do mar tempestuoso de Sitra Achra nos assolam.

Da 5ª parte da Lição Diária de Cabalá 02/06/14, Escritos do Baal HaSulam

Guarda Minha Alma

laitman_562_02Salmos 86:1-2: Uma oração de Davi. Inclina Senhor os Teus ouvidos; ouve-me, porque estou necessitado e aflito.

Guarda a minha alma, pois sou santo: ó Deus meu, salva o Teu servo, que em Ti confia.

Piedoso (Hassid) é aquele que pede uma coisa: não ser separado do Criador. Portanto, todos os cânticos dos Salmos, todos os pedidos e orações, só falam disso: de não se perder a confiança de que o Criador é o único poder que maneja e sustenta a pessoa e tudo o que se encontra dentro dela, mas que é retratado por ela como um mundo externo e uma realidade mutável que atravessa encarnações diante e dentro dela.

Tudo isso vem de um poder superior, e a pessoa quer se aderir permanentemente a este fato até descobrir isso com toda a sua força, alcançando, assim, a adesão constante com o Criador em todos os desejos e pensamentos, no coração e na mente. Ela se torna um Hassid que só quer se aderir à orientação superior acima de todos os distúrbios e problemas. Assim, ela desperta os distúrbios em si mesma para trazer à tona todas as suas habilidades e estar em adesão com o Criador.

A pessoa pede apenas uma coisa: ajuda para não ser separada do pensamento de que “Não há outro além Dele” e o reconhecimento de que ela deve estar envolvida apenas com o Poder Superior. E isso não é porque ela está preocupada consigo mesma e quer se sentir melhor, mas porque com isso quer dar satisfação ao Criador.

Da Preparação para a Lição Diária de Cabalá 15/05/14

Como Um Feixe De Juncos – Uma Nação Nasce, Parte 1

Like A Bundle Of ReedsComo um Feixe de Juncos, Por que Unidade e Garantia Mútua são Urgentes Hoje, Michael Laitman, Ph.D.

Capítulo 1: Uma Nação Nasce

O Nascimento do Povo de Israel

Antes de mergulharmos no significado e posição do povo de Israel no mundo, precisamos olhar para a razão pela qual a nação Israelita se formou, e como essa formação se revelou. Vamos, por um momento, viajar praticamente seis mil milhas para o leste, e praticamente quatro mil anos no passado, para a antiga Mesopotâmia, o coração do Crescente Fértil, o berço da civilização. Situada dentro de um vasto e exuberante trecho de terra entre os rios Tigre e Eufrates, no que hoje é o Iraque, a cidade-estado Babilônia representava-se anfitriã para uma civilização florescente. Explodindo com vida e ação, ela era o centro do comércio do mundo antigo.

A Babilônia, o coração dessa civilização dinâmica, era uma panela de pressão, um substrato ideal sobre o qual uma miríade de sistemas de crença e ensinamentos cresceram e floresceram. Os Babilônios praticavam muitos tipos de idolatria. O Sefer HaYashar [O Livro do Justo] descreve a vida dos Babilônios nessa altura, e como eles adoravam: “Todas as pessoas da terra faziam, cada uma, seu próprio deus nesses dias, deuses de madeira e pedra. Elas os adoravam, e estes se tornavam deuses para elas. Nesses dias, o rei e todos seus servos, e Terah [pai de Abraão] e toda a sua família, foram os primeiros entre os adoradores de madeira e pedra. … [Terah] os adoraria e se dobraria a eles, e assim fez o todo dessa geração. Todavia, eles haviam abandonado o Senhor, que os havia criado, e não havia um único homem em toda a terra que conhecesse o Senhor…” [i]

Ainda assim, o filho de Terah, Abraão, que ainda era chamado pelo nome de Abrão, possuía uma certa qualidade que fazia dele único: ele era extraordinariamente perceptivo, com um zelo cientifico pela verdade. Abraão era também uma pessoa preocupada, que reparou que o povo da sua cidade estava tornando-se crescentemente infeliz. Quando ele refletiu sobre isso, descobriu que a causa da sua infelicidade era o crescente egoísmo e alienação que se apoderavam deles. Dentro de um período de tempo relativamente curto, eles declinaram da união e preocupação mútua, tendo sido “De uma língua e uma fala” (Génesis 11:1), para a vaidade e alienação, dizendo “Vinde, construamos uma cidade, e uma torre, cujo cume toque nos céus, e façamos para nós mesmos um nome” (Génesis, 11:4).

Na realidade, eles estavam tão preocupados em construir sua torre de orgulho que se esqueceram completamente das pessoas que anteriormente eram como parentes para eles. A composição, Pirkey de Rabi Eliezer (Capítulos de Rabi Eliezer), um dos Midrashim (comentários) na Torá (Pentateuco), oferece uma descrição vívida não só da vaidade dos Babilônios mas também da alienação com a qual eles se consideravam uns aos outros. O livro escreve, “Nimrod disse a seu povo, ‘Construamos uma grande cidade e moremos nela, caso contrário ficaremos dispersos pela terra como os primeiros, e construamos uma grande torre dentro dela, subindo em direção aos céus … e façamos para nós um grande nome na terra…’

“Eles a construíram alta… aqueles que trariam os tijolos subiam pelo seu lado oriental, e aqueles que desciam dela, desciam pelo seu lado ocidental. Se uma pessoa caísse e morresse, eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse, eles se sentariam e chorariam e diriam, ‘Quando virá outro em seu lugar’”. [ii]

A atitude dos conterrâneos de Abraão uns para com os outros o incomodava, e ele iria até lá e observaria a conduta dos construtores. Pirkey de Rabi Eliezer continua a descrever suas observações da sua animosidade mútua: “Abraão, filho de Terah, passou e os viu construir a cidade e a torre”. Ele tentou falar com eles e lhes contar sobre o Criador, a força governante da união que havia descoberto, para atestar que as coisas seriam ótimas somente se eles também seguissem a lei da união. “Mas eles abominaram suas palavras”, o livro descreve. Em vez disso, “Eles desejaram falar a língua uns dos outros”, como antes, quando ainda eram de uma única língua, “Mas eles não sabiam a língua uns dos outros. Que fizeram eles? Cada um deles pegou sua espada e lutou com o outro até à morte. Certamente, metade do mundo morreu ali pela espada”. [iii]

À luz da grave situação do seu povo, Abraão decidiu espalhar o princípio que havia encontrado, independentemente dos riscos. Na sua composição, HaYad HaChazakah (A Mão Poderosa), também conhecida como Mishné Torá (Repetição da Torá), o renomado acadêmico do século XII, Maimônides (o RAMBAM), descreve a determinação e os esforços de Abraão em descobrir as verdades da vida: “Desde que isso foi revelado, ele começou a questionar. …Ele começou a ponderar dia a noite, e questionava-se como era possível que esta roda sempre rodasse sem um condutor? Quem a roda, pois ela não pode rodar a si mesma? Ele não tinha nem professor nem tutor. Em vez disso, ele foi cunhado em Ur dos Caldeus entre os idolatras iletrados, com sua mãe e pai, e todas as pessoas que adoravam as estrelas, e ele – adorando com eles”. [iv]

Na sua busca, Abraão descobriu a união, a unicidade da realidade, essa força singular criativa que cria, sustenta e conduz toda a realidade para a sua meta. Nas palavras de Maimônides, “[Abraão] alcançou o caminho da verdade … com sua sabedoria correta, e sabia que havia um Deus que conduz… que Ele criou tudo, e que em tudo o que há, não há outro Deus senão Ele”. [v]

Para compreender precisamente o que Abraão alcançou, tenha em mente que quando os Cabalistas falam de Deus, eles não se referem a um ser todo-poderoso ou a uma força que você deve adorar, agradar e apaziguar, que em troca recompensa os adoradores devotos com saúde, riqueza, longa vida e outros benefícios terrenos. Em vez disso os Cabalistas identificam Deus com a Natureza, o todo da Natureza.

Rav Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada), fez várias afirmações inequívocas sobre o sentido do termo, “Deus”. Sucintamente, ele explica que Deus é sinônimo de Natureza. No ensaio, “A Paz”, Baal HaSulam escreve (num excerto ligeiramente editado), “Para evitar de ter que usar ambas as línguas daqui em diante, ‘Natureza’ e um ‘Supervisor’, entre os quais, como demonstrei, não há qualquer diferença…é melhor para nós … aceitarmos as palavras dos Cabalistas, de que HaTeva [A Natureza] é o mesmo…que Elokim [Deus]. Então, eu serei capaz de chamar as leis de Deus ‘mandamentos da Natureza’, e vice-versa, pois eles são a mesma coisa, e não precisamos discutir mais”. [vi]

“Aos quarenta anos de idade”, escreve Maimônides, “Abraão veio a conhecer seu Criador”, a lei singular da Natureza, que cria todas as coisas. Mas Abraão não manteve sua descoberta para si mesmo: “Ele começou a fornecer respostas ao povo de Ur dos Caldeus, a conversar com eles e a lhes contar que o caminho sobre o qual eles caminhavam não era o caminho da verdade”. [vii] Assim, Abraão foi confrontado pela elite governante, que neste caso era Nimrod, rei da Babilônia.

O Midrash Rabbá, escrito no século V a.C., apresenta uma descrição vívida da confrontação de Abraão com Nimrod, um vislumbre das dificuldades que Abraão sofreu por sua descoberta e sua dedicação à verdade. Ele também fornece uma divertida visão do fervor de Abraão. “Terah [Pai de Abraão] era um adorador de ídolos [que ganhava sua vida fazendo e vendendo estátuas na loja da família]. Uma vez, ele foi a certo lugar e disse a Abraão que ficasse em seu lugar para ele. Um homem entrou e quis comprar uma estátua. [Abraão] perguntou-lhe, ‘Quão velho sois vós?’ E o homem respondeu, ‘Cinquenta ou sessenta’, Abraão disse-lhe: ‘Ai daquele que tem sessenta e tem que adorar uma estátua de um dia’. O homem ficou embaraçado e partiu.

“Outra vez, uma mulher entrou com uma taça de semolina. Ela disse-lhe, ‘Aqui, sacrifica perante as estátuas’, Abraão levantou-se, pegou um martelo, quebrou todas as estátuas, depois colocou o martelo nas mãos da maior. Quando seu pai regressou, ele perguntou-lhe, ‘Quem fez isto’? [Abraão] respondeu, ‘Uma mulher entrou. Ela trouxe-lhes uma taça de semolina e pediu-me que sacrificasse perante elas. Eu sacrifiquei e uma disse, ‘Eu comerei primeiro’, e a outra disse, ‘Eu comerei primeiro’. A maior levantou-se, pegou o martelo, e as quebrou’. Seu pai disse, ‘Você está me enganando? O que elas’ sabem? E Abraão respondeu-lhe, ‘Tuas orelhas escutam o que tua boca diz?’” [viii]

Nesse ponto, Terah sentiu que não conseguiria mais disciplinar seu filho insolente. “[Terah] levou [Abraão] e entregou-o a Nimrod [o rei, mas também a autoridade espiritual mais alta da Babilônia]. [Nimrod] disse-lhe, ‘Adora o fogo’. Abraão respondeu, ‘Talvez deva adorar a água, que extingue o fogo’? Nimrod respondeu, ‘Adora a água’! [Abraão] disse-lhe: ‘Então talvez deva adorar a nuvem, que transporta a água’? [Nimrod] disse-lhe, ‘Adora a nuvem!’

“[Abraão] disse-lhe: ‘Nesse caso, será que eu devo adorar o vento que dispersa as nuvens?’ Ele disse-lhe, ‘Adora o vento’! [Abraão] disse-lhe, ‘E devemos nós adorar o homem, que sofre do vento?’ [Nimrod] disse-lhe: ‘Tu falas muito; eu adoro somente o fogo. Eu vou jogá-lo nele, e deixarei que o Deus que adoras venha salvar-te dele!

“Harã [irmão de Abraão] lá se encontrava. Ele disse, ‘Se Abraão vencer, eu direi que concordo com Abraão, e se Nimrod vencer, eu direi que concordo com Nimrod’. Quando Abraão desceu à fornalha e foi salvo, eles perguntaram [Harã], ‘Com quem estais’? Ele disse-lhes: ‘Eu estou com Abraão’. Eles o levaram e o jogaram no fogo, e ele morreu na presença de seu pai. Assim foi dito, ‘E Harã morreu na presença de seu pai Terah’”. [ix]

Portanto, Abraão resistiu a Nimrod, mas foi expulso da Babilônia e partiu para a terra de Harã (pronunciada Charan, para distingui-la de Harã, filho de Terah). Mas Abraão não deixou de circular sua descoberta só porque estava exilado da Babilônia. As descrições elaboradas de Maimônides nos contam, “Ele começou a clamar ao mundo inteiro, para alertá-los que há um Deus para o mundo inteiro… Ele clamou, vagando de cidade em cidade e de reino em reino, até que chegou à terra de Canaã…

“E uma vez que eles [pessoas nos lugares onde ele vagava] se reuniam ao seu redor e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinava a todos…até que ele os trouxe de volta ao caminho da verdade. Finalmente, milhares e dezenas de milhares se reuniram ao seu redor, e eles são o povo da casa de Abraão. Ele colocou seu princípio em seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho Isaac. E Isaac se sentou e ensinou e alertou, e informou Jacó, e o nomeou professor, para se sentar e ensinar… E Jacó, o Patriarca, ensinou todos os seus filhos. Ele separou Levi e o nomeou a cabeça, e o fez sentar e aprender o caminho de Deus…” [x]

Para garantir que a verdade passaria pelas gerações, Jacó “ordenou a seus filhos que não parassem de nomear nomeado após nomeado dentre os filhos de Levi, para que o conhecimento não fosse esquecido. Isto continuou e se expandiu nos filhos de Jacó e naqueles que os acompanharam”. [xi]

[i] Sefer HaYashar [O Livro do Justo], Porção Noah, Parasha 13 item 3.

[ii] Pirkey de Rabbi Eliezer [Capítulos do Rabbi Eliezer], Capítulo 24

[iii] ibid.

[iv] Rav Moshe Ben Maimon (Maimônides), Mishneh Torah (Yad HaChazakah (A Mão Poderosa)), Part 1, “O Livro da Ciência”, Capítulo 1, Item 1.

[v] Maimônides, Yad HaChazakah (A Mão Poderosa), Parte 1, “O Livro da Ciência”, Capítulo 1, Item 10.3.

[vi] Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag (Baal HaSulam), Os Escritos do Baal HaSulam, “Paz no Mundo” (Instituto de Pesquisas Ashlag, Israel, 2009), 406-7.

[vii] Maimônides, Yad HaChazakah (A Mão Poderosa), Parte 1, “O Livro da Ciência” Capítulo 1, Item 12.3.

[viii] Midrash Rabbah, Beresheet, Porção 38, Item 13.

[ix] Midrash Rabbah, Beresheet, Porção 38, Item 13.

[x] Maimônides, Yad HaChazakah (A Mão Poderosa), Parte 1, “O Livro da Ciência”, Capítulo 1, Item 15.3.

[xi] Maimônides, Yad HaChazakah (A Mão Poderosa), Parte 1, “O Livro da Ciência”,  Capítulo 1, Item 16.