Eu Anseio Por Doação

laitman_527_03Pergunta: Por que o Criador aflige dor aos justos, e como posso justificá-Lo?

Resposta: Para que o justo possa justificá-Lo. Você “coloca a carroça na frente dos bois”. No entanto, a verdade é que o Criador aflige dor aos justos, para que eles tenham a oportunidade de abençoar e justificá-lo. Como eles podem justificá-Lo sem a dor, com que motivos?

Uma pessoa independente deve ser oposta ao Criador internamente, e semelhante a Ele externamente. Isso significa que você deve ser feito de duas forças opostas, duas formas opostas, dois atributos opostos.

Está escrito: “Eu criei a inclinação do mal, eu criei a Torá como tempero”. Isto se refere à Luz nela, uma vez que a Luz nela a reforma. A inclinação ao mal, a matéria do desejo de receber, continua a ser como ela é, e nós temos que vestir a intenção a fim de doar acima dela. Assim, nós a reformamos com a ajuda da Luz e a alteramos para a forma boa e correta.

Quando trabalhamos dessa maneira, primeiro amaldiçoamos o Criador em todos os níveis e em desacordo com Ele. Esta é a razão do nível de Ibur (Conceição) ser chamado de “raiva e ira”. Depois nós alcançamos a bênção e a justificação do Criador, até alcançarmos o autosacrifício.

No entanto, o meu autosacrifício não é o resultado do prazer como ocorre em nosso mundo, quando estou pronto para me sacrificar totalmente se valer a pena. Nesse caso, eu não me conecto ao Criador, mas ao prazer que deriva Dele, e, se ele parar, o meu ego não vai permitir mais que eu me conecte a ele. Nós dependemos totalmente do prazer neste mundo, ao passo que, na espiritualidade, adicionamos outra dimensão, outro nível, e alcançamos a adesão com o Criador e não com o prazer e os benefícios que derivam Dele.

Agora, eu começo a valorizar o meu estado como aquele que doa e dá. O Criador não me dá. Eu não preciso de Sua doação. Eu não quero recebê-la. Não quero me aderir a Ele por causa dessa bondade. Eu não quero ser viciado nela. Quero respeitar o atributo de doação, que não tem forma ou imagem. Eu anseio por ele.

Como resultado, eu devo ser feito de duas formas, de uma forma interna que é o desejo de receber e da forma externa que é a intenção a fim de doar. Caso contrário, eu não posso estar aderido a Ele, uma vez que “o nosso coração se alegrará Nele” e não nas Luzes que vêm Dele, que só me confundem e subornam, e que eu devo resistir.

As Luzes são medidas de cima e me despertam – ou seja, o meu ego- para que eu seja aceso e me torne viciado no prazer que me deixa louco e domina minha mente e meu coração. Por fim, eu fico com apenas um ponto que não me atrai aos prazeres que vêm da Luz, e, nesse ponto, posso me manter constantemente fora do prazer, recusando as ofertas tentadoras. Isso não! Para não ficar viciado no prazer!

As tentações fazem a nossa cabeça girar, e o corpo é confundido pela emoção. Aqui, temos que preparar a garantia mútua entre nós, já que, sem ela, não posso ser independente. O prazer vem para cobrir a vergonha e me tornar independente. Baal HaSulam fala sobre isso no Talmud Eser Sefirot, “Histaklut Pnimit”, parte 1, item 7:

… Eles disseram que há uma grande falha nos presentes gratuitos, ou seja, a vergonha que encontra cada receptor de um presente gratuito. Para consertar isso, o Criador preparou este mundo, onde há trabalho e esforço, de modo a ser recompensado no próximo mundo por seu esforço e trabalho.

Mas essa desculpa é muito estranha. É como uma pessoa que diz a seu amigo, “trabalhe comigo apenas um minuto, e em troca eu lhe darei todo prazer e tesouro do mundo pelo resto de sua vida. Não há de fato maior presente gratuito que esse, porque a recompensa é incomparável ao trabalho. Neste mundo transitório e sem valor, o trabalho é comparado à recompensa e prazer no mundo eterno.

Que valor existe para o mundo passageiro em comparação com o mundo eterno? Ainda mais no que diz respeito à qualidade do trabalho, que é inútil em comparação com a qualidade da recompensa.

Nossos sábios disseram: “O Criador está destinado a dar de herança a cada pessoa justa 310 mundos, etc.” Não podemos dizer que parte da recompensa é dada em troca de seu trabalho, e o resto é um presente gratuito, pois daí o que isso faria de bom? A mancha da vergonha ainda permaneceria! Na verdade, suas palavras não devem ser interpretadas literalmente, pois há um profundo significado em suas palavras.

Da 2ª parte da Lição Diária de Cabalá 16/02/14, O Livro do Zohar