Página Diária 04.12.09

Fazendo as Pazes com o Ódio e o Amor
A qualidade na qual estamos imersos nos permite perceber apenas o que entra em nós, e nós devemos nos esforçar para desenvolver em nós uma nova qualidade, um senso de percepção através da doação, para começarmos a sentir o que se encontra em outra pessoa, que aos meus olhos parece externa a mim.
Eu devo me conectar aos sentidos dos outros e aceitá-los como se fossem meus; assim, eu expando o meu Kli (vaso). Imagine você: eu junto aos meus cinco sentidos, ao cérebro, à emoção e a tudo o que eu tenho, o que você também tem, e olho tudo através de você e eu. Agora, imagine que você junte todos os povos do mundo a você. Não que eu os conecte a mim e aumente a minha percepção interior, mas sim que, apesar de eu juntá-los a mim, eles permanecem fora de mim.
Então, através da percepção das coisas fora de mim, como se elas fossem minhas, eu adquiro “Aviut” (grossura) (por você continuar a ser um estranho para mim), e “Zakut” (pureza) (porque você se tornar como eu). Há um ganho duplo aqui. Assim, a minha percepção é chamada de “percepção espiritual”. Nós devemos pensar nessas coisas com mais carinho.
Quando eu ajo deste modo, eu adquiro um sentido que é mais exaltado do que o meu sentido atual. Eu entro no outro e olho através dele, mas esse outro permanece um desconhecido para mim, porque nós não cancelamos a Aviut entre nós.
Precisamente neste estado, com a condição de que permanecemos distantes, nós construimos a conexão, a ponte entre nós. Assim, em vez de anularmos o ego, nós nos conectamos acima dele, e ampliamos a intensidade da nossa percepção.
Quando nós falamos sobre isso, as pessoas pensam que estamos falando sobre sentir o outro como a mim mesmo, à semelhança de um Cabalista em nosso mundo, mas isso não é verdade. Tal abordagem anula a diferença entre as pessoas, e isso não é bom, porque tudo que você adquire através disso é o pequeno ego do outro.
Enquanto que, por desejarmos nos conectarmos acima do ego que brota em nós, nós obtemos a Aviut espiritual, revelamos a Klipa (casca) entre nós, e depois, revelamos o mundo espiritual acima dela. Não há outra maneira. Em outras palavras, quanto mais você expande seus vasos de recepção, mais você se torna egoísta, adquire uma Aviut maior, e sente mais o quanto você odeia, é repelido e distanciado dos outros. E você não apaga esta lacuna, mas constrói novas conexões acima dela. O problema é que leva tempo para o grupo perceber que essas duas coisas opostas precisam conviver juntas, e montar a linha do meio que as conecta.
É por isso se diz que o mundo espiritual está acima de nós, acima do nosso ego, no lugar onde podemos construir as conexões entre nós sem cancelarmos o ego que está realmente ardendo dentro de nós.
Nós devemos ouvir falar cada vez mais sobre isso, e nos esforçarmos em implementá-lo. O problema no grupo é que nós queremos anular tudo entre nós, o que nos atrapalha. Mas a verdadeira anulação é trabalhar junto com aquilo que é revelado entre nós. E essa é toda a diferença entre o método da Cabalá e os outros métodos e religiões. Esta esquerda, o ego explosivo, o mal, permanecem na pessoa, e graças a Deus que eles existem. Como os Cabalistas escrevem: “Eu criei a inclinação ao mal, e criei para ele a Torá como tempero”, ou seja, que todas as correções são apenas como um tempero para a inclinação ao mal, para que nós a utilizemos corretamente.
Portanto, nós não devemos ter vergonha de toda a atrocidade que existe em cada indivíduo, não há necessidade de escondê-la, ou de ser uma alma delicada. Pelo contrário: este sou eu, e essas são as qualidades com as quais eu nasci. Sim, eu sou repugnante, eu sei. Mas, acima disso, com toda a atrocidade que existe na conexão entre eu e os demais, eu construo a minha conexão com eles. Não é simples, porque você deve se agarrar a duas coisas opostas, ao amor e ao ódio, ao mesmo tempo. Como? Precisamente quando tentamos fazê-lo, neste método único e especial, percebemos que não podemos.
Nós podemos permanecer no nosso ego até o fim, ou anulá-lo e nos tornarmos bons filhos, mas nós somos incapazes de estar em ambos os estados simultaneamente. Portanto, nós rogamos pela Força Superior que fará a paz entre nós, a realização que permitirá com que a esquerda e a direita coexistam. Você precisa de um Criador aqui, a terceira força; então, você descobre que Ele existe precisamente no ponto entre o ódio eo amor.
E se Ele existe, Ele se liga entre o ódio eo amor, como está escrito: “O homem e a mulher, e a Shechiná (Divindade) entre eles”. Caso contrário, as forças doadora e receptora não podem coexistir. Somente a Força Superior faz a “paz em Seus céus” e a “paz entre nós”, a “realização” entre as duas linhas.
A sabedoria Cabalística é o único método que nos leva à necessidade da ajuda do Alto, porque você está parado, sem saber o que fazer. E quando nós descobrimos essas coisas no grupo, que queremos fugir – quebrar tudo como resultado do ódio, ou anular o ego a fim de alcançar o amor.
Mas este é exatamente o ponto em que devemos exigir que a Força Superior nos corrija e nos leve à plenitude. Todos os tipos de situações são deliberadamente organizados para nós desde o Alto, para que nós realizemos a oração, e a Luz venha, corija, e se revele. E isso pode acontecer aqui e agora. Nós só devemos ver a situação de forma correta e exigir a correção, sem fugir, permitindo que uma linha neutralize a outra. Não é simples, mas isso está realmente acontecendo aqui e agora, e não em algum lugar distante.