A Transição Para Uma Única Família

Dr. LaitmanNós estamos passando por um período único. Se no passado a nossa natureza estava próxima do nível animal e a vida obrigava a pessoa a estabelecer uma família, uma vez que era muito difícil para ela prover a si mesma com as necessidades sem a família, nos dias de hoje, com a ajuda de vários meios e conquistas tecnológicas, nós somos completamente capazes de permanecer solteiros. Se coabitamos, não é sob os termos do casamento, e não como uma família completa.

E nesta época, eu ainda recomendo casar, constituir família e organizar a vida de acordo com o que a natureza exige de nós. Às vezes eles me olham com desconfiança, como se eu estivesse pedindo algo opressivo e indesejável.

Hoje parece ilógico empurrar uma pessoa ao casamento. Afinal de contas, com isso você lhe dá um fardo pesado e debilitante, algo que ela não pode suportar.

Pelo contrário, é tão fácil viver sozinho cercado por aparelhos domésticos eletrônicos que fazem o trabalho que no passado exigia grande força. A pessoa liga um aspirador de pó que se move, coloca suas roupas na máquina de lavar, vai ao supermercado, compra comida preparada, coloca-a na geladeira ou diretamente num forno de microondas, coloca a roupa no secador, e sequer tira o ferro de passar; ela não precisa disso.

A vida diária é agora muito mais fácil do que no passado, mas isso não ajuda a instituição da família. Parece que seria um grande alívio quando todos os tipos de dispositivos fazem a maior parte do trabalho em casa para você, onde você não precisa lavar as fraldas do bebê ou cozinhar mingau para ele… tudo é tão fácil e simples, mas, apesar de tudo isso, tão complicado.

Nós estamos diante de um problema sério aqui, e se quisermos ver um bom futuro para a humanidade e avançar num bom caminho, parece que devemos, antes de tudo, cuidar das próprias pessoas. Elas devem passar por um treinamento básico geral e compreender o que é ser um ser humano, estar conectado a outras pessoas.

Afinal, no passado a nossa conexão com a família, com pais e filhos, com o ambiente de trabalho e a comunidade era mais fácil. As pessoas dirigiam e voavam menos, não mudavam seus empregadores e profissões com tanta frequência. A vida era gasta em “cantos” separados, num lugar pequeno. Era mais estática, relaxada e estável. Em contraste com isso, hoje em dia, com o aumento do ritmo e das muitas mudanças na vida, nós sentimos que a família é muito pesada para nós.

Portanto, primeiro é necessário dar à pessoa a educação correta, mudá-la internamente, de modo que ela vai ver o que está realmente acontecendo. E mesmo que a vida tenha mudado, nós nos desprendemos da natureza que nos encorajou a viver como tribos, famílias, aldeias, cidades, países, o mundo inteiro é como um lugar para que todos possam viver e, apesar de tudo isso, depende de nós compensarmos o que perdemos. Nós já tivemos um sistema de relações naturais com a família e os amigos, com a cidade, com a nação, e agora nós temos que complementar a deficiência.

Sem isso a pessoa permanece negligenciada, abandonada; ela parece estar perdida no meio da multidão. Ela pode fugir de seus pais e quase nunca se comunicar com eles; pode estar em conexão com os amigos principalmente através da Internet. Nosso ambiente tornou-se geralmente virtual. Na internet eu encontro um amigo temporário para mim e muitas vezes me satisfaço com isso.

Em geral, esta é uma fase temporária, uma fase de passagem, que continuará até que a pessoa descubra a diferença entre ela e seu ambiente que ela deve construir por si mesma…

Eu começo a vida no ventre de minha mãe, a continuo em seus braços, depois vou para o jardim de infância, a escola, e todos esses estágios adicionam um “envelope” ambiental em mim onde preciso me desenvolver a tal ponto que vou sentir que sou parte inseparável dele, conectado a todos como estava antes conectado a minha mãe através do cordão umbilical.

Idealmente, qualquer expansão deste ambiente não precisa causar desprendimento. Quando eu vou ao jardim de infância, eu não estou separado de nada; pelo contrário, eles me ensinam sobre uma conexão ainda maior com o novo ambiente, e no jardim de infância eu me sinto como se estivesse em casa, e em casa como se estivesse dentro da minha mãe.

O tempo passa e eu construo uma conexão com o ambiente escolar baseado em boas e amistosas relações de dar e receber que mesmo aqui eu sinto como se estivesse no seio da família, um ambiente de carinho, porque nós estamos soldados tão fortemente com amor e satisfação mútua. Quando eu finalmente entro no resto do mundo, eu continuo a trabalhar com o ambiente com base no princípio da compensação mútua de conexões necessárias, e todos nós nos sentimos como uma família.

Na verdade, a única coisa que falta para mim são esses esforços compensatórios: de minha parte para com o ambiente em expansão, e de seu lado para comigo. Do meu lado uma relação que se expande continuamente com o ambiente – do lado do ambiente para comigo.

De “Uma Nova Vida” do KabTV 7/22/14