Pergunta: O que é a vergonha que se diz ser uma espécie de criação?

Resposta: Existe um Criador (a qualidade de pura doação) e existe a criação (a qualidade de pura recepção). A conexão entre eles reside no fato de que a criação deseja receber o que vem do Criador. É assim que foi feito.

Ao mesmo tempo, a criação pode não sentir absolutamente o próprio Criador, mas apenas o que vem Dele, como uma criança recém-nascida que recebe tudo de seus pais. Ela não tem vergonha: pede, exige, agarra e usa seu desejo natural de receber para se realizar.

De repente chega um ponto em que ela sente a diferença entre a natureza de seus pais e a sua. Então ela começa a entender que é uma receptora e seus pais são doadores.

Antes, ela simplesmente sabia que seus pais davam e ela queria receber sem avaliar nada, se isso era bom ou ruim, ou sobre o benefício de dar ou receber. Ela não sentia nenhuma diferença qualitativa entre dar e receber. E de repente, ela começa a sentir.

Então ela sai para o mundo. Se está sempre com os pais, pode não sentir essa diferença a menos que eles a estejam ensinando, distanciando-a de si mesmos, mostrando o que era permitido e o que não era, o que ela tinha que trabalhar ou precisava ganhar.

Mas uma vez que saímos para o mundo, interagimos com um círculo externo mais amplo e começamos a entender o que podemos e não podemos fazer, o que é diferente de como era com nossos pais. Se eu receber, devo dar, ou seja, devo trabalhar para ganhar uma recompensa, e assim por diante. Então, já existe um sentimento de dar e receber, de superior e inferior, de dependência um do outro.

Pode ser simplesmente na realização ou pode ser no sentido de qualidade, especialmente quando há qualidades superiores e inferiores, aquelas que são aceitas na natureza e na sociedade.

Conclui-se que eu tenho qualidades que a sociedade elogia e que ela condena. E acontece que começo a me avaliar criticamente. É assim que surgem todos os tipos de autoanálises complexas.

Pergunta: Então a vergonha não surge do que recebo, mas do fato de que sou o oposto de alguns valores sociais ou do Criador?

Resposta: Sim. Se eu sinto outra pessoa acima de mim e eu abaixo dela e esse sentimento vem do fato de que isso é aceito em minha sociedade, então sinto uma atitude especial em relação ao meu egoísmo, que é minha principal qualidade, o desejo de receber.

Eu começo a sentir o quanto meu egoísmo me humilha. Eu me sinto inferior aos outros e meu ego sofre, não porque eu possa ter menos ou mais de algo, mas por ser moralmente inferior a outro.

Isso é uma vergonha! Eu tenho vergonha da minha natureza. O que é interessante não é a natureza em que o Criador me criou, mas meu estado atual. Eu atribuo isso a mim mesmo. Não posso atribuir isso ao Criador. Depende de nós dois.

Comentário: Mas Ele me criou assim.

Minha Resposta: Ele criou o desejo de receber em mim e tenho vergonha de como o uso.

De KabTV, “Estados Espirituais”, 22/04/19

Categoria: Trabalho Espiritual |