O Amor Consciente Por Um Fruto Amargo

Dr. Michael LaitmanImagine o seu estado como quando você deseja dar aos seus filhos algo com um gosto horrível, mas muito bom para eles. Eles não entendem de forma alguma e não estão dispostos a aceitar isso. Da mesma forma, nós devemos consumir uma fruta extremamente amarga e ter prazer ao mesmo tempo. Mas, como eu posso desfrutar de tal amargor? É como um limão que faz minha boca franzir só de olhar para ele.

Há alimentos que ingerimos somente para enfatizar a doçura: algo muito azedo, salgado ou amargo. Nós adicionamos ingredientes para diluir um pouco o sabor e depois senti-lo através do contraste dos opostos, como o “benefício da Luz sobre a escuridão”. A Luz é doçura para nosso desejo de receber prazer.

Mas aqui nós estamos falando da transição para o amor altruísta, o fruto amargo. Eu o rejeito devido à minha natureza, e sou incapaz de sentir nele qualquer grandeza final especial. Eu preciso desenvolver um desejo por ele, de modo que eu irei constantemente aumentar e desenvolver minha aspiração por esse fruto amargo e dolorosamente desagradável, junto com meu desejo por doçura que só continuará crescendo. Isso é realmente possível?

No entanto, isto é necessário para nos tirar do nível animal, onde nos desenvolvemos sob influência de nosso ego, em busca de prazer. Na realidade, os animais realmente não buscam o prazer; eles simplesmente agem de acordo com seus instintos.

Mas o homem começa a subir acima do nível animal e a adquirir desejos humanos, de modo que ele inventa prazeres adicionais. Seu desejo de receber prazer cresce muito mais do que o desejo de um animal comum que vive sua vida sem se desenvolver, como está escrito: “Um bezerro de um dia de idade já é considerado um touro”.

Mas, à medida que nos desenvolvemos neste mundo, buscamos prazeres maiores. Nosso ego está sempre crescendo e continua criando novas fontes de prazer para si mesmo. Desta forma, nós crescemos desde o nível animal e nos transformamos em enormes bestas.

Depois, nós mudamos para um nível completamente diferente: o humano. A primeira coisa que acontece nesse nível é a perda do nosso impulso pela satisfação egoísta. Nós começamos a sentir que esta vida não está mais nos satisfazendo: tudo se torna sem graça e sem sabor. A pessoa se torna deprimida e começa a pensar no significado da vida.

Muitas pessoas já estão se sentindo assim hoje. O nível do desenvolvimento egoísta está chegando ao fim e não queremos mais imaginar o seu fruto cada vez mais saboroso e tentador. Nós questionamos o propósito! Este é o nível seguinte.

Aqui nós sentimos que o propósito é amargo. Descobrimos que, se quisermos ver o propósito e realmente revelá-lo, só podemos fazer isso no nível seguinte, que é oposto ao que estou agora. Eu preciso desenvolver um desejo por um fruto muito amargo.

Depois de todos os doces que tive: sorvete, balas e bolos, eu devo desejar algo que cause dor, fraqueza, amargura e machuque a minha boca. Este fruto é tão repulsivo que a minha natureza não me permite sequer chegar perto dele.

A única coisa que pode ser feita aqui é elevar a sua importância. Todos precisam continuar me contando sobre os seus benefícios, mesmo que eu seja repelido por ele. Essa importância pode ser desenvolvida pelo ambiente, que vai me convencer do valor deste fruto amargo que me enoja tanto que não consigo nem olhar para ele.

Da 1a parte da Lição Diária de Cabalá 01/10/11, Escritos do Rabash