“Desesperados Por Uma Economia De Compartilhamento” (Medium)

Medium publicou meu novo artigo: “Desesperados por uma Economia de Compartilhamento

Apesar da insistência em manter a economia funcionando, ela está parando. “A economia dos EUA encolheu a uma taxa anual estonteante de 33% no trimestre abril – junho — de longe a pior queda trimestral de todos os tempos”, escreveu a revista Time.

Num futuro próximo, as pessoas perceberão que somente o bem-estar da sociedade garante o bem-estar do indivíduo dentro dela.

Existem consequências para uma desaceleração. De acordo com a Bloomberg, “um projeto especial do Census Bureau teve como objetivo mapear e medir todas as ansiedades que a Covid-19 trouxe em seu rastro”. E as descobertas são alarmantes: quase um terço das pessoas em alguns estados têm pouca ou nenhuma confiança de que podem pagar o aluguel ou hipoteca de agosto. Quase 127 milhões de americanos sofreram uma perda de renda desde meados de março, e milhões foram forçados a deixar o trabalho devido à pandemia. Pior ainda, a saúde das pessoas foi adversamente afetada pelo vírus, mesmo que não o tenham contraído. Na verdade, além dos altos níveis de ansiedade e depressão que o vírus provocou, 71 milhões de adultos não receberam os cuidados médicos que precisavam para uma condição não relacionada à Covid-19, entre meados de junho e meados de julho.

Estamos evidentemente em uma encruzilhada. No final, o governo, qualquer governo eleito, terá que fazer as mudanças necessárias para garantir o bem-estar das pessoas. Do contrário, o caos que já vemos em algumas cidades se espalhará por todo o país.

Embora uma pandemia seja suficientemente problemática, a Covid-19 é muito mais do que isso. As transformações que ela está nos impondo não são apenas medidas para conter sua difusão; elas estão revolucionando toda a nossa civilização. As perdas de empregos que experimentamos até agora serão mínimas em comparação com o mercado de trabalho que veremos em breve. Na verdade, estamos correndo em direção a uma realidade onde não trabalhar é a norma e trabalhar é a exceção. Em tais circunstâncias, pacotes de ajuda não serão suficientes; precisaremos de uma mudança profunda em nossa percepção dos conceitos de trabalho e sociedade.

Somente empregos essenciais permanecerão. A produção de alimentos, roupas, habitação, saúde, educação e outros itens básicos são necessários. Mas mesmo aqui, a automação e a robótica reduzirão o número de trabalhadores. Nesse estado, será impossível manter o modelo existente de salários para quem trabalha e alguns meses de benefícios para os desempregados. Você não pode ter a maioria da nação vivendo de cupons de alimentos e em moradias acessíveis (de baixa renda).

Portanto, precisamos estabelecer um programa de dois ramos, no qual um adapta a economia às circunstâncias em evolução e o outro adapta a sociedade às mesmas circunstâncias em evolução. O ramo da economia remodelará a produção para que os monopólios não possam explorar seu poder e as pessoas possam comprar tudo o que precisam para manter um padrão de vida modesto, mas razoável. Se o ramo da sociedade funcionar corretamente, não haverá necessidade de medidas de austeridade de qualquer tipo, todos terão uma vida decente e o orçamento do país será equilibrado.

A renda das pessoas virá de empregos ou dos governos, federal ou estadual, um pouco como os funcionários do setor público de hoje. Porém, essas pessoas não trabalharão em empregos públicos, mas na construção de uma sociedade completamente nova, já que a atual estrutura da sociedade é a causa da crise.

A economia é um reflexo da sociedade em que vivemos. A sociedade atual promove o consumo excessivo, a competição desenfreada, a crueldade e a apatia para com as dificuldades dos outros. Estes, por seu turno, criam depressão, violência, abuso de substâncias, suicídio, homicídio, bullying, racismo, transtornos alimentares, vários problemas de saúde mental, abuso sexual, físico, emocional e qualquer forma de miséria concebível. A tarefa do ramo social do programa será criar solidariedade, responsabilidade mútua e cuidado entre todas as pessoas. Como resultado, a economia se tornará uma economia de compartilhamento.

Em tal economia, o papel da produção não é encher ainda mais as contas bancárias já inchadas dos acionistas das empresas. A economia redesenhada produz apenas o que é necessário e com o objetivo adicional de aproximar as pessoas. Quer trabalhemos na indústria ou prestemos serviços, os salários serão semelhantes e o mesmo objetivo: aumentar a coesão social e a solidariedade.

Para promover tal sociedade, as pessoas precisarão entender a mudança que o mundo está passando e participar dela por sua própria vontade. Para facilitar esse entendimento, os governos oferecerão cursos obrigatórios que mostrarão como estamos nos tornando uma sociedade interdependente onde nossas vidas dependem da vida de todos, da mesma forma que devemos manter o distanciamento social para não infectar outras pessoas.

Até hoje, a sociedade consistia de indivíduos que tentavam explorar os outros para suas próprias necessidades sem qualquer responsabilidade. No entanto, esse modelo falhou e se exauriu. Num futuro próximo, as pessoas perceberão que somente o bem-estar da sociedade garante o bem-estar do indivíduo dentro dela. Portanto, as pessoas aprenderão a cuidar da sociedade para que ela cuide delas. Quanto mais cedo percebermos que é para onde estamos indo, melhor e mais fácil será para todos.