O Que É Possível Pedir Ao Misericordioso E Compassivo?

laitman_239Pergunta: Chegar à oração, esse é o trabalho individual de uma pessoa ou o trabalho de todo o grupo?

Resposta: Claro que é o trabalho compartilhado de todos nós. De onde é que eu recebo a força para isso? Se eu não me identifico com a tristeza da comunidade, não seria capaz de chegar à oração.

Caso contrário, eu vou gritar por mim, mas para isso não irei receber uma resposta de cima. Eu devo transmitir ao Elyon (Superior) o pedido dos outros, a Oração de Muitos. É chamado assim porque eu grito pelos muitos, e não porque muitas pessoas gritam.

Os “muitos” são os meus próprios desejos que são retratados a mim como estranhos. Eu grito porque quero abordá-los, senti-los como sinto a mim mesmo, alcançar o ama ao próximo como a mim mesmo, e conectar.

Eu não grito por ser ruim para eles e que o Criador precisa ajudá-los, mesmo que esta seja também uma oração, como é dito: “Aquele que ora por seu amigo é atendido primeiro” (Baba Kama 90b). A principal coisa é que quando eu os vejo como partes de mim e estou conectado a eles, conforme estou conectado ao Criador.

Afinal, se eu peço ao Criador para ser misericordioso com eles e resolver os seus problemas, desta forma eu O culpo por abusá-los e penso que Ele é cruel, e estou pedindo a Ele para fazer algo de bom para eles. Mas eu não posso me voltar ao Criador dessa forma e não vou ter equivalência de forma com Ele se eu não decidir que Ele é misericordioso e piedoso.

Assim, uma verdadeira oração não é um pedido que algo de bom deva ser feito aos outros. Como posso pedir ao Criador para fazer algo de bom se Ele também é o bom que faz o bem? Eu Lhe peço para fazer essa correção em nós para que todos nós possamos nos aderir a Ele. Esta é toda a oração, não há nada mais para pedir.

Se eu vejo algo ruim, é porque há uma lacuna; as forças da Shevira (quebra) são descobertas. E a Shevira está dentro de mim, de modo que eu vejo a realidade como sendo tão ruim. Por isso, eu peço que todos nós sejamos capazes de aderir ao Criador e dar-Lhe prazer. Afinal de contas, nós somos tão desprezíveis que não estamos preparados para aceitá-Lo como Ele realmente é: o bom que faz o bem.

Isso significa que nós não Lhe pedimos para fazer o bem para nós, porque em todos os casos nós nos encontramos numa situação ideal para nós. Nós pedimos pela correção da nossa visão e sensação distorcidas, por isso não culpamos o Criador como crianças que gritam: “Mamãe má!”.

Pergunta: Mas o que deve ser feito com uma inclinação ao mal que constantemente proclama que tudo é ruim?

Resposta: A pessoa deve tentar superar sua inclinação ao mal e não destruí-la. Nós precisamos ser superiores estar acima dela, porque os desejos de doação devem estar acima dos desejos de recepção. No entanto, é proibido extinguir os desejos de recepção; pois, assim, os desejos de doação não podem existir.

Sem a Yetser Hará (inclinação ao mal), o que nos resta? A Yetser HaTov (a inclinação ao bem) não pode existir em nós, porque este é o Criador, o desejo de doar. Eu não posso ser a Yetser HaTov; a Yetser HaTov só pode existir dentro de mim na medida em que anda sobre a Yetser Hará.


Yetser Hará me garante a separação do Criador, a independência. E a Yetser HaTov que a controla me dá a forma do Criador. No entanto, eu só posso pedir que a Yetser HaTov domine a Yetser Hará dentro de mim. Somente a Luz Superior pode realizar isso; eu mesmo não sou capaz de fazer. Isso não está em meu poder.

Eu só posso esclarecer que isso é o que é exigido de mim. Eu recebo essa possibilidade como resultado da Shevira, que constrói a conexão entre o desejo de receber e o desejo de doar. Então, eu recebo a capacidade de esclarecer, analisar, diferenciar entre um e outro. A Luz Superior começa a iluminar estes conceitos para mim e eu vejo o que é bom e o que é ruim.

Da Preparação para a Lição Diária de Cabalá 06/03/14