Como Um Feixe De Juncos – Párias, Parte 2

Like a Bundle of ReedsComo um Feixe de Juncos, Por que Unidade e Garantia Mútua são Urgentes Hoje, Michael Laitman, Ph.D.

Capítulo 5: Párias

As Raízes do Antissemitismo

Símbolos de uma Colisão Interior

Uma pessoa pode argumentar se a Bíblia, o Antigo Testamento, é uma documentação histórica genuína de eventos. Porém, os grandes sábios de Israel durante todas as eras não tinham preocupação com relevância histórica da Bíblia. Em vez disso, eles a viam como uma alegoria que retrata os processos espirituais internos que a pessoa experimenta durante o caminho da correção. Para eles, Nimrod, rei da Babilônia, representa meridah [hebraico: rebelião], desafio contra a qualidade de doação, o Criador; o Faraó significa a epítome da inclinação ao mal, e também Hamã, embora numa fase tardia do nosso desenvolvimento espiritual.

É por isso que RASHI interpreta o Talmude Babilónio como segue: “Seu nome era Nimrod, pois ele himrid [incitava] o mundo inteiro contra o Senhor”. [i]

A respeito do Faraó, Maimônides explica afetuosamente, “Vós deveis saber, meu filho, que o Faraó, rei do Egito, é na realidade a inclinação ao mal”. [ii] Da mesma forma, Elimelech de Lizhensk, o autor de Noam Elimelech (A Agradabilidade de Elimelech), escreveu simplesmente, “…Faraó, que é chamado ‘a inclinação ao mal'”. [iii]

Rabi Jacob Joseph Katz acrescentou profundidade à distinção a respeito do Faraó. Ele acrescentou que as palavras, “O Faraó havia deixado o povo ir” (Êxodo 13:17), designam a fase no nosso desenvolvimento espiritual em que uma pessoa se liberta dos pesados grilhões da inclinação ao mal. Nas suas palavras, “‘E quando o Faraó havia deixado o povo ir’ – quando os órgãos da pessoa deixam a autoridade da inclinação ao mal, como durante o êxodo do Egito, eles saem dos quarenta e nove portões de Tuma’a [impureza, egoísmo] para a santidade [doação]”. [iv]

Dentro do mesmo livro, Rabi Katz acrescenta suas visões a respeito de Hamã: “A instrução de Hamã de fazer uma forca de cinquenta cúbitos de altura é o conselho da inclinação ao mal”. [v] Da mesma forma, Rabi Jonathan Eibshitz escreve no seu livro Yaarot Devash [Colmeias] sobre “Hamã, que é a inclinação ao mal…”. [vi]

Mais recentemente, Cabalistas e acadêmicos judaicos começaram a sentir que o tempo era essencial e que a Era da Correção se aproximava. Eles começaram a acrescentar chamados implícitos, e por vezes explícitos, à ação em suas palavras. Assim, Rav Yehuda Ashlag, sentindo que a aplicação do método de correção era urgentemente necessária, fez um elo direto entre superar a inclinação ao mal e o modo como isso deve ser alcançado hoje – através da união. Num ensaio intitulado, “Há Certo Povo”, Baal HaSulam nos conta, “‘Há certo povo espalhado no estrangeiro e disperso entre os povos’. Hamã disse isso na sua visão: nós [o povo de Hamã] teremos sucesso em destruir os Judeus porque eles estão separados uns dos outros, então nossa força contra eles certamente prevalecerá, porque isto [a separação entre eles] causa separação entre o homem e Deus”. [vii]

Isto é, o egoísmo dos judeus os separa da qualidade de doação, o Criador, de modo que  a força do ego, a inclinação ao mal, “certamente prevalecerá”. “É por isso que”, continua Baal HaSulam, “Mardoqueu foi corrigir esse defeito, como é explicado no versículo, ‘Os judeus se reuniram…’ para se reunirem, e para defender suas vidas. Isto significa que eles haviam se salvado ao se unirem’”. [viii]

Desta forma, nós podemos concluir que se Nimrod, Faraó, Balaque ou Hamã realmente existiram é de importância menor. O que importa é que os traços retratados por estes personagens existem dentro de nós e a Bíblia só narra alegoricamente as fases pelas quais nós podemos superá-los.

Quando nós prevalecemos sobre essas qualidades do egoísmo, somos recompensados com a redenção – a qualidade de doação, a equivalência de forma com o Criador. E como o Criador nos deseja fazer bem, assim que tenhamos corrigido estes traços dentro de nós, eles não nos assombrarão mais, uma vez que fomos redimidos do egoísmo e adquirimos Sua qualidade de doação.

Se qualquer um destes exemplos de egoísmo vivesse hoje, certamente os categorizaríamos como antissemitas da pior espécie. Para esse efeito, o Rav Kook fez uma previsão ameaçadora (e verdadeira) ao traçar um elo direto entre os antissemitas modernos e os bíblicos. Numa afirmação pouco ortodoxa ele escreve, “Amaleque, Petlura [Líder ucraniano suspeito de ser antissemita], Hitler, e assim por diante, despertaram para a redenção. Aquele que não escutou a voz do primeiro Shofar [o símbolo do chamado para a redenção], ou a voz do segundo … pois suas orelhas estavam bloqueadas, escutará a voz do Shofar impuro, o imundo [não kosher]. Ele escutará contra sua vontade”. [ix]

[i] Talmude Babilônico, Masechet Hulin , 89a p.

[ii] Maimônides, Os Escritos do Rambam [Maimônides]. “A Ética do Rambam ao Seu Filho, o rabino Abraão”.

[iii] Elimelech de Lizhensk, Noam Elimelech (A Afabilidade de Elimelech), Parashat Beshalach [Porção: “Quando o Faraó Mandou”].

[iv] Rabbi Jacob Joseph Katz, Toldot Yaakov Yosef [As Gerações de Jacob Joseph], Beshalach [Quando Faraó Mandou], item 1.

[v] Rabbi Jacob Joseph Katz, Toldot Yaakov Yosef [As Gerações de Jacob Joseph], Beshalach [Quando Faraó Mandou], item 1.

[vi] Jonathan ben Natan Netah Eibshitz, Yaarot Devash [Favos de Mel], Parte 2, Treatise não. 10.

[vii] Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag, Shamati [Eu Ouvi], item 144, “Há Certo Povo” (Canadá, Laitman Kabbalah Publishers, 2009), 300.

[viii] ibid.

[ix] Rav Avraham Yitzchak HaCohen Kook (Raaiah), Ensaios do Raaiah , vol. 1, pp 268-269