Família: Uma Massa De Concessões Mútuas

Laitman_095Pergunta: Se nós quisermos falar com o público em geral sobre o tema da família, por onde é preferível começar a conversa na aula introdutória?

Resposta: É preferível começar a conversa com uma explicação sobre a natureza dos homens e a natureza das mulheres, pois isso proporciona certo fundamento. Mas vale a pena abrir a explicação sobre a sua natureza à distância. Este é um assunto muito sério.

Primeiro de tudo, é preciso explicar que uma família não é construída no amor, mas no respeito mútuo, no complemento mútuo, na amizade e ajuda mútua, no anseio de compreender o outro, e a principal e mais importante coisa na qual a família é construída é a concessão mútua.

A verdadeira conexão entre um homem e uma mulher é construída na concessão mútua. De forma alguma nós vamos corrigir o parceiro; nós não tentamos falar sobre seus defeitos; pelo contrário, nós o aceitamos como ele é, e tentamos nos tornar alguém que o complementa.

Uma pessoa é uma entidade egoísta direcionada ao benefício pessoal dentro de si mesma. Quando alguém está ao lado dela e ela não pode explorá-lo em todos os momentos para o seu próprio benefício, é como se ela acumulasse cargas elétricas e, assim, centelhas começassem a “voar” entre eles, pois o outro é também um egoísta.

Será que nós podemos existir juntos em paz numa situação como esta? Por um período particular, quando o amor nos deslumbra, nós estamos cheios de felicidade e prontos para qualquer coisa. No entanto, quando isso passa e o véu do amor cai de nossos olhos, eu percebo que estou vivendo ao lado de um egoísta como eu, embora pensasse que tudo seria para mim e para o meu bem, e que as coisas seriam boas e agradáveis com a minha outra metade. No entanto, de repente, tudo é o oposto. Por isso, é necessário organizar tudo de maneira diferente, e não sob a influência da insanidade do amor que nos entorpece, mas com a sanidade do conhecimento.

Como nós podemos coexistir pacificamente? Então, gradualmente, nós levamos as pessoas a começar a discutir a relação complicada entre elas de forma neutra, discutindo apenas como fisiologia.

Elas não devem olhar para uma família em particular, mas geralmente esclarecer o que é uma família, o que é um ser humano, e isso as levará para longe de si mesmas, as levará para fora, uma vez que se houver um problema como este com todas, elas estão falando de um problema geral. Elas reduzem a tensão interna entre si e vão para a filosofia, onde falam de maneira geral e descobrem a natureza de um homem e uma mulher.

Elas são semelhantes em alguns aspectos e diferentes em outros. Elas são semelhantes na medida em que ambas são egoístas, e elas são diferentes em que o ego é expresso de um modo diferente em cada uma delas de acordo com cada um dos seus sistemas hormonais e psicológicos.

Depois disso, nós podemos ir ao próximo problema, o problema do casamento. O casamento é uma aliança; é uma aliança complementar: eu preciso dela e ela precisa de mim.

Quando nós entendermos isso, será claro para nós que a essência da nossa natureza é a recepção: eu sempre quero receber do parceiro. É assim que começamos a ensinar às pessoas os fundamentos da sabedoria da Cabalá.

Não há nenhuma provocação aqui! Eu quero roupas limpas, que o jantar esteja pronto, uma habitação arrumada. E o meu parceiro quer ver um homem na casa, um marido e um pai com tudo o que está envolvido nisso. É possível satisfazer as exigências do parceiro? Será que queremos fazer isso?

Visto que em geral nós dois estamos trabalhando, temos filhos, obrigações particulares depois do trabalho (banco, fazer compras, etc.), será que é objetivamente possível exigir do nosso parceiro o cumprimento de todas as nossas demandas?

Se nós vemos a lista de exigências mútuas, entendemos que, de fato, nunca nos conhecíamos. Eu não entendia o que ela queria de mim; afinal de contas, isso não é da minha natureza. Ela nunca me disse nada; em vez disso, esperava que eu achasse isso por mim mesmo.

É assim que mostramos às pessoas que o problema numa família é que somos egoístas: cada um de nós se senta e aguarda que o outro o satisfaço, mesmo quando ele não diz nada sobre isso. Assim, ele está constantemente ferido com antecipação de quando seu parceiro vai finalmente entende-lo.

Esta forma está completamente errada. Não vamos começar a nos aproximar de acordo com a lista de exigências: eu concedo – ela concede; eu faço algo por ela – ela faz algo por mim. Mesmo que vejamos as listas de cada um, não podemos nos prender a elas.

Vamos fazer isso de forma mais simples: nós começamos a conceder e a agradar um ao outro, nos transformamos em amigos que se ajudam mutuamente. Eu penso no que fazer por ela, ela pensa no que fazer por mim; nós começamos a jogar um jogo chamado “o método das concessões mútuas”. Este é um jogo, mas nós entramos nele. Cada um pensa em como dar ao parceiro o que ele agora gostaria de obter de mim.

Se nós nos comunicamos num formato como esse, começamos a educar e a internalizar dentro de nós esse hábito de conexão mútua, e, como resultado disso, algo chamado “amor mútuo” é criado entre nós. Este não é o mesmo amor onde nos beijamos à luz das estrelas, mas o amor que aparece numa base de concessões mútuas. Nós o construímos em nós mesmos e, depois, criamos algo compartilhado, não “ele” e “ela”, mas uma coisa chamada “família” ou “casal”.

A questão principal aqui é mostrar ao parceiro que mesmo que eu esteja fervendo de raiva e discordância com ele, eu faço um esforço para me voltar a ele calmamente, como se nada tivesse acontecido.

As concessões são realizadas subindo-se sobre o meu ego. Eu não escondo isso de forma a ensinar o outro, a dar-lhe um exemplo. E se um dos parceiros não está pronto para subir sobre si mesmo, o outro deve ajudá-lo.

A pessoa deve se transformar em alguém que inclui dentro de si pelo menos duas imagens. Uma imagem é que no presente momento eu estou odiando a minha outra metade. No entanto, por outro lado, apesar disso, eu me identifico com ela de forma correta, boa, suave, e, assim, ela vê que eu estou subindo sobre mim mesmo.

Nós temos que jogar com isso. Não temos outra opção para salvar a família. O ego tem crescido. Se não agora, então em mais alguns anos as pessoas não serão capazes de viver uma com a outra. Elas devem entrar nesta imagem e experimentá-la de modo que uma impressão disso vai permanecer nelas.

Depois disso nós lhes damos a lição de casa: até amanhã não digam uma palavra ruim ao outro, mas sim sorriam e obtenham prazer com a subida interior e a luta consigo mesmo.

Depois de tudo, todos obtêm prazer, primeiro por subjugar a si mesmos; e, segundo, com isso eles se conectam com outras pessoas, que lhes dão prazer adicional que eles não experimentaram antes. Em outras palavras, eles têm um componente espiritual aqui.

A família é uma massa que é criada seguindo as concessões mútuas, e como resultado, elas produzem uma conexão que é chamada de “amor”. O amor é criado somente quando entendemos como depende de nós completar um ao outro e tentar fazer isso.

O que significa “E amarás o teu amigo como a ti mesmo”? Eu tomo seus desejos e tento satisfazê-los. Ela toma os meus desejos e tenta me satisfazer.

Mas nós não falar com eles sobre isso; em vez disso, nós simplesmente os trazemos às concessões mútuas, às ações de acordo com a sabedoria da Cabalá no âmbito da família.

Aos poucos, a nossa antiga natureza desaparece em algum lugar lá dentro e sobre ela é construída uma camada de um novo relacionamento mútuo, que se torna a nossa realização comum, a posse, um tesouro da família. Depois disso, a partir dele o amor nasce. Isso é chamado de amor verdadeiro: “E amarás o teu amigo como a ti mesmo”.

De uma Palestra sobre a “Família” 28/05/14