Um Jogo Que Se Torna Nossa Vida

laitman_527Pergunta: Por que uma criança joga com tanta naturalidade e sinceridade enquanto que para um adulto um jogo é uma mentira?

Resposta: É porque nós, adultos, nos acostumamos a viver numa mentira: a nossa vida é uma mentira e o jogo é uma mentira. Não é um crime, mas simplesmente a nossa natureza. Um jogo é sempre uma mentira e nunca a verdade, porque, afinal de contas, não jogo como eu sou, mas alguém que eu gostaria de ser.

Nós não seríamos capazes de avançar sem jogos. As crianças percebem um jogo como a verdade absoluta e, portanto, se desenvolvem e crescem. Se nós participássemos incondicionalmente de um jogo, como crianças, nós não conseguiríamos deixá-lo e ficaríamos nele.

Esta é realmente a ferramenta que a sabedoria da Cabalá usa. Disseram-me: “É preciso amar os outros, e neste amor você começará a sentir o Criador! Aqui, você tem um grupo que é feito de dez pessoas; comecem a estabelecer tais relações entre vocês, fingindo que cada um ama o outro. Vocês têm que criar uma atmosfera entre vocês para que cada um desapareça nele e derreta em seu amor pelos outros”.

Eu represento esse amor uma e outra vez, retornando a ele mil vezes a cada dia até que estou incorporado nele a tal ponto que me derreto nesse amor e conexão. Então eu posso alcançar a revelação do Criador.

Ao ser incorporado no amor, eu sou incorporado no Criador. Isso deixa de ser um jogo e torna-se o jogo da minha vida. Mas primeiro eu o jogo artificialmente: finjo que amo os amigos e me anulo diante deles sem qualquer desejo de fazer isso. Eu me forço e me convenço de que tenho que representar esse amor, embora não o sinta.

Mas, de repente, eu sinto uma sensação calorosa. Os outros me influenciam dando um exemplo para mim com sua alegada atitude amorosa; eu vejo que eles são leais a esse amor e me sinto envergonhado de não poder devolver o mesmo amor a eles. Eu me critico e repreendo uma e outra vez, e mais uma vez me forço a amar os outros.

Mas quando eu me anulo dessa forma, de repente começo a ver como todos os objetos corpóreos ao meu redor começam a desaparecer: a mesa, as cadeiras e as paredes. Todos desaparecem da minha percepção e só uma coisa permanece: o amor que eu sinto. Eu também desapareço. Eu me torno escravo deste sentimento de amor, e não há mais nada, exceto aquela sensação que é externa a mim, já que o meu “eu” desaparece.

O meu “eu” é o meu ego, que desaparece, e eu começo a sentir como a força superior, o Criador, preenche tudo. É porque eu me anulei e agora posso senti-Lo. Eu anulei o meu egoísmo e recebi o atributo da força superior, o atributo de doação, e este é o verdadeiro jogo.

De KabTV “Os Capítulos da Torá com Shmuel Vilozni” 02/02/15