“Podemos Transpor Um Abismo Que Ninguém Quer Transpor?” (Linkedin)

Meu novo artigo no Linkedin: “Podemos Transpor Um Abismo Que Ninguém Quer Transpor?

Está escrito: “Onde não há pessoas, tente ser uma pessoa” (Mishnah, Avot, 2:5). Parece muito apropriado que invoquemos esse ditado em uma época em que as pessoas perderam toda a confiança umas nas outras, nas autoridades, e se sentem desesperadas quanto ao futuro. Estamos passando por um difícil despertar, um reconhecimento da fragilidade de nossa sociedade.

A democracia provou sua vulnerabilidade mais uma vez. A Itália era uma democracia antes de ser vítima do fascismo. A Alemanha era uma democracia antes de sucumbir ao nazismo. Até o fundador do comunismo da China pretendia originalmente formar uma democracia. O célebre historiador Maurice Meisner escreveu sobre Mao Zedong: “Nem os termos ‘socialismo’ nem ‘bolchevismo’ apareceram no ‘Manifesto’ de Mao. Em vez disso, foi a ‘democracia’ que Mao chamou de ‘a ideologia básica’ de resistência à opressão”. Agora, parece que os Estados Unidos da América estão passando pela mesma provação quando um sonho se transforma em pesadelo.

A democracia sempre tem que falhar? Por que o totalitarismo sempre parece superá-la? Talvez, se entendermos isso, entenderemos como salvar nossa agonizante sociedade.

Goste ou não, pessoas diferentes têm pontos de vista diferentes. Nunca haverá uniformidade de ideias em qualquer sociedade em qualquer momento porque, como nossos sábios disseram (Midrash Rabbah, 21: 2), “Como seus rostos não são semelhantes, seus pontos de vista não são os mesmos. Em vez disso, cada um tem sua própria opinião”. Então, como determinamos quem está certo quando estamos destinados a ser diferentes? Por que minha opinião deve estar certa e a opinião do outro, errada, se nenhum de nós pode convencer o outro? Existe um bug no sistema?

Não, não há bug. O bug está em nossa compreensão do sistema. Não há semelhança de pontos de vista porque não é para haver. Deve haver diversidade! Novamente, opiniões diferentes não são desacordos, são diversidade!

Por que deve haver diversidade? Sem diversidade, não há evolução, nem crescimento, nem vida. Tudo existe apenas por meio de elementos diversos e geralmente opostos trabalhando juntos para manter o sistema em que habitam. De partículas de átomos a aglomerados de galáxias, o universo consiste em opostos cooperando para manter o sistema que ocupam.

Os animais também matam uns aos outros para se alimentar, mas assim mantêm a saúde e garantem a sobrevivência das espécies que caçam. Vivemos em um mundo de contradições porque só as contradições garantem o desenvolvimento e o progresso.

Mas nós, pessoas, somos uma exceção. Estabelecemos democracias precisamente porque valorizamos a diversidade e a necessidade de desentendimentos como base para o avanço, mas cedemos diante de nossos egos e determinamos que apenas nossa visão é correta. À medida que nossos egos assumem o controle, perdemos de vista o fato de que bloquear a diversidade é uma sentença de morte para nós mesmos e para a sociedade? Como não perceber que é precisamente a opinião oposta que faz a nossa opinião importar? Como não perceber que é meu adversário ideológico que dá mérito à minha ideologia?

Se silenciarmos uns aos outros, não apenas silenciaremos a nós mesmos, também silenciaremos nossas mentes, nossos corações e, finalmente, destruiremos nossa sociedade e nossas vidas. Nada pode ser mais perigoso do que a crença de que só eu estou certo, e quem discorda de mim está errado.

Ser pessoa, voltando ao provérbio inicial, significa defender a diversidade quando todos a repreendem. Significa não pensar que só o meu ponto de vista está certo, mas sim manter o meu ponto de vista porque este é o meu lado da ponte, enquanto valorizamos o fato de que outras pessoas, que mantêm outros pontos de vista, estão mantendo o outro lado dela. O nome da ponte é diversidade, e nós a construímos defendendo a multiplicidade de pontos de vista. Só assim podemos começar a avançar.

Assim como não podemos andar sobre uma só perna, mas precisamos das duas para avançar, também nossas opiniões precisam umas das outras para que nós, como sociedade, possamos avançar. Onde não há pessoas, é porque não há pontes entre elas. Construa-as e seja uma pessoa.