Como Um Feixe De Juncos —Pluralmente Falando, Parte 6

Like a Bundle of ReedsComo um Feixe de Juncos, Por que Unidade e Garantia Mútua são Urgentes Hoje, Michael Laitman, Ph.D.

Capítulo 9: Pluralmente Falando

Afetando a Coesão Social Através do Ambiente Social

Por Que Formar Uma Sociedade Que Promove A Coesão?

No Capítulo 1, nós discutimos o conceito de “equivalência de forma” dizendo que se você é semelhante a algo, você consegue vê-lo, identificá-lo, revelá-lo. Será mais fácil para nós compreendermos esse conceito se considerarmos como os rádios funcionam. Um rádio consegue captar ondas somente quando ele cria ondas idênticas dentro dele. Da mesma forma, nós detectamos coisas que existem de modo aparente no exterior, mas somente de acordo com o que criamos internamente. É assim que descobrimos o Criador, a qualidade de doação, ao formar essa qualidade dentro de nós, assim também a descobrindo fora de nós.

Foi este princípio, “equivalência de forma” que tornou o método de Abraão tão bem sucedido. Seu grupo criou essa qualidade entre eles mesmos e assim descobriu o Criador. Isto é, ao mudar do modo “eu” para o modo “nós”, eles descobriram o modo “um”, o Criador, o único modo que realmente existe.

No mundo de hoje, obter coesão social é de suprema importância para nossa sobrevivência. Nós podemos considerar que a revelação do Criador é um tipo de “acessório”, se não fosse o fato do Criador ser a qualidade de doação, um traço sem o qual nunca alcançaremos união, e assim nunca remendaremos o abismo global que ameaça dobrar o mundo numa confrontação global. É por isso que é vital acelerarmos a divulgação do método de Abraão para alcançar união através da equivalência de forma.

Para fazer isso, primeiro devemos abandonar uma crença comum da nossa sociedade, a ideia de que temos “livre arbítrio”. A ciência demonstra que não há tal coisa, pelo menos não da maneira que pensamos normalmente, de que fazemos o que queremos pela nossa própria livre escolha. Nos últimos anos, dados que provam a nossa dependência da sociedade têm sido acumulados. Estes estudos demonstram que não só nosso sustento depende da sociedade, mas até nossos pensamentos, aspirações e chances de sucesso na vida. Na realidade, até a própria definição de sucesso é sujeita às vontades da sociedade. E por último, mas não menos importante, em grande medida, nossa saúde física é significativamente afetada pela sociedade.

Em 10 de setembro de 2009, O New York Times publicou uma história chamada, “Seus Amigos Estão Fazendo Você Engordar?” Por Clive Thompson. [i] Na sua história, Thompson descreve uma experiência fascinante realizada em Framingham, Massachusetts. Na experiência, que mais tarde foi publicada no celebrado livro, Conectados: O Surpreendente Poder das Nossas Redes Sociais e Como Elas Moldam as Nossas Vidas – Como os Amigos dos Amigos dos Amigos dos Seus Amigos Afetam Tudo o Que Você Sente, Pensa e Faz — as vidas de 15.000 pessoas foram documentadas e registadas periodicamente durante quinze anos. A análise dos dados dos professores Nicholas Christakis e James Fowler revelou descobertas surpreendentes sobre como nos afetamos uns aos outros em todos os níveis (físico, emocional e mental) e como ideias podem ser tão contagiosas como vírus.

Christakis e Fowler haviam descoberto que havia uma rede de interrelações entre mais de 5000 dos participantes. Eles descobriram que na rede, as pessoas se afetavam reciprocamente umas às outras. “Ao analisar os dados de Framingham”, Thompson escreveu, “Christakis e Fowler dizem que pela primeira vez conseguiram descobrir certa base sólida para uma teoria potencialmente poderosa na epidemiologia: que bons comportamentos, como deixar de fumar ou estar em forma ou ser feliz — passam de amigo para amigo praticamente como se fossem um vírus contagiosos. Os participantes de Framingham, sugerem os dados, influenciaram a saúde uns dos outros só ao socializar. E o mesmo foi verdadeiro sobre maus comportamentos — aglomerações de amigos pareceram se ‘infectar’ uns aos outros com obesidade, infelicidade e tabagismo. Ficar saudável parece não ser só uma questão dos seus genes e sua dieta. Boa saúde é também um produto, em parte, da sua clara proximidade com outras pessoas saudáveis”. [ii]

Ainda mais surpreendente foi a descoberta dos pesquisadores de que estas infecções podiam “saltar” conexões. Eles descobriram que pessoas podiam se afetar mesmo sem se conhecer! Além do mais, Christakis e Fowler descobriram provas destes efeitos até em três graus de distância (amigo de um amigo de um amigo). Nas palavras de Thompson, “Quando um residente de Framingham se tornou obeso, seus amigos eram 57 por cento mais propensos a se tornarem obesos, também. Ainda mais surpreendente… isso parecia saltar elos. Um residente de Framingham era aproximadamente 20 por cento mais propenso a se tornar obeso se o amigo de um amigo se tornasse obeso, até se o amigo conector não tivesse ganho um único quilo. Certamente, o risco de obesidade de uma pessoa subia cerca de 10 por cento se um amigo de um amigo ganhasse peso”. [iii]

Citando o Professor Christakis, Thompson escreveu, “Em certo sentido podemos começar a compreender as emoções humanas como a felicidade da maneira que podemos estudar a debandada dos búfalos. Você não pergunta a um búfalo individual, ‘Porque você corre para a esquerda’? A resposta é que a manada inteira corre para a esquerda”. [iv]

Mas há mais sobre o contágio social do que observar a condição de peso ou o coração de uma pessoa. Numa palestra na TED, o Professor Christakis explicou que nossas vidas sociais, e logo — julgando pelos parágrafos anteriores — muito das nossas vidas físicas, dependem da qualidade e força das nossas redes sociais e o que corre pelas veias dessa rede. Nas suas palavras, “Nós formamos redes sociais porque os benefícios de uma vida conectada superam os custos. Se eu fosse sempre violento com você… ou o deixasse triste… você cortaria os laços comigo e a rede se desintegraria. Então o espalhar de coisas boas e valiosas é necessária para sustentar e nutrir redes sociais. Da mesma forma, redes sociais são necessárias para a difusão de coisas boas e valiosas como amor, gentileza, felicidade, altruísmo e ideias. … Eu penso que as redes sociais estão fundamentalmente relacionadas à bondade, e o que penso que o mundo mais precisa agora é de mais conexões”. [v]

Mas nós não somos somente afetados pelas pessoas ao nosso redor. Nós somos significativamente afetados pela mídia, pela política, tanto nacional como internacional, e pela economia. Em Mundo em Fuga: Como a Globalização Está Reformando Nossas Vidas, o reconhecido sociólogo Anthony Giddens exprime sucintamente, embora com exatidão, nossa atual conectividade e confusão: “Para o melhor ou para o pior, estamos sendo impulsionados para uma ordem global que ninguém compreende totalmente, mas que está fazendo seus efeitos serem sentidos sobre todos nós”. [vi]

Nos últimos anos, o mundo corporativo captou a noção, e cursos e treinamentos abundantes surgiram na Internet, oferecendo alavancar a partir da nova tendência: o contágio social. Em Homo Imitans: A Arte da Infecção Social: Mudança Viral em Ação, o psiquiatra e consultor de liderança de negócios, Dr. Leandro Herrero, oferece um sumário astuto da natureza humana com respeito à influência do ambiente social: “Nós somos máquinas copiadoras intelectualmente complexas, racionalmente elegantes, altamente iluminadas e simples”. [vii] E para completar sua ironia sobre os méritos da natureza humana, ele escreve, “Os cordéis da rica tapeçaria de comportamentos do Homo Sapiens são feitos de imitação e influência”. [viii]

Contudo, o problema não está em nosso comportamento de uns com os outros ou com a Terra, não que haja muito a nos orgulharmos com respeito ao nosso tratamento de uns com os outros e com a Mãe Terra. Todavia, nosso comportamento é um sintoma de uma mudança profunda, uma explosão de egoísmo no nível do desejo, para a qual ninguém tem uma solução.

Com isso dito, muitas pessoas já compreendem que a mudança tem que vir de dentro de nós. Pascal Lamy, Diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmou que “O verdadeiro desafio hoje é tentar mudar nosso pensamento, não apenas nossos sistemas, instituições ou políticas. Nós precisamos da imaginação para perceber a imensa promessa – e desafio – do mundo interconectado que criamos. …O futuro reside em mais globalização, não menos, mais cooperação, mais interação entre os povos e culturas, e ainda maior partilha de responsabilidades e interesses. É a união na nossa diversidade global que nós precisamos hoje”. [ix]

Certamente, Lamy está certo em muitos aspectos. Nos últimos anos os neurocientistas têm estado ativos a respeito de uma descoberta relativamente nova, neurônios-espelho. Abreviadamente, neurônios-espelho são células localizadas numa região entre os córtices pré-frontal e motor do cérebro, e estão envolvidas em preparar e executar o movimento dos membros. Contudo, de acordo com uma história publicada no Psychology Today, eles também representam um papel vital na nossa interconexão social. “Em 2000, Vilayanur Ramachandran, o carismático neurocientista, fez uma previsão audaz: ‘neurônios-espelho farão pela psicologia o que o DNA fez pela biologia’. …Durante muitos anos, eles chegaram a representar tudo o que nos faz humanos.

“Para o seu livro de 2011, O Cérebro Contador de Histórias, Ramachandran levou suas afirmações mais longe. …ele argumenta que neurônios-espelho subjazem à empatia, permitindo que imitemos outras pessoas, que eles aceleraram a evolução do cérebro, que eles ajudam a explicar a origem da linguagem, e mais impressionante de tudo, que eles promoveram o grande salto na cultura humana que aconteceu há cerca de 60.000 atrás. ‘Nós poderíamos dizer que os neurônios-espelho tiveram o mesmo papel na evolução humana inicial como a Internet, Wikipedia e os blogs fazem hoje’, conclui ele.

“Ramachandran não está sozinho. Escrevendo para o The Times (Londres) em 2009 sobre o nosso interesse nas vidas das celebridades, o eminente filósofo, A.C. Grayling, rastreou tudo de volta a esses neurônios-espelho. ‘Nós temos uma grande dádiva pela empatia’, escreveu ele. ‘Esta é uma capacidade biologicamente evoluída, demonstrado pela função dos ‘neurônios-espelho’’. No mesmo jornal este ano, Eva Simpson escreveu sobre porque as pessoas ficaram tão emocionadas quando o campeão de Ténis Andy Murray se desfez em lágrimas. … ‘Culpem os neurônios-espelho, células cerebrais que nos fazem reagir da mesma maneira que alguém que estamos observando’. Num artigo do New York Times em 2007, sobre as ações heroicas de um homem para salvar outro, essas células apareceram novamente: ‘as pessoas têm ‘neurônios-espelho’’,  escreveu Cara Buckley, ‘que as fazem sentir o que outra pessoa está experimentando’”. [x]

De acordo com Jarrett, parece que “neurônios-espelho desempenham um papel causal (enfatizando a origem) em nos permitir compreender as metas por trás das ações das outras pessoas. Ao representar as ações de outras pessoas no movimento-vias do nosso próprio cérebro, assim ocorre o raciocínio, estas células nos fornecem uma simulação instantânea das suas intenções, uma base altamente eficaz para a empatia”.  [xi]

Embora existam muitos dissidentes para as teorias que rodeiam os neurônios- espelho, está claro que nossos cérebros dedicam porções do cérebro explicitamente para a comunicação com os outros, sem ter contato físico com eles, mas somente contato visual. Num sentido, estas células validam as palavras de Christakis e Fowler, “O grande projeto do século XXI – compreender como o todo da humanidade vem a ser maior que a soma de suas partes – é só o princípio. Como uma criança que desperta, o superorganismo humano está se tornando autoconsciente, e isto seguramente nos ajudará a alcançar nossas metas”. [xii]

[i] Clive Thompson, ” Seus Amigos Estão Fazendo Você Engordar?”, The New York Times (10 de setembro de 2009), http://www.nytimes.com/2009/09/13/magazine/13contagion-t.html?_r=1&th&emc=th

[ii] ibid.

[iii] ibid.

[iv] ibid.

[v] “Nicholas Christakis: A Influência Oculta das Redes Sociais” (uma conversa televisionada, citações retiradas do minuto 17:11), TED 2010, http://www.ted.com/talks/nicholas_christakis_the_hidden_influence_of_social_networks.html

[vi] Anthony Giddens, Mundo em Fuga: Como a Globalização está Reformulando Nossas Vidas (NY, Routledge, 2003), 6-7.

[vii] Dr. Leandro Herrero, Homo Imitans: A Arte da Infecção Social: Mudança Viral em Ação (UK: Meetingminds Publishing, 2011), 4.

[Viii] ibid.

[ix] Pascal Lamy “Lamy sublinha a necessidade de ‘unidade na nossa diversidade global’”, Organização Mundial do Comércio (OMC) (14 de Junho de 2011), http://www.wto.org/english/news_e/sppl_e/sppl194_e. htm

[x] Christian Jarrett, Ph.D, “Neurônios Espelho:? O Conceito Mais Sensacionalista em Neurociência?”. Psychology Today (10 de dezembro de 2012), url: http://www.psychologytoday.com/blog/brain-myths/201212/mirror-neurons-the-most-hyped-concept-in-neuroscience

[xi] ibid.

[xii] Nicholas A. Christakis, James H. Fowler, Conectado: O Poder Surpreendente de Nossas Redes Sociais e como Elas Moldam nossa Vida – Como Os Amigos dos Amigos dos Seus Amigos Afetam Tudo O Que Você Sente, Pensa e Faz (EUA, Little, Brown and Company, em 12 de janeiro de 2011), 305.