As Faces Do Faraó

Dr. Michael LaitmanOs vasos de doação, que uma vez foram separados, caíram nos vasos de recepção, e agora são encontrados lá, sob seu controle. Este estado é chamado de “exílio” e se expressa no fato de que o desejo de receber está utilizando a qualidade de doação com a intenção de doar na intenção de receber.

Isto é, o “exílio” é um conceito espiritual que não é simples. Eu o alcanço verdadeiramente quando sei que doo ao Criador a fim de receber prazer Dele. Eu sou todo Klipa, e isso quer dizer que estou no exílio, num nível espiritual muito alto de uma conexão contaminada com o Criador. Existem apenas duas forças: de recepção e de doação. E eu, a força de recepção, recebi a força de doar, a retenho e a utilizo para o meu próprio prazer.

Hoje, no entanto, eu não sinto que estou no exílio; ao contrário, eu me identifico com o desejo de receber. Se eu me identificasse com o desejo de doar, eu teria dito que estou no exílio, sob o controle do Faraó, ou seja, do ego. Cada vez que eu quisesse doar, eu teria subitamente sentido que atuo em prol de receber.

Nós podemos dividir o exílio do Egito em fases, de acordo com o sentimento do exílio. Baal HaSulam escreve sobre isso em sua Carta 14: E a questão é que a medida que o povo de Israel pensava que o Egito o escravizou e o perturbou no seu trabalho para o Criador, na mesma medida ele realmente estava no exílio egípcio. Tudo depende do “usuário”, aquele que recebe e sente. Por exemplo, quando Moisés matou o Egípcio, os Judeus o denunciaram. Eles não sentiam que estavam no exílio, mas ao contrário, era Moisés e não o Faraó que tornava suas vidas difíceis.

Portanto, quando aconteceu a quebra, os vasos de doação, ou as almas de Israel que são chamadas de Yasher Kel (ou seja, a intenção de doar), caíram nos vasos de recepção, na intenção de receber. Mas isso em si não quer dizer nada. Nós precisamos de esclarecimento, com o qual seremos capazes de nos identificar tanto com os vasos de recepção quanto com os vasos de doação. Se no Egito eu me identifico com os vasos de recepção, eu estou florescendo, como o Faraó que está construindo belas cidades (Pitom e Ramsés) para si.

Por outro lado, para aquele que quer chegar à doação, essas são cidades pobres, perigosas: “Talvez não sejamos capazes de sair do controle do ego, do controle do Faraó!”.

Portanto, nós devemos entender onde estamos. A pessoa que tem um ponto no coração, que já anseia pela sabedoria da Cabalá, a revelação do Criador, precisa sempre verificar a si mesma: “O que em mim prevalece agora, o desejo de receber ou o desejo de doar? Se for o desejo de receber, então eu sou um trabalhador do Faraó; se for o desejo de doar, então eu sou ‘Israel no exílio’”.

Este é o primeiro discernimento. Depois disso, se a pessoa o desenvolve,  ela   finalmente sai o exílio. Como o Rabash escreve no Shlavey Sulam (Os Degraus da Escada) (1985/1986), Arrtigo 6: Verifica-se, que o exílio é o estado do Kli, e a redenção é a Luz e doação. É exatamente de dentro dos problemas, quando sentimos que estamos sob este controle, que o novo vaso começa a se formar, com o qual a pessoa sai do exílio. Não há vasos prontos; “vasos” são novos discernimentos que geramos a partir do trabalho no Egito, no exílio, as quatro fases, que no final criam um desejo completo que sente que isto se tornou a redenção para nós.

Na verdade o que é a fuga do Egito? De quem você está fugindo? Do desejo de receber? Não, ele permanece do mesmo modo que o desejo de doar permanece. Então, por que Faraó se inverte?

Na primeira fase, o grupo de Abraão saiu da Babilônia, ou seja, do desejo de tirar vantagem do Criador para seu próprio bem. Em outras palavras, os vasos de doação fizeram uma “restrição” em seu desejo de receber, que na época não podia ser corrigido, e eles se separaram dele. Mais tarde, esse desejo cresceu – apareceu Isaac, que representa a “linha esquerda”, e ele se separou de Esaú. Cada vez o desejo de receber é acrescentado a nós, e nós fazemos esclarecimentos e nos desconectamos dele, deixando-o para o futuro, até que sejamos capazes de trabalhar com ele.

Nós só adicionamos a nós mesmos, à intenção de doar, os vasos que somos capazes de corrigir.

Portanto, o “Faraó” é um desejo de receber muito grande que veio depois que o povo de Israel se preparou para o novo estágio. Primeiro eles completaram o próximo nível no desejo de receber chamado “Jacó”. Então, a necessidade de continuar a crescer foi criada, que é chamada de “fome na terra”, e eles desceram para o Egito.

No início, o Faraó era bom e a vida do povo de Israel no novo lugar era boa. Eles sentiram que o acréscimo do desejo de receber não atrapalhava o desejo de doar. Assim, num primeiro momento, eles conseguiram viver no Egito: eles controlavam seu desejo de receber. Portanto, este não era o exílio, mas “sete anos de saciedade”.

Mais tarde, quando os filhos de Israel se conectaram ao novo vaso, este se transformou em “sete anos de fome”. O desejo de receber continua a crescer, e em algum momento, eu não sou capaz de fazer nada com ele. Lentamente ele “me engole” e me coloca no desejo de doar a fim de receber. O Faraó toma cada vez mais dos filhos de Israel, e eles são impotentes contra o seu controle. Este desejo simplesmente os engole, como um crocodilo, e nada é deixado de doação, e o Faraó cresce. Finalmente, da escuridão total, o ponto no coração desperta em nós: Moisés que nos tirará do Egito.

Este é o caminho do desejo de receber, e estes são os discernimentos típicos por ele. A história toda é desenvolvida dentro do desejo. Depois de sair da escravidão no Egito, chegamos ao “Monte Sinai”, a montanha do ódio (Sina). Este é o mesmo Faraó, só que de uma forma diferente. Mais tarde, repetidamente, somos confrontados com o egoísmo crescente. Cada vez de uma forma diferente, e isso nos permite continuar a fazer as correções.

Da 4ª parte da Lição Diária de Cabalá 29/11/12, “Exílio e Redenção”