Na Fronteira Entre Desejado E Realizado

Laitman_095Pergunta: O egoísmo é a nossa natureza, nossa essência. Ao longo de toda a história do desenvolvimento da humanidade, nossos desejos, isto é, nosso egoísmo, cresceram constantemente.

Basta recordar o conto de fadas de Pushkin sobre o peixe dourado [semelhante ao “O pescador e sua esposa” de Grimm], que ilustra o crescimento dos desejos e o esvaziamento imediato após sua realização. Qual é a razão pela qual a natureza constantemente nos leva a esse estado?

Resposta: É para que desejemos pegar um peixe dourado e usá-lo mil por cento, porque é assim que o egoísmo está se desenvolvendo em nós.

O egoísmo, a força oculta da natureza, empurra os níveis inanimado, vegetativo e animado e, principalmente, humano, para a realização máxima. No entanto, em princípio, é impossível conseguir.

Pergunta: Isso significa que a satisfação e o subsequente esvaziamento dos desejos causam o desenvolvimento de desejos maiores em nós? Existe algum tipo de limite para eles?

Resposta: Os desejos são ilimitados. Por que eles deveriam ser limitados? Se quero dez gramas de algum tipo de prazer e o recebo, estou em um estado ilimitado, infinito.

Pergunta: A realização de nossos desejos, que é alcançada através de muitos esforços, é sentida apenas por um curto período de tempo e depois desaparece. Especialmente quando se trata de desejos básicos: comida, sexo e família. Por quê?

Resposta: Para que possamos ir mais longe e alcançar mais. Há um constante desenvolvimento dos nossos desejos. Essa não é apenas uma repetição dos mesmos desejos, pois eles mudam um pouco.

Sentimos um desejo maior o tempo todo, e depois um vazio maior, que é seguido por um desejo ainda maior de prazer e um vazio ainda maior, e assim por diante.

Pergunta: Quanto maior a qualidade do prazer, mais ele dura. Digamos que o prazer de comer uma refeição dura um tempo bastante curto. O prazer da fama, por exemplo, de vencer uma competição ou realizar um concerto dura, como dizem os psicólogos, até mesmo algumas semanas. A que isso nos levará no final?

Resposta: Ao fato de querermos muito e finalmente percebermos que o desejo por si só não nos satisfaz, porque o prazer que vem e preenche o desejo o deixa imediatamente vazio.

Pergunta: No entanto, o prazer de se comunicar com os amigos satisfaz muito mais do que comer ou fazer uma refeição. Por outro lado, vemos muitas pessoas solitárias. Por que as pessoas não se sentam em círculos e se comunicam?

Resposta: Não podemos sentir prazer o tempo todo com a mesma satisfação. De jeito nenhum. A natureza do prazer é determinada apenas pela diferença entre o que desejamos e o que sentimos.

Portanto, deve haver uma renovação constante do desejo e, consequentemente, uma renovação constante de sua realização. Somente no caso do desenvolvimento dinâmico do desejo e da satisfação e de sua constante complementação, sentiremos prazer.

De fato, desejos e realizações são dados puramente mecânicos. É a mudança deles, quando você está na fronteira entre o que deseja e o que é satisfeito, que lhe dá a sensação de prazer.

Pergunta: Então, estamos dispostos de tal maneira que podemos desfrutar apenas por alguns momentos?

Resposta: Apenas por um momento!

De KabTV, “Era Pós-Coronavírus”, 23/04/20