Servos Do Seu Próprio Livre Arbítrio

Dr. Michael LaitmanA Torá, “Levítico”, 25:39 – 25:41: Quando também teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como escravo. Como diarista, como peregrino estará contigo, até o ano do jubileu te servirá. Então, sairá do teu serviço, ele e seus filhos com ele, e tornará à sua família e à propriedade de seus pais.

Se eu tenho desejos que não estão prontos para existir separadamente, devo mantê-los comigo e com toda a seriedade, “fazer com que caminhem com suas próprias pernas”. Depois de terminar todo o trabalho em todo o aglomerado de desejos, eles se separam e se afastam de mim de forma independente e continuam a sua existência independente.

Nós estamos sempre falando de desejos e não de corpos. Isso se refere a um esquema no qual um imenso desejo explodiu em 600000 partes que devem ser reconectadas umas com as outras para se transformar novamente num todo geral, embora o egoísmo e a rejeição mútua estejam queimando dentro deles. Tudo isso permanece, mas é coberto e neutralizado pelo amor.

Segue-se que este enorme ego e o enorme amor, que foi criado entre eles graças ao ego, permanecem e reúnem intensidade, realização interior, e unidade interna com o Criador. Portanto, todos os problemas só são necessários para revelar de forma mais óbvia o estado de nossa união com o Criador. Tudo gira em torno disso; não há mais nada.

Os servos são os desejos que não podem ser independentes, de modo que parecem ter sido vendidos como escravos. Ou seja, eu concordo que preciso, como uma criança pequena, ser governado por alguém grande, porque há mal em mim e eu quero alguém mais maduro do que eu para me controlar, senão vou continuar num mau caminho. Então, eu concordo com isso voluntariamente.

A pessoa que não pode servir e cuidar de seu ego por si mesma é subordinada a outra pessoa (um ego maior), e se estiver aderida a ela, está pronta para trabalhar com ela por o seu ego, porque, neste caso, aquele que é maior protegerá e cuidará dela. É como uma criança que compensa seus pais, dando-lhes prazer. É assim que a natureza nos criou. Eu dou ao meus pais prazer e em troca eles cuidam de mim. E se a natureza não tivesse me criado de tal forma que apenas com a minha existência eu desse prazer a meus pais, eles não se preocupariam em me cuidar. Portanto, o servo dá prazer ao seu dono e está pronto para trabalhar por ele. E o mestre assume a responsabilidade por ele, por sua vida e a satisfação de suas necessidades.

Em nosso mundo, nós entendemos errado a escravidão. A escravidão é um estado onde a pessoa entra por seu próprio livre arbítrio. Enquanto eu quiser ser um servo, eu continuarei a ser um servo. E se eu provar que quero ser libertado dos grilhões da servidão, isso vai acontecer imediatamente. Nós vemos isso no exemplo do Êxodo do Egito, que representa a servidão egoísta. Se você quiser abandonar o ego, então, por favor, tudo o que resta é mostrar aos seus desejos: para que você está pronto.

Eu estou pronto para viver de forma independente, sem o ego, e obter satisfação e comida para mim, para trabalhar no desenvolvimento deste processo? Eu entendo que isso não é em prol do ego, mas e prol do Criador? Como isto deve ser realizado? Se eu provo tudo isso, então, o caminho está aberto.

Pergunta: Mas, de um ponto de vista espiritual, um servo quer ter um mestre, pois isso é doce para ele, é uma boa situação. Por que ele deveria abandonar isso?

Resposta: A propósito, assim que aconteceu. A escravidão não era submissão e subjugação! Mas eu tenho que mostrar que amadureci, que quero e posso cuidar de mim e minha família. Eu já não tenho a necessidade de um mestre que me governe; eu estou pronto para me controlar. E o ego que me controla, sussurra-me: “Para que você quer isso, por quê? Viva com conforto!”

Nós vemos que sete bilhões de pessoas querem ser escravas. Não há ninguém que queira se tornar independente no lugar do Criador, ou seja, se preocupar com todos. Ninguém quer isso! Todo mundo quer a prosperidade material convencional, rodando entre eles, ajudando uns aos outros dentro de seu pequeno círculo fechado. Este é o seu pequeno mundo, e o que está fora dele não lhes interessa. Afinal, em um pequeno círculo, eu me sinto todos como eu. Enquanto que, num grande círculo, eu preciso saie dos limites do meu eu. Segue-se que a sociedade ainda não está suficientemente desenvolvida.

Eu só sinto parceria com alguém que é igual a mim e não me envergonho disso. A principal coisa é que eu vou ser como ele e ele vai ser como eu. Nós aspiramos a isso e prestamos muita atenção nisso. Todo o objetivo de nossa existência é alimentar a nossa besta (o corpo físico), e levar a pessoa a um estado de absoluta igualdade com todos. Isso cria uma situação muito interessante, um comunismo natural, onde existem pessoas de acordo com as leis da natureza, satisfeitos apenas com as necessidades mínimas de existência.

Suponha que eu plantei cenoura, repolho e batata no meu jardim. Para o inverno, eu tenho cinco sacos de batatas, dois sacos de repolho e não preciso de mais nada. Por que eu deveria trabalhar mais e trabalhar para outra pessoa? Seria pelo modo como os vizinhos olharão para isso?! Por que, de repente, eu deveria derrubar os limites do meu círculo? É assim que vivemos.

Comentário: É incrível, mas 70% – 80% das pessoas realmente não querem nem expandir seu lote de terra, porque o que elas têm é suficiente para elas.

Resposta: E este é um comunismo natural que se revela no nível animal. Afinal, os animais na florestal procuram sua comida para aquele dia, e no dia seguinte eles procuram outra coisa. Enquanto que, entre as pessoas, isso é revelado um pouco diferente. Elas sabem de antemão o mínimo que precisam para viver.

É possível superar esse estado? Deve-se tentar fazê-lo com a ajuda da sabedoria da Cabalá, que começa a desenvolver os desejos não no sentido negativo, no sentido do ego, mas no sentido positivo, no sentido do altruísmo. Componentes igualmente altruístas e egoístas vão crescer nas pessoas. É assim que elas gradualmente crescem.

Comentário: É interessante que os sociólogos têm tentado despertar as pessoas, convidando-as a desenvolver um negócio, e percebendo que não podem motivá-las a fazer isso.

Resposta: Negócios para pessoas como essas simboliza sair do seu equilíbrio normal. Elas sentem que estão na situação certa que é boa para elas; elas não precisam de mais nada. Elas têm algo para vestir, o que comer, e isso é o suficiente. E se algo está quebrado em algum lugar, elas vão fazer um pequeno concerto, colocar algum tipo de placa e é assim que vão continuar a viver. Como é dito num provérbio russo: “Um camponês não vai atormentar-se antes de começar a trovejar”. Somente uma necessidade urgente irá forçá-lo a fazer alguma coisa.

A sabedoria da Cabalá fala precisamente deste nível, mas não de uma forma tão anarquista, quando a pessoa é completamente irrelevante. Ela explica que o próximo estado corrido da humanidade é a preocupação consigo e com os outros. Mas isso é apenas num nível de existência necessário para a vida; tudo o resto é dirigido para o desenvolvimento espiritual.

Portanto, se os Cabalistas chegam a essas pessoas e trabalham em seu desenvolvimento interior, sem tirá-las da mesma boa situação em que estão, a alma começará a ser desenvolvida nelas. Se uma pessoa trabalha para si mesma, acreditando que não tem mais nada, ela vai continuar a trabalhar para si mesma, e os Cabalistas irão desenvolver a sua alma, acrescentando o egoísmo espiritual, não físico.

Pergunta: É possível chamar a presente existência dessas pessoas de escravidão?

Resposta: Não, pois essas pessoas têm uma sensação de liberdade. Eu cuido de mim, eu ajudo meu próximo porque ele vai me ajudar, por sua vez. Nós dependemos uns dos outros. Nós somos como uma família. Eu não penso em nada além disso. Portanto, eu sou livre!

Pergunta: E se adicionarmos um componente espiritual a isso, é possível expandir o círculo gradualmente?

Resposta: Não. Não é necessário expandir o círculo, mas apenas aumentar a conexão entre as pessoas. Afinal de contas, as pessoas vivem para se sentir bem em si mesmas e apreciar uma a outro. Mas, na verdade, é especificamente os Cabalistas que criam esse componente de prazer entre elas.

De KabTV “Segredos do Livro Eterno” 12/11/14