Quando Tudo Não Está Certo

laitman_202_0A sabedoria da Cabalá conduz uma pesquisa muito mais precisa e objetiva do que qualquer outra ciência. No decorrer deste estudo, nós aprendemos que há apenas uma força, um fator, que atua na realidade. Portanto, nós a caracterizamos com a frase “Não há outro além Dele”.

Este não é um nome ou uma definição, é apenas a maneira que queremos enfatizar a singularidade desse fenômeno. Estudando a nós mesmos e toda a realidade em todos os graus e níveis, nós podemos ver que somente a Luz Superior opera e organiza tudo.

E seu corolário, a partir de certo ponto, dividiu-se em dois. A Luz Superior afeta alguma coisa e nós determinamos se a matéria é contrária à Luz de acordo com suas propriedades ou corresponde a ela. Esta é a característica principal da matéria: a capacidade de permanecer num estado de oposição ou equivalência.

Por conseguinte, os nossos experimentos podem mostrar resultados contrários. Se a matéria dos nossos desejos é oposta à Luz, nós a sentimos como escuridão. Se nós nos preparamos para o encontro com a Luz e correspondemos a ela, pelo menos parcialmente, nós sentimos isso como uma bênção.

Não há nada na Luz, seja bom ou ruim, apenas a propriedade que se manifesta em doação, amor, satisfação, avanço e desenvolvimento. E tudo depende do vaso, do ser criado.

Nisso, a preparação do vaso para receber a luz é realizada pela mesma Luz. Na verdade, ela é primordial; ela marcou o início da criação, todo o processo. Ela fez com que toda a matéria se desenvolvesse. Mas a matéria em si é desprovida de qualquer capacidade de realizar qualquer coisa.

Considere de onde as partículas atômicas (prótons, elétrons, nêutrons, etc.) extraem força para se mover sem parar e tão rapidamente? Elas não param, não diminuem a velocidade, há bilhões de anos. Como pode ser isso?

A Luz as supre com energia. Ela é primordial e age. Caso contrário, cada partícula acabaria parando, o que de acordo com os físicos é equivalente ao seu desaparecimento. Toda a matéria existe devido ao poder da Luz, a força de doação. Esta força dá energia à matéria morta através do seu desejo, de modo que ao receber, ela começasse a se mover.

Por que a matéria tem que se desenvolver nos graus da natureza inanimada, vegetal, animal e humana? Para se tornar como a Luz no fim do desenvolvimento. Em direção a esse objetivo, a Luz empurra todas as partículas e seus compostos, sejam eles átomos, moléculas, incluindo os organismos biológicos ou formas espirituais, inerentes à matéria, que já é capaz de realizar a doação, semelhante à Luz, até que finalmente os dois se tornam iguais.

A Luz faz tudo isso. Não existe qualquer outra força agindo no processo. Nós dizemos sobre tudo isso: “Não há outro além Dele”.

No entanto, essa força superior quer dar algo maior ao ser criado, matéria morta originalmente como pó, como é dito: “Pois do pó és, e ao pó retornarás”. A Luz quer dar vitalidade a esse pó, não nos graus em que ele inevitavelmente se desenvolve, transformado na natureza vegetal, animal e humana. Não, o ser criado se destina a se desenvolver numa direção particular acima de sua natureza e adquirir uma natureza superior.

Isto se torna possível devido à quebra dos vasos, pois a Luz “corrompeu” o desejo que ela criou, cortou-o em várias partes, penetrou a matéria à força e deixou nela um desejo egoísta de receber para satisfação própria, a inclinação de desfrutá-la, de desejá-la e fazer só isso.

Como resultado, o desejo se tornou completo oposto ao Criador. Agora, não é apenas o ser criado, um produto, porque tem seu próprio impulso para resistir ao Criador, para estar em antagonismo com Ele. A força dominante, o poder exigente, foi revelado no desejo.

Então, a Luz Superior, o Criador, começa a “brincar” com o desejo que é oposto a ela. Um determinado sistema de relações é formado e se desenvolve entre eles; eles se influenciam mutuamente.

O ser criado começa a entender que está num mundo complexo. Primeira ele se comporta em nosso mundo como o “animal superior”, cria a ciência, a cultura, a educação, e formas de sociedade humana se desenvolvem… até que uma crise ocorra. Então, o desejo percebe que algo está errado aqui.

Hoje, a humanidade entrou exatamente nesta época; ainda não é a verdadeira crise do paradigma básico, mas o seu limite. A partir desta época, a moral deve ser feita: nós estamos no sistema, numa rede de forças.

Todos interagem harmoniosamente, criando uma única rede, focada na matéria, ou seja, na natureza vegetal, animal e humana, a fim de levá-la à autorrealização. Em outras palavras, para que ela comece a perceber o que ela é.

Isso se torna imediatamente claro: é possível compreender apenas se o ser criado aprende quem o controla, quem está do outro lado. De fato, é possível investigar e compreender qualquer coisa apenas a partir do oposto, como o preto sobre um fundo branco.

Portanto, nós percebemos que “não há outro além Dele” a partir do estado oposto, quando temos a certeza de que não há ninguém além de nós mesmos. Aos nossos olhos, nós mesmos somos a força ativa na realidade, e ninguém mais.

Com esta confiança, nós vamos em frente de forma ousada e decidida, até que sob uma chuva de golpes “em nossos próprios corpos”, nós aprendemos que algo está errado. Algo não vai bem na medida em que a crise global vem, e não há nenhum sucesso em nada. Nada ajuda, nem a razão ou os sentidos, nem a ciência ou a cultura.

Acontece que somos estúpidos, ingênuos, e não podemos sequer estabelecer nossa vida ou as relações cotidianas normais. Mesmo os animais de alguma forma se tornam confortáveis. E nós, ao contrário, destruímos as vidas daqueles que estão próximos e distantes, usando toda a nossa força e conhecimento.

Essa é a nossa natureza e não podemos ir contra ela. Nossa natureza má é mais forte do que a nossa mente. Não intelecto não ajuda a lidar com ela. Nós gostaríamos de estabelecer relações saudáveis; nós produzimos tanto que poderíamos criar um paraíso na terra para todos, mas não somos capazes disso. Em vez disso, temos apenas dificuldades e problemas, ameaças e medo do amanhã.

Assim, a minha natureza reina sobre mim e eu não posso fazer nada sobre isso.

Como resultado, as pessoas se tornam conscientes de toda a baixeza de sua própria natureza. E isso, de fato, é o melhor ponto de partida. Baal HaSulam o indica na “Introdução ao Estudo das Dez Sefirot“, explicando que perguntas nós fazemos no final do nosso desenvolvimento: “Qual é o sentido da nossa vida, os anos que nos custam tão caro?” “Por que estou aqui?” – e em seus pensamentos apenas esta pergunta persistente permanece.

Em última instância, explica Baal HaSulam, esta pergunta deve nos levar à realização da necessidade da revelação do Criador. Se uma pessoa está pensando para que ela vive, qual o significado da sua vida, ela finalmente chega à conclusão: “Há algo acima de mim. O fato é que não posso organizar a minha vida. Até a minha natureza está além de mim”.

A solução é formulada da seguinte forma: “Venha e veja que o Criador é bom”. Em outras palavras, a partir de uma necessidade real nós realmente podemos chegar à revelação do Criador, e então veremos que Ele age em tudo. Nós veremos que toda a distância percorrida foi necessária apenas para obter golpes e finalmente compreender que a nossa única saída é revelar a força que age no ser criado e o faz se mover.

Da Convenção de Los Angeles “Dia Dois” 31/10/14, Lição 3