Black Friday, Parte 1

Laitman_409Pergunta: Nós vivemos em um mundo que está passando por mudanças radicais na sociedade, na política, na psicologia humana e, em particular, na psicologia do consumidor.

Há um entusiasmo extraordinário em torno do dia 25 de novembro, a chamada “Black Friday”, porque esse é um dia em que os bens são vendidos por preços especiais com desconto nos EUA e em muitos outros países do mundo. As compras se transformaram em entretenimento e em meios de receber realização. As pessoas enlouquecem, se alinhando em filas muito longas, dormindo em tendas em frente às lojas, esperando elas abrirem. Houve um caso em 2008, quando a multidão que irrompeu pelas portas pisoteou um funcionário do Walmart. As compras e aquisições se tornaram o principal valor da sociedade e da cultura moderna. O que causou essa sede de consumismo no mundo moderno?

Resposta: O fato é que nos acostumamos a avaliar uma pessoa de acordo com sua riqueza: o quanto ela vale, o quanto ela possui. Nós olhamos para o exterior da pessoa, verificando como ela está vestida, como se comporta, o carro que dirige, a casa em que vive, quem são sua esposa e filhos, e qual é a sua posição na sociedade.

Ainda que no nosso tempo, a forma externa tenha começado a perder o seu significado. Antes ela era muito importante e todos tinham que se parecer exatamente de acordo com o seu status. Uma pessoa era aceita de acordo com sua aparência, que determinava quem ela era e a qual estrato social e classe pertencia.

Isso não é bem verdade em nosso tempo. Quando vemos um homem em um terno preto, camisa branca e gravata, estamos propensos a pensar que ele é um advogado. Mas mesmo entre os empresários essas roupas não são consideradas mais obrigatórias. E quando eu me encontrei com cientistas, eles estavam vestidos de maneira muito simples, de suéteres. As pessoas começaram a prestar menos atenção à roupa.

Mas o interesse em fazer compras ainda é muito forte, porque uma pessoa se sente mais segura se compra algo agradável para o seu egoísmo. Se eu tiver uma geladeira cheia, guarda-roupa completo e um carro, isso significa que tudo está bem comigo. A confiança de uma pessoa na vida é medida por esses valores.

Por exemplo, os americanos se sentem confiantes se têm várias armas em casa, “no caso de precisar”. As pessoas ricas, para se sentirem seguras, constroem para si bunkers e abrigos antiaéreos. Outras cultivam vegetais em seus jardins para terem algo para comer em caso de necessidade.

No nosso tempo, as pessoas estão sob tanto stress que começam a se preocupar com o futuro. Nesses dias de “Black Friday”, essa histeria se espalha por todo o mundo. Para a pessoa moderna, a cultura do consumo é muito importante. No entanto, à medida que nos desenvolvemos, prestamos menos atenção à beleza externa, mas apreciamos mais roupas convenientes, o conforto em casa e em tudo o mais.

Essa é uma característica especialmente da nova geração que não pensa em sua boa aparência, mas no conforto. Afinal, eles já estão preocupados com as questões sobre o sentido e a essência da vida; eles obscurecem a vida material e a empurram para o fundo.

Pergunta: Ainda há um interesse exagerado em compras que pode ser comparado com bulimia, onde uma pessoa compra as coisas e as devolve para a loja. De onde vem essa doença?

Resposta: A pessoa sente um vazio interior que espera preencher com as compras. Mesmo ao escolher uma profissão, ela não presta atenção em sua inclinação natural, mas pensa onde pode ganhar mais para comprar mais. Afinal, a nossa necessidade interior natural é o desejo de desfrutar e receber, e as pessoas aspiram constantemente pelo que lhes falta.

Todo mundo tem um conjunto padrão de desejos que tenta satisfazer: comida, sexo, família, dinheiro, honra e conhecimento. Mas eles estão presentes em cada um em diferentes proporções, de modo que todos são atraídos para diferentes satisfações. Mas todas essas satisfações são aquisições através das quais esperamos nos satisfazer. Compras comuns são causadas por um desejo natural, normal de ser preenchido, bem como por influência do ambiente. Se os outros correm para comprar, eu também me entusiasmo, uma vez que estamos no mesmo campo de desejos que estão conectados e se influenciam. Portanto, se há alguma tendência da moda, eu também sou atraído por ela.

Se nesse dia os bens são vendidos com grandes descontos, por que não preparamos uma lista de coisas realmente necessárias com antecedência e as compramos? O único problema é que, geralmente, ao chegar a tal evento de vendas, a pessoa não compra a partir da lista de coisas que precisa, mas começa a ficar louca e a agarrar tudo, como todo mundo. Afinal de contas, as pessoas comuns agem de acordo com as leis da multidão que afetam a sua opinião.

Só uma educação especial pode elevar a pessoa um pouco mais alto para que ela entenda como isso funciona. Ela exige uma preparação psicológica para isso que lhe permita entender por que isso acontece dessa forma, para quê, de onde vem, e como ela pode se relacionar com isso de uma forma mais racional. Toda essa excitação é alimentada artificialmente, e uma pessoa comum é vendida para essa publicidade.

Como resultado, uma pessoa gasta mais dinheiro do que o esperado, mas obtém a sensação de que vive como todos e não pior do que outros, e que está tendo sucesso na vida. Ela vê que agiu da mesma forma que os outros, e em algo ganhou ainda mais do que eles. Há uma competição aqui e a satisfação do nosso egoísmo é maior do que o habitual. Como resultado, nós enchemos o mundo com coisas que nunca precisamos e, portanto, estão destinadas a serem jogadas fora: alimentos, aparelhos, e nunca roupas e sapatos usados.

Nós nos limitamos dessa maneira. Afinal de contas, seguindo a multidão, por detrás da maioria, não vamos conseguir nada de especial. A fim de alcançar um objetivo especial, precisamos nos separar da multidão, subir acima dela, e nos desprender da “cultura de massa”, dos filmes vazios com que as pessoas se entretêm e aceitam sem crítica.

De KabTV “Nova Vida” 24/11/16