O Povo Que Virou As Costas Para O Seu Destino

Laitman_167Pergunta: A porção semanal atual, “Toldot” (Gerações), fala sobre a venda do direito de primogenitura. Traçando um paralelo com os dias de hoje [em Israel], nós podemos dizer que alguns estão escolhendo pudim leitoso?

Resposta: Nada disso. Afinal, Esaú é o egoísmo primogênito, um enorme vazio que precisa se preencher. Não há como escapar dele. Se o egoísmo não tivesse nascido, o universo não teria existido. É por isso que o nascimento começa com o egoísmo.

Depois que o egoísmo nasceu e se manifestou, uma metodologia ou um programa para o preenchimento do egoísmo tornou-se necessário. Em outras palavras, é necessário algum tipo de símbolo, uma intenção que seja possível de se utilizar, uma fórmula com a qual esse Esaú possa ser adequadamente administrado e preenchido. Caso contrário, é impossível preencher e satisfazer.

Jacó é tal fórmula. Ele é uma função de utilidade, um mecanismo de apoio que preenche o egoísmo. De um modo geral, Esaú é toda a base da natureza.

Pergunta: O que é o direito de primogenitura de Esaú para a nossa época e para o Israel moderno?

Resposta: Em primeiro lugar, “Esaú” e “Jacó”, “Israel” e “povos do mundo” são sistemas completamente diferentes.

Esaú é Esaú, ele não pode fazer nada por si mesmo. A única coisa que ele pode fazer é perseguir Jacó para provocar e forçá-lo a realizar a satisfação pessoal. Portanto, Esaú inicialmente diz: “Eu vou vender o meu direito de primogenitura a você. Por que eu preciso disso? Eu não posso recolher nada dele”.

Por que Jacó comprou o direito de primogenitura? A fim de implementá-la.

Hoje nós somos seus herdeiros (os descendentes de Jacó) e filhos que não fazem seu trabalho. Em vez disso, preferimos a sopa de Esaú, como se estivéssemos em seu nível desejando se tornar como ele. Como se nós quiséssemos ser como as nações do mundo, entre as quais vivemos.

O que me espanta é quando eu vejo o que vem acontecendo com o povo judeu, o que aconteceu com eles. Parece que seria impossível: o quanto eles viraram as costas e retiraram-se da sua finalidade.

Pergunta: Quais são as consequências dessa fuga?

Resposta: Apenas uma, que Esaú exigisse a resolução dos problemas, em outras palavras, seu preenchimento. Isto significa que o plano da criação será implementado através de Esaú.

Quando Esaú nos obriga e exige que executemos, isso é chamado de “o caminho do sofrimento” ou “Beito” em hebraico, em seu próprio tempo. Constantemente, a cada momento, o programa da criação será executado, mas o tempo todo através da força motriz.

Por outro lado, é desejável e finalmente necessário cumprir o programa da criação através do trabalho da Jacó, consciente e voluntariamente, por seu livre arbítrio.

Isto significa que, no final, o povo de Israel, ou aqueles que hoje são chamados assim, devem perceber a sua missão, seu objetivo, que deve ser alcançado por todos, por Esaú, pela humanidade; e eles devem cumprir a sua missão. Eles são obrigados. Não há para onde fugir.

Acontece que a atual porção semanal da Torá descreve tal destino, o destino do qual não podemos escapar.

Que tipo de infâmia, fraqueza e insignificância nós estamos demonstrando por querer abandonar e afastar o papel de Jacó de nós mesmos e nos disfarçar na pele de caça de Esaú. Este é um estado desprezível e lamentável que alcançamos.

Pergunta: Será que isso significa que hoje temos confundido os papéis?

Resposta: Sim. É por isso que todas as tentativas de Esaú não são estranhas, ou seja, toda a comunidade internacional, nos trazer de volta ao estado correto para o nosso trabalho, para o que temos que fazer por ela, para o bem dela. Em geral, para o bem do Criador.

Em outras palavras, nós temos que tomar a primogenitura e implementá-la. Embora de acordo com as palavras da Torá, possa parecer que compramos de forma desonesta; no entanto, tudo realmente aconteceu dessa forma. Não é que Jacó “passou por cima” e “mentiu” para Esaú; esta é a forma como estes dois programas de criação “se entrelaçaram” e seguiram em frente juntos. Eles se assemelham a uma hélice dupla de DNA torcida, que é a base de nossas vidas.

É por isso que realmente precisamos despertar e começar a aplicar a nossa finalidade.

Pergunta: Será que a sopa de lentilha que Jacó ofereceu a ele por seu direito de primogenitura preencheu Esaú? Ou será que ele se arrependeu pelo fato de que ele o “comprou”?

Resposta: Esta sopa preencheu parcialmente Esaú. Caso contrário, o mundo em geral, não teria existido. No entanto, na realidade, é apenas uma sopa.

No entanto, nós constantemente “alimentamos” o mundo com esta “sopa”. O desenvolvimento humano, o progresso e a eterna busca do prazer ilusório, tudo isso gera o povo judeu. Se o povo judeu não estivesse em seu estado quebrado, não haveria nenhum avanço neste mundo.

De fato, os avanços na ciência e as inovações técnicas não são necessários para o mundo. Nós fornecemos isso ao mundo para que as pessoas tenham algo para fazer. Mas, na verdade, é uma consequência da falência do nosso plano, da nossa missão.

Isso vem da linha feminina, de nossa mãe comum.

Comentário: Como se vê, nós fazemos apenas a primeira parte, “alimentar o mundo com uma sopa”, mas não preenchemos a segunda parte, a parte fundamental: nós não compramos o direito de primogenitura com isso.

Resposta: Sim. Tal é Israel de hoje.

Basicamente, cada porção semanal da Torá, se analisada, no final nos dá uma resposta negativa sobre como implementar a nossa missão. Em última análise, todos os 52 capítulos do ano nos afetam negativamente. Afinal de contas, nós não cumprir qualquer um deles.

Pergunta: Como os capítulos são implementados?

Resposta: A maneira mais fácil, “Ama o próximo como a ti mesmo”, esta é a principal lei da Torá. Nada mais é necessário!

Pergunta: Este é o direito de primogenitura?

Resposta: Este é o cumprimento, a execução do direito de primogenitura. E Esaú exige isso! Ele quer amar, e nós lhe negamos essa oportunidade. Nós não damos e não criamos as condições para isso, e, portanto, provocamos o seu ódio em relação a nós.

Por outro lado, o final feliz da história é conhecido antecipadamente. A história é como um filme que você assiste no cinema; está tudo lá no filme, mas você ainda está em algum lugar no meio se preocupando com os personagens. É apenas graças ao final feliz que nós existimos, caso contrário, já teríamos sido destruídos há muito tempo.

Pergunta: Isso é porque nós não cumprimos o nosso papel?

Resposta: Sim. Não é de estranhar que, uma e outra vez em toda a história dos judeus, se levantar forças supostamente negativas que nos pressionam, e, em parte, nos destroem. Infelizmente, esta é apenas uma consequência da nossa incapacidade de completar o nosso programa.

Quantos desses casos existem na história? Na Espanha, na Inglaterra, eu vi as antigas sinagogas onde os judeus eram presos e queimados. Eles não sabiam a razão. Na verdade, o que era realmente exigido deles?

Ainda assim todo mundo tem culpa porque o povo judeu inicialmente era percebido como um só “elo” conectada de responsabilidade mútua (Arvut), ligada num único sistema para ser como um homem com um coração.

Em tais condições, cada pessoa é responsável por todos. Acontece que não há uma pessoa boa ou má; todos são igualmente bons e maus.

É por isso que quando alguém é morto em algum lugar porque era judeu, não temos o direito de gritar que ele não tinha culpa. Ele é culpado, porque o povo judeu como um todo não cumpre sua função. Todo filho desta nação é o seu representante.

Por outro lado, se as pessoas desempenhassem a sua função, elas não seriam mortas. Isso nunca teria acontecido.

Afinal de contas, nós estamos num sistema que é bastante determinante, onde não pode haver inconsistências, espontaneidade e acidentes. Isso não está na natureza. Este é um sistema enorme, contínuo e ideal.

Pergunta: Acontece que, por não cumprirmos o princípio do “ama o próximo como a ti mesmo”, nós olhamos para o mundo através dos olhos de Esaú, e não de Jacó. E o mundo nos pressiona assim como Esaú. E agora?

Resposta: É necessário chegar ao ponto em que todos na nação de Israel vão se sentir culpados.

Eu ouço as notícias de todo o mundo e me sinto culpado pelo que está acontecendo. Como resultado do estudo da Cabalá, eu comecei a sentir vergonha de olhar para as pessoas do mundo.

A mesma coisa vale para o povo judeu, porque eu tenho que entregar isso a eles, mas ainda não posso. Eu “dou à luz” ao sistema de explicação, disseminação e formação, para que outros ouçam, entendam. Eu me sinto culpado em relação ao resto do povo.

Pergunta: Por quê?

Resposta: Porque milhões de crianças na África estão morrendo, porque as pessoas estão sofrendo por e alguma coisa, calor ou frio, por seus problemas, conflitos e lutas, por alguns fenômenos naturais, seja humano, inanimado, vegetal ou animal. Guerras, vírus, furacões, tsunamis, terremotos, erupções vulcânicas; é necessário compreender que tudo isso é porque nós não cumprimos a nossa função, a nossa missão.

Nós precisamos educar o nosso povo para que eles se sintam culpados. Nós temos que levar as pessoas à verdade, onde ela não vai estrangulá-los, não vai prendê-los, não vai leva-los à loucura, ao suicídio, mas vai animá-los e dar-lhes um impulso para frente para que eles vejam que devem, e ao mesmo tempo, são capazes de fazer a correção do mundo.

De KabTV “Porção Semanal da Torá” 14/11/14