Nas Garras Impiedosas Do Tempo

laitman_561Pergunta: Na idade adulta, a pessoa começa a perceber que seu tempo é limitado. Ela olha para trás e analisa o quanto conseguiu fazer com a sua vida e se ainda há tempo para mudar algo.

De acordo com estudos sociológicos, as pessoas deixam de se preocupar com o seu futuro a partir dos 65 anos de idade e dedicam seus pensamentos às memórias da vida que viveram.

Isto é devido ao medo do futuro, do desconhecido, da incerteza da morte e da nossa existência temporária. Qual é a sua perspectiva em relação à questão da nossa vida limitada e como devemos nos relacionar corretamente com o tempo?

Resposta: O tempo é um conceito muito concreto para nós. Nós não o sentimos tão acentuadamente durante a nossa infância, mas conforme a pessoa cresce e se torna adulta, o tempo se torna cada vez mais importante para ela.

Conforme a criança cresce, ela começa gradualmente a entender o que o tempo significa, como resultado de sua conexão com o ambiente. Crianças pequenas e bebês realmente não sentem o tempo, mas o ambiente as pressiona e coloca em estruturas de tempo: elas têm que se levantar na hora certa, comer na hora certa, ir à escola na hora certa, voltar para casa e ir dormir. A criança não quer estas estruturas, mas não tendo escolha, ela é forçada a aceitá-las de forma gradual. Assim, nós constantemente nos acostumamos a estar sob o domínio de tempo.

Depois nós começamos a estudar e trabalhar e isso nos persegue ainda mais em estruturas de tempo. Nós começamos uma família e assumimos responsabilidades ainda maiores sobre nós mesmos. Por fim, o tempo se torna um fardo pesado para nós que realmente nos escraviza.

Isso continua até que nos aposentamos; enquanto nos sentimos presos ao tempo por muitas obrigações diferentes, o tempo é o nosso grande policial, que constantemente exige a nossa obediência e submissão, e devemos obedecê-lo. Há sempre a opção de nos culpar a partir da perspectiva do tempo: “Onde você esteve por tanto tempo e o que você tem feito? Quando você vai voltar?”, etc.

Mesmo quando criança, uma pessoa sente que o tempo é limitado. Uma criança não quer sentir que está em estruturas de tempo, mas é constantemente obrigada a estar nelas, e a se adaptar a elas. Para uma criança é um problema e ela tenta lutar contra o tempo. Ela quer brincar e não quer estar nas garras do tempo limitada de um ponto no tempo para outro.

Quando ela cresce e se torna um adulto, ela começa a perceber que é inútil lutar contra o tempo e que ela só pode decidir como preenchê-lo. Então ela começa a correr junto com o tempo, tentando dar o seu melhor no tempo que lhe foi dado. Assim, ela valoriza suas conquistas, e de acordo com este critério, se compara aos outros: como ela é bem-sucedida em sua idade em comparação com seus pares.

Nós estamos numa competição constante. O tempo nos aprisiona em sua rede e é um fardo pesado sobre os nossos ombros, tornando-nos, assim, seus escravos.

Mas, depois dos 50 anos de idade, a pessoa começa a desaparecer gradualmente. Ela não tem grandes planos como antes. Seus planos se tornam gradualmente mais modestos; ela percebe que deve haver um equilíbrio e que não deve exigir muito da vida.

Ela sente cada vez mais suas limitações; não pode lutar contra o tempo e suas opções para preencher o tempo se tornam bastante limitadas. Por isso, ela prefere passar mais tempo com sua família e seus filhos, descansar e viajar.

O conceito de tempo se torna importante agora da perspectiva de quão agradável e confortável ela se sente em qualquer ponto do tempo. Ela começa a viver o presente e não mais no futuro, como fazia antes.

Portanto, as pessoas mais velhas se tornam mais como crianças, pois as crianças também vivem o agora.

De KabTV “Uma Nova Vida” 22/04/14