“A Guerra Nunca Termina Para Alguns Guerreiros” (Linkedin)

Meu novo artigo no Linkedin: “A Guerra Nunca Termina Para Alguns Guerreiros

Na véspera do Dia da Memória de Israel para os Soldados Caídos das Guerras de Israel e Vítimas de Ações de Terrorismo, Itzik Saidian, um soldado ferido, ateou fogo em si mesmo. Ele não foi fisicamente ferido, mas sua alma está despedaçada há anos. Em 2014, um APV (Armored Personnel Carrier, ou Veículo Blindado de Transporte de Pessoal em português) que transportava nove soldados de seu pelotão foi atingido por um míssil RPG disparado de ombro. Sete de seus amigos morreram na explosão de fogo, e os dois que sobreviveram foram feridos pela explosão e pela enxurrada de balas que se seguiu. Itzik não estava naquele APV; ele veio resgatar seus amigos e viu o que restava deles, e sua alma foi destruída para sempre. Ele continuou lutando; ele não recuou e permaneceu com sua unidade mesmo depois da batalha. Mas aquele dia, quando viu o que havia acontecido com seus amigos, prevaleceu sobre ele. Ele nunca se recuperou. Itzik não está sozinho. Para muitos guerreiros, que experimentaram os horrores da guerra em primeira mão, a guerra nunca termina.

As pessoas precisam de esperança. Se não há esperança à vista, se seu presente é cheio de tormento e seu futuro é sombrio, posso ver por que elas não veriam sentido em viver. Mas se sua dor tem um propósito, uma meta digna que está ao nosso alcance, mesmo que apenas a longo prazo, então a vida tem sentido e a existência faz sentido.

Outro dia, um aluno me fez uma pergunta hipotética: “Se você conhecesse Itzik Saidian alguns minutos antes de ele se incendiar, o que você diria a ele?” Quando você conhece uma pessoa com PTSD (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), o nome clínico do estado em que essa pessoa se encontra, o mais importante é ouvi-la, estar com ela em suas dores. Só depois você pode dizer alguma coisa. Mas quando chegar a hora de falar, eu diria a ele que, apesar de toda dor, a vida tem um objetivo mais elevado, mais sublime e belo do que ele pode imaginar. E mesmo que no momento ele esteja agonizando, ele ainda pode alcançar esse objetivo. Apesar de toda a dor, é precisamente desse estado que ele pode ascender à eternidade, totalidade e beleza, e ser mais feliz do que qualquer pessoa no planeta.

Eu também tive minha cota de traumas. Cresci em uma família quase totalmente destruída pelos nazistas. Sofri um acidente de carro quando um ônibus colidiu de frente com o carro que eu dirigia e lembro-me de cada segundo que levou à colisão. Eu estava clinicamente morto há dias e, quando me recuperei, não conseguia respirar porque meus pulmões estavam cheios de sangue. Lembro-me da angústia. Na verdade, no final, ficou tão ruim que quando os médicos finalmente me disseram que iriam me operar para limpar meus pulmões, eu literalmente pulei na cama da sala de cirurgia e disse: “Cortem-me para abrir!” E eu quis dizer isso!

Apesar da dor, eu sei o que ganhei com essas provações; eu sei o que elas me deram. O propósito da vida é elevar-se acima dela para um reino superior que podemos encontrar se verdadeiramente o buscarmos. E às vezes é muito difícil começar a buscar, mas sempre vale a pena.

Por esse motivo, eu diria a Itzik, e a qualquer pessoa que esteja sofrendo uma dor insuportável, que a dor é exatamente a alavanca que pode nos erguer acima de qualquer ferimento. Eu enfatizaria que nada nunca acontece sem uma razão, e a dor que ele sente agora é apenas o começo de uma estrada cujo fim é felicidade e beleza. E precisamente neste lugar da dor insuportável do coração é onde essa estrada começa.

As pessoas precisam de esperança. Se não há esperança à vista, se seu presente é cheio de tormento e seu futuro é sombrio, posso ver por que eles não veriam sentido em viver. Mas se sua dor tem um propósito, uma meta digna que está ao nosso alcance, mesmo que apenas a longo prazo, então a vida tem sentido e a existência faz sentido.

Na verdade, os estados pelos quais passamos estão impressos no sistema da natureza e todos eles conduzem à felicidade. No entanto, como experimentamos esses estados depende de nós. O caminho é pavimentado, mas nós determinamos como percorrê-lo. Isso nos levará a todos a nos elevarmos acima de nós mesmos e a nos imergirmos na humanidade e, finalmente, em toda a criação. A vida oferece a cada um de nós oportunidades de tomar iniciativas e seguir nessa direção por sua própria vontade.

Frequentemente, perdemos essas oportunidades ou nos recusamos a aproveitá-las, e a natureza nos leva à nossa meta predeterminada, mas feliz, contra a nossa vontade. Nossas dificuldades, nossas provações e tribulações são as alavancas que a vida nos dá para nos impulsionar em direção a uma realidade melhor, mais transcendente. O trauma de Itzik, por mais terrível que seja, é essa oportunidade, assim como os traumas de inúmeras pessoas que sofrem sem motivo aparente.