Como Um Feixe De Juncos — A Nação Em Missão, Parte 4

Like a Bundle of ReedsComo um Feixe de Juncos, Por que Unidade e Garantia Mútua são Urgentes Hoje, Michael Laitman, Ph.D.

Capítulo 4: Uma Nação Em Missão

O Papel do Povo Judeu

Adão – O Primeiro Homem, A Alma Coletiva

O ARI explica que, na verdade, somos todos partes de uma única alma, conhecida dos Cabalistas como Adam HaRishon (o primeiro homem), e à maioria de todos os outros como Adão. O exílio, diz o ARI, ocorreu como uma continuação do processo de correção. Em Shaar HaPsukim [Portão aos Versículos], ele escreveu, “Adam HaRishon [Adão] incluía todas as almas e incluía todos os mundos. Quando ele pecou, todas essas almas caíram dele nas Klipot [cascas, formas de egoísmo], que se dividem em setenta nações. Israel deve se exilar lá, em toda e cada nação, e reunir os lírios das almas sagradas que haviam se espalhado entre esses espinhos, como nossos sábios escreveram no Midrash Rabá, ‘Porque Israel foi exilado entre as nações? Para acrescentar estranhos a si mesmo'”. [i]

A esse respeito, o NATZIV de Volozin escreveu, “Seu início foi no Monte Ebal… mas eles completaram esta questão exaltada somente através do exílio e dispersão”. [ii]

É por uma boa razão que o exílio é necessário, para completar a correção dos judeus, e daí em diante do mundo inteiro. Anteriormente, nós dissemos que quando Abraão ofereceu o método de correção aos seus conterrâneos babilônios, eles o rejeitaram porque estavam demasiado ocupados sendo egocêntricos e egoístas. Todavia, se todos somos partes de uma alma coletiva, como o ARI apontou, no final todos nós teremos que alcançar a correção, pela qual descobriremos o Criador e nos tornaremos como Ele. Este é o benefício, como descrito no Capítulo 2, que Ele pretendeu dar à humanidade.

Assim, a correção de Abraão foi somente o princípio do processo, certamente não o seu fim. Num ensaio longo e elaborado intitulado, “E Eles Construíram Cidades-Armazém”, Baal HaSulam escreve, “Nós devemos também compreender o que Abraão o Patriarca perguntou, ‘Como saberei que ei de herdá-la?’’ (Génesis 15:8) O que respondeu o Criador? Está escrito, ‘E Ele disse a Abraão: Sabei com uma certeza que tua semente será estranha numa terra que não lhe pertence’”. [iii] Baal HaSulam explica que com esta resposta, o Criador promete a Abraão que todas as pessoas alcançarão a correção através da mistura da nação corrigida – Israel – com as nações não corrigidas – neste caso representadas pelo Egito.

Surpreendentemente, em resposta a esta questão, o Criador promete a Abraão o exílio. E não somente isso, escreve Baal HaSulam, Abraão “…aceitou isso como uma garantia da herança da terra”. [iv] Certamente, Abraão sabia que a mistura dos desejos – representada pelas diferentes nações do mundo – era necessária para completar a correção da humanidade. Considerando que cada uma das nações representa uma parte da alma de Adão, é necessário que cada parte da alma seja introduzida ao método da correção e que essa parte da alma no final o adote. Foi por isso que Israel teve de que ser exilado e espalhado pelo mundo.

Como parte da expansão do processo de correção na humanidade, Abraão foi para o exílio no Egito, onde sua tribo havia se tornado uma nação. E quando a nação se exilou depois da ruína do Primeiro e Segundo Templos, ela introduziu o método de correção ao mundo inteiro.

Embora o método não tenha sido claramente adotado pelo resto da humanidade, ele plantou os princípios já mencionados, princípios que formam a base comum sobre a qual se inicia o processo de correção assim que as pessoas começam a procura-lo.

Em “O Arvut [Garantia Mútua]”, Baal HaSulam detalha o processo pelo qual a nação Israelita corrige primeiro a si mesma, de modo a transmitir a correção ao resto das nações. Em outras palavras, “Rabi Elazar, filho de Rashbi (Rabi Shimon Bar-Yochai), esclarece este conceito do Arvut ainda mais. Não basta para ele que todos de Israel sejam responsáveis uns pelos outros, mas que o mundo inteiro esteja incluído nesse Arvut. …Cada um admite que para começar, basta começar com uma nação para a observação da Torá [lei da doação] para o início da correção do mundo. Foi impossível começar com todas as nações de uma só vez, como eles dizem que o Criador foi com a Torá a cada nação e língua, e eles não a quiseram receber. Em outras palavras, eles estavam imersos em… amor próprio… até que foi impossível conceber nesses dias sequer questionar se concordavam em se retirar do amor próprio.

“…Mas o fim da correção do mundo será somente ao trazer todas as pessoas do mundo sob Sua obra, como está escrito, ‘E o Senhor será Rei sobre toda a terra; nesse dia será o Senhor Um, e Seu nome um’ (Zacarias, 14:9). …‘E todas as nações fluirão a Ele’ (Isaías, 2:2).

“Mas o papel de Israel para o resto do mundo se assemelha ao papel de nossos Sagrados Patriarcas para a nação Israelita. Tal como a retidão de nossos pais nos ajudou a desenvolver e purificar para nos tornarmos dignos de receber a Torá [lei da doação] … cabe à nação Israelita qualificar a si mesma e a todas as pessoas do mundo através da Torá e Mitzvot [correções do egoísmo], para se desenvolverem até que tomem sobre si esse trabalho sublime do amor ao próximo, que é a escada para o propósito da Criação, estar em Dvekut [similaridade/equivalência de forma] com Ele”. [v]

Da mesma forma, no seu ensaio, “A Serva que Fica Herdeira de Sua Senhora”, Baal HaSulam escreve, “O povo de Israel, que foi escolhido como um operador do propósito e da correção geral… contém a preparação necessária para crescer e se desenvolver até que mova as nações dos mundos, também, para alcançarem a meta comum”. [vi]

Baal HaSulam e seu filho, o Rabash, podem ter sido os últimos Cabalistas a afirmar que o papel de Israel no mundo é trazer o método de correção ao resto das nações, mas certamente não foram os primeiros. Incontáveis rabinos, Cabalistas e acadêmicos, desde praticamente a ruína do Segundo Templo, também afirmaram isso.

Assim, o Midrash Rabá afirma que “Israel traz luz ao mundo”, [vii] e o Talmude Babilônio acrescentou, “O Criador agiu em retidão para Israel, tendo-os dispersado entre as nações”. [viii] Rabi Yehuda Altar, o ADMOR de Gur, escreveu, “Qualquer exílio no qual os filhos de Israel entram é somente para suscitar centelhas sagradas dentro das nações [semelhante às palavras acima citadas de Baal HaSulam]. Os filhos de Israel são os fiadores de que receberam a Torá em prol de corrigir o mundo inteiro, as nações, também”. [ix]

Da mesma forma, Rabi Hillel Tzaitlin escreve, “Se Israel é o verdadeiro redentor do mundo inteiro, ele deve ser digno dessa redenção. Israel deve primeiro redimir sua própria alma, a santidade da sua alma, a santidade da sua Shechiná [Divindade]. …Para esse propósito, eu desejo estabelecer com este livro a ‘união de Israel’ …Se fundada, a unificação dos indivíduos será pelo propósito da ascensão interior e a invocação para correções de todos os males da nação e do mundo”. [x]

Eu gostaria de concluir este capítulo com mais algumas palavras de Baal HaSulam, que em alguns parágrafos detalha o propósito da Criação, o direito da humanidade a ele, e o papel de Israel para alcança-lo. Em suas palavras: “Por que a Torá foi dada à nação Israelita sem a participação de todas as nações do mundo? Na verdade, o propósito da Criação aplica-se à toda a raça humana, sem exceção. Contudo, devido à baixeza da natureza da Criação [sendo egoísta] e seu poder sobre as pessoas, foi impossível que as pessoas compreendessem, determinassem e concordassem em se elevar acima dela. Elas não demonstraram o desejo de abdicar do amor próprio e chegar à equivalência de forma, que é a adesão com Seus atributos, como nossos sábios disseram, ‘Como Ele é misericordioso, seja misericordioso também’.

“Assim, devido ao seu mérito ancestral [os exemplos dados por Abraão, Isaac e Jacob], Israel teve êxito… e se tornou qualificado e sentenciou a si mesmo a uma escala de mérito [se corrigiu para se tornar como o Criador]. Todo e cada membro da nação concordou em amar seu semelhante [que é como eles alcançaram a correção].

“…Contudo, a nação Israelita era para ser uma ‘transição’, ou seja, que na medida em que Israel se purifica ao manter a Torá [leis da doação], eles passam seu poder ao resto das nações. E quando o resto das nações também se sentenciam mesmas a uma escala de mérito [se corrigem ao abdicar do egoísmo], o Messias [correção final] será revelado. É por isso que o papel do Messias não é de qualificar somente Israel à meta derradeira de adesão com Ele, mas ensinar os caminhos de Deus [doação] a todas as nações, como está escrito, ‘E todas as nações fluirão para Ele'”. [xi]

[i] O Santo ARI, Oito Portões, Shaar HaPsukim [Portão aos Versículos], Parashat Shemot [Porção Êxodo].

[ii] Rabbi Naftali Tzvi Yehuda Berlin (The NATZIV de Volozin), Haamek Davar [Mergulhar Profundamente na Matéria] sobre Devarim [Deuteronômio], capítulo 27:5.

[iii] Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag (Baal HaSulam), Os Escritos do Baal HaSulam, “Ensaios do Shamati [Eu Ouvi]”, ensaio no. 86, “E Eles Construíram Cidades-Armazéns” (Instituto de Pesquisa Ashlag, Israel, 2009), 591.

[iv] ibid.

[v] Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag (Baal HaSulam), Os Escritos do Baal HaSulam, “O Arvut [Garantia Mútua]” (Instituto de Pesquisa Ashlag: Israel, 2009), 393.

[vi] Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag (Baal HaSulam), Os Escritos do Baal HaSulam , “A Serva Que Fica Herdeira de Sua Senhora” (Instituto de Pesquisa Ashlag, Israel, 2009), 454.

[vii] Midrash Rabah , “Cântico dos Cânticos”, Parasha no. 4, 2o parágrafo.

[viii] Babylonian Talmud, Masechet Pesachim, p 87b.

[viii] Talmude Babilônico, Masechet Pesachim , 87b p.

[ix] Yehuda Leib Arie Altar (ADMOR de Gur), Sefat Emet [Linguagem da Verdade], Parashat Yitro [Porção Jetro], TARLAZ (1876).

[x] Hillel Tzaitlin, O Livro de Poucos (Jerusalém, 1979), 5.

[xi] Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag (Baal HaSulam), Os Escritos do Baal HaSulam, “O Amor de Deus e o Amor do Homem” (Instituto de Pesquisa Ashlag, Israel, 2009), 486