BIEN: “A Renda Básica Deve Beneficiar As Mães Em Primeiro Lugar”

O maior portal, Basic Income Earth Network (BIEN), publicou meu novo artigo: “A Renda Básica Deve Beneficiar As Mães Em Primeiro Lugar”:

Não há controvérsias sobre os benefícios do leite materno, mas sua politização está nos dando uma ideia para pensar. O New York Times afirmou que o governo dos EUA ameaçou, sem sucesso, retaliar as nações que apoiam o aleitamento materno para favorecer a indústria de fórmulas infantis de US$ 70 bilhões, uma acusação fervorosamente negada pela atual administração. Além das manchetes sensacionalistas, o fator chave é que um tópico tão importante relacionado à saúde para mães e crianças foi colocado de volta na mesa. Também é hora de abrir a discussão sobre medidas práticas para incentivar a amamentação em benefício da sociedade.

O leite materno é rico em nutrientes e inclui anticorpos para combater vírus e bactérias que protegem o bebê contra infecções e alergias. Ele estimula o sistema imunológico, reduz a mortalidade infantil e ajuda em uma recuperação mais rápida de doenças comuns na infância. Um estudo de Harvard em 2016 estimou que 3.340 mortes prematuras por ano entre mães e bebês poderiam ser evitadas apenas nos Estados Unidos devido à amamentação adequada. Ela também diminui o risco de câncer de mama, de ovário e osteoporose na mãe.

Além dos benefícios físicos e do que os experimentos de laboratório mostram, a amamentação é uma das melhores formas de se relacionar com um bebê. Ela libera oxitocina, que é o hormônio responsável por outros comportamentos amorosos que nos fazem sentir bem sobre uma pessoa.

A amamentação prolongada nos dois primeiros anos de vida permite o desenvolvimento adequado da criança, e as mulheres expressam mais sensibilidade materna muito além dos anos de bebês e crianças, de acordo com um estudo da American Psychological Association. Além desses achados, há também uma conexão interior natural entre a mãe e a criança, que permite um desenvolvimento biológico e interno positivo, que começa dentro do útero.

A Necessidade de Apoiar as Mães que Ficam em Casa

Considerando o papel vital que as mães desempenham no desenvolvimento de cada indivíduo desde a mais tenra idade, é lógico que as mães que ficam em casa devem receber todo o apoio possível para criar a próxima geração. Elas precisam ter direito a receber assistência financeira que lhes permita desempenhar suas tarefas extraordinárias sem se preocupar em como fazer face às despesas, dando-lhes uma sensação de liberdade e controle de suas vidas.

No mundo de hoje, no entanto, esse não é o caso. A maior parte da carga recai sobre a mãe, de quem geralmente se espera priorizar sua carreira em relação à família, lidar com tarefas e se tornar cada vez mais exaurida e insatisfeita. Com o aumento maciço do custo de vida, as mães na maioria das sociedades lutam para administrar uma vida equilibrada, considerando o trabalho como uma necessidade econômica, em vez de libertação, progresso pessoal e realização. As mães são apanhadas em um emaranhado cada vez maior de compromissos no trabalho e em casa, com muito pouca restituição em qualquer nível. Em casos extremos, houve situações em que mães estressadas pelo trabalho abandonaram seus filhos enquanto corriam para o trabalho, como por exemplo a CEO de um hospital esquecendo seu filho em um carro quente onde a criança morreu, ou uma funcionária do McDonald’s deixando seu filho sozinho em um estacionamento público enquanto trabalhava todo o seu dia de trabalho de 9 horas.

Além disso, o cuidado infantil pode ser extremamente caro e muitas mulheres geralmente trabalham apenas para cobrir seus custos, desafiando todo o propósito de ir ao local de trabalho. O chamado avanço dos direitos das mulheres de escolher é, na prática, um paradoxo. No final, as mulheres que decidem cumprir um papel tradicional como mães que ficam em casa não recebem reconhecimento, valor e apoio econômico suficientes da sociedade, como se a criação de uma nova geração não fosse o empreendimento mais importante de todos.

Da mesma forma que a ciência tem sido incapaz de criar um útero artificial que dê vida a um embrião, o papel de nutrir e educar a criança é insubstituível. Não podemos fingir ser mais sábios que a natureza. Se realmente quisermos fortalecer e fomentar a autodeterminação das mulheres, a sociedade deve criar condições para uma maternidade confortável.

Por Que a RBU Deve Priorizar as Mães?

É precisamente aqui que a RBU (renda básica universal) pode entrar para incentivar mães que desejam criar seus filhos em tempo integral. A RBU deve beneficiar as mulheres em primeiro lugar, particularmente as mães que, com base em suas próprias preferências pessoais, escolhem deixar o local de trabalho para criar seus filhos. A renda básica deve ser fornecida para as mães sem condições prévias: não como bem-estar ou caridade, mas como remuneração por um trabalho crucial na sociedade.

Priorizar a RBU para as mães seria uma situação vantajosa: não apenas ajudaria as mães, mas também aumentaria diretamente o apoio para toda a próxima geração da sociedade que as mães estão criando agora. Muitos problemas pessoais e sociais, como depressão, ansiedade e doença mental mais tarde na vida, podem ser rastreados até fenômenos como negligência, estresse e traumas infantis. Portanto, a RBU deixaria as mães viverem com estresse econômico reduzido, liberando-as para se concentrarem em cuidar, se relacionar e criar seus filhos.

Da mesma forma, como mencionei antes, a renda básica para as mães permitiria sua participação em atividades pró-sociais, enriquecedoras de conexões, como grupos para mulheres grávidas, pais e economia doméstica, entre outras, para melhorar suas habilidades maternais com um clima social de apoio. Naturalmente, esse envolvimento na sociedade também influenciaria positivamente seus filhos.

Em vez de tratar as mães como cidadãos de segunda classe, elas devem ser reconhecidas como “CEOs da sociedade” – a força dominante na criação, as únicas capazes de dar à luz e nutrir toda uma nova geração. Tenha em mente que o mundo é o nosso teto, a humanidade é a nossa casa e as mulheres são o pilar dessa estrutura. A maternidade desempenha um papel crítico no nascimento de uma nova humanidade. Portanto, dar um passo adiante na promoção da RBU como apoio crítico às mães é uma decisão de extrema importância para um futuro mais promissor para todos.