Nós Somos Escravos?

laitman_532Comentário: A Haggadah de Pessach, a história da saída do Egito, começa com as palavras: “Nós éramos escravos no Egito…”.

Resposta: Nós ainda somos escravos, mas não percebemos isso. Nós nos consideramos uma nação livre que vive na “terra de Israel”, mas não é a “terra de Israel”. Não é nem mesmo o Egito ainda. “Egito” significa que reconhecemos a autoridade do Faraó sobre nós. No entanto, nós pensamos de forma diferente.

Olhe o que está acontecendo! Que tipo de jogo o nosso ego joga com o povo de Israel ! Nós estamos submersos em intermináveis ​​discussões, brigas… Estamos completamente imersos em todos os tipos de problemas. O nosso governo e todo o país estão divididos em vários fragmentos. Nós estamos quase diante de uma guerra civil!

Nós estamos muito longe de Pessach! Nós ainda estamos na mais funda e escura escravidão egípcia dos sete “anos de fome”. Nós não percebemos que é o nosso ego que nos governa, joga conosco, e nos coloca uns contra os outros.

Pessach é sobre a decisão de fugir da escravidão, sair do poder do egoísmo, do estado em que “engolimos” uns aos outros, como se diz, “E os filhos de Israel suspiraram pelo trabalho…”.

Pergunta: Será que nós somos escravos hoje?

Resposta: Não, nós não somos, uma vez que “um escravo” significa que a pessoa sente a sua própria escravidão e percebe sua dependência de sua natureza maléfica. Nós admitimos que odiamos nosso próximo e que somos obrigados a discutir e brigar uns com os outros. Nós não sabemos de onde vem esse desejo. Ele surge desde dentro e nós sequer o reconhecemos, nem sentimos que a força que nos rege é estranha para nós. Nós achamos que somos nós que escolhemos nos comportar dessa maneira.

Muitas pessoas fazem coisas ruins, mas não as consideram erradas. No entanto, há pessoas que reconhecem: “Eu estou cansado de minha maldade! Não sei o que fazer com este meu corpo, com minha natureza, os nervos, os estados de espírito… Eu olho para os outros e quero devastá-los. Eu não amo nem a minha esposa, nem a minha família. Eu quero abandonar este mundo. Deixe-o queimar completamente. Eu não tenho nenhuma ideia para onde fugir dessa vida! Eu não me importaria de viver numa ilha deserta”.

A sabedoria da Cabalá explica que a natureza humana foi criada má de propósito, para que possamos chegar à realização de sua maldade. Primeiro de tudo, nós não sentimos que somos maus. Achamos que é natural para os seres humanos ser maus. Então, nós gradualmente aprendemos a diferenciar entre nós mesmos e a nossa natureza e a perceber que somos construídos a partir de dois poderes: “nós” e nossa oposição, a inclinação ao mal chamada de “Faraó”.

Neste ponto, nós consideramos o Faraó como a inclinação ao mal que habita em nós, e pensamos: “Talvez eu devesse tentar evitar o seu poder? Deixe-me tentar tratar todo mundo bem. Não importa como vão acabar as minhas tentativas, mas eu ainda quero aprender a me controlar!” O Faraó constantemente desliga nossa “dupla visão” que está definida para diferenciar entre “nós” e “ele”. Ele nos faz tratar os outros de uma maneira ruim.

No final, nós chegaremos a entender que o Faraó é um poder maligno e hostil que nos controlou para nos fazer reconhecer que é um estranho para nós, levando-nos assim a um desejo de fugir dele. Não está em nosso poder lutar contra isso, mas nós somos capazes de nos separar dele. O distanciamento do poder do mal é chamado de “fuga do Egito”. O mal permanece intacto; somos nós que paramos de nos associar com ele.

O mal ainda está dentro de nós, em algum lugar nas camadas mais profundas de nós, mas nós não o permitimos “saltar” para fora; nós o suprimimos e nos desprendemos dele. O desprendimento da maldade elevando-se acima dela é chamado de “sair do Egito, a fuga do poder do Faraó”. Neste ponto, chegamos à redenção. Ainda não somos um povo livre na terra livre. Nós ainda não fizemos a transição da escravidão para a liberdade. Nós apenas fugimos da escravidão, mas ainda não atingimos a liberdade.

Neste ponto, nós precisamos desesperadamente nos desprender do Faraó. Este estado é chamado de “Pessach“. Nós começamos a corrigir as propriedades associadas com o Egito e o Faraó. Não temos outra natureza. Tudo o que temos é a inclinação ao mal que temos que corrigir e transformá-la em benevolência. A fim de alcançar este estado depois de sair do Egito, nós precisamos de um poder especial que nos permite fazer esclarecimentos sobre a nossa autocorreção. Esse período é chamado de “contando os dias de Omer“.

No Egito, havia abundância de pão para nós. Durante a primeira semana depois que saímos do Egito, nós comemos “pão frugal” chamado “matzá“. Mais tarde, voltamos ao pão regular. Esse período é chamado de “contando os dias de Omer. Omer” é um feixe de grãos.

Nós verificamos os nossos desejos maus, todos os 49 deles. Estes desejos são chamados de “Sefirot. Sete Sefirot ou sete partes de nosso desejo são chamadas de “Hesed, Gevura, Tiferet, Netzah, Hod, Yesod e Malchut“. Cada uma delas se divide em sete partes. É por isso que nós temos 7 x 7 = 49 desejos diferentes que estamos prontos para corrigir.

Nós “abandonamos” esses desejos no momento do nosso êxodo do Egito, ou seja, nós paramos de usá-los. Agora, começamos a testá-los novamente. Nós verificamos cada desejo e avaliamos se usávamos eles para ferir os outros, caluniar, lutar, etc. Nós devemos encontrar uma maneira de usar os mesmos desejos para beneficiar os outros.

Nós devemos fazer a transição da inclinação ao mal para a inclinação ao bem em cada um dos nossos desejos. Nós temos que fazer um “inventário” de nossa maldade. Nós temos que encontrar uma maneira de usar nossos desejos para fins benéficos.

Até agora, ainda se trata de desprendimento do nosso estado anterior. Durante a noite de Pessach, nós fugimos e nos escondemos de todos os desejos. Nós os verificamos e tentamos entender como os nossos desejos se parecem agora. Nós os contemplamos de um novo nível, já estando “fora do Egito” e longe do poder do Faraó.

Nós olhamos para os nossos desejos e ficamos aterrorizados que os tínhamos anteriormente. No entanto, agora nós já os distanciamos de nós; nós não os consideramos mais nossos. Nós nos identificamos com o ponto que saiu do Egito e que está fora de qualquer desejo egoísta.

Neste momento, de uma nova “altura” nós verificamos cada desejo, um por um, todos os 49 deles. É chamado de “49 dias da contagem de Omer” uma vez que do novo nível que acabamos de alcançar, nós começamos a contar e a testar todos os nossos desejos e ver se somos capazes de alterá-los e usá-los para bons propósitos, em vez dos ímpios como fazíamos antes.

Isso é possível por causa do Faraó, que revela a nossa maldade para nós. Agora, nós podemos gradualmente transformar o mal em bem. Quarenta e nove dias da contagem de Omer é a preparação para o 50º dia que é chamado de “Shavuot“: a Entrega da Torá.

Por um lado, ele é chamado de “Shavuot” porque nós contamos todos os nossos desejos e fizemos um “inventário” deles; por outro lado, é chamado de “A Entrega da Torá”, uma vez que recebemos a Luz que Reforma. O Criador disse: “Eu criei a inclinação ao mal e criei a Torá como tempero para ela”.

Neste momento, vemos claramente o mal, uma vez que fizemos um inventário dos nossos desejos. Agora, nós precisamos de uma luz especial, uma força específica, chamada de “Torá”, que vai nos ajudar a usar os nossos desejos um após o outro e todos eles juntos em prol da doação e benevolência dos outros, já que a maior lei da Torá é “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Esse é o nível que, no final, iremos alcançar.

De KabTV “Uma Nova Vida” 24/03/15