O Mundo Inteiro É Um Único Formigueiro

Dr. Michael LaitmanNós somos feitos da substância do desejo de receber, como toda a criação. Mas em contraste com todos os outros, o ser humano sabe como se dividir em dois: em ação e intenção. É possível agir como toda a natureza inanimada, vegetal e animal, ou como crianças pequenas que jogam sem qualquer intenção interior, tomando o que querem para si.

Mas quando a criança cresce e toma a imagem do homem neste mundo, não é mais possível saber suas intenções a partir de suas ações. Pode ser que o ato seja um ato de doação, mas como de costume, a intenção é em prol da recepção. Isso significa que nossa doação exige compensação em troca e nós estamos sempre agindo para o nosso próprio bem.

Disso fica claro que se não mudarmos a nós mesmos, vamos agir apenas para o nosso próprio bem. E como o ego cresce o tempo todo, toda a nossa atividade é baseada no novo ego, e a intenção torna-se cada vez mais egoísta. É assim que nós avançamos até que a distância entre nossas ações e intenções fique tão grande que começamos a prestar atenção nela.

Quando nós vemos um filme antigo que foi feito 50 anos atrás, ele parece realmente infantil. Apesar de mostrar pessoas fortes e heroicas, todos os seus discursos e suas ações parecem ingênuos como os de crianças pequenas. Isso ocorre porque o ego ainda era pequeno, não como em nosso tempo; seus comportamentos parecem ingênuos e primitivos para nós. A ação e a intenção estão muito próximas uma da outra, a ação corresponde precisamente à intenção como com uma criança pequena. Não há cálculos políticos desonestos por trás de tudo isso.

Mas, em nossos tempos, o ego se desenvolveu tanto que nos leva ao desespero, porque vemos que toda ação em nosso mundo é apenas com a intenção para si mesmo. Já não acreditamos em publicidade, em belas promessas, em palavras ou ações, já não acreditamos em ninguém, nem em políticos ou pessoas simples. Nós sequer acreditamos nos membros da família, pois vemos o quanto cada um é um egoísta e está preocupado apenas em si mesmo, tanto as crianças como os pais. Portanto, nós estamos nos afastando um do outro. É claro para todos nós que todos os nossos atos são apenas para o nosso próprio bem, sem consideração pelos outros em tudo.

Mesmo se estamos preocupados com outra pessoa, isso é só por causa da sensação de uma conexão com ela, e como resultado disso, seu problema torna-se o nosso problema. Por isso, nós pensamos nela como pensamos em nós mesmos. Mas, basicamente, este é apenas um cálculo egoísta, pois não há nada mais. É assim que alcançamos o reconhecimento do mal de nossa natureza, a compreensão de que tudo é “em prol da recepção”.

O ego se desenvolve tanto que não é possível para nós nos conectarmos a qualquer um. Nas gerações anteriores, o ego ainda não era tão desenvolvido e não o utilizávamos de forma tão grosseira como hoje. Mas em nossos dias ninguém importa para nós e ninguém tem vergonha de nada, ao contrário, é ainda orgulhoso de seu ego.

Políticos e empresários já não tentam disfarçar suas atividades e parecer agradáveis. Cada um age de acordo com seu desejo, temendo apenas a punição, e fazendo um cálculo egoísta simples.

E isso é bom, porque é um sinal de que a nossa geração alcançou o reconhecimento da verdade sobre si mesma. Nós finalmente entendemos o que somos e em que tipo de mundo nós existimos, e em que tipo de conexão encontramos entre nós. Todas as conexões se tornaram simples e claras, entre as nações, entre as pessoas, em todas as cidades e família. Enquanto for bom para mim estar com eles, vou permanecer, e no momento em que for ruim para mim, vou deixar tudo.

Não há nenhum outro cálculo. Ninguém fala sobre patriotismo, sacrifício pessoal em prol da pátria ou em prol de outra pessoa. Um herói moderno é famoso pelo número de pessoas que matou num filme e não pelo número de pessoas que salvou.

A questão é: será que podemos continuar a existir assim? Se continuamos a desenvolver nossa natureza egoísta, cuja fonte é o desejo de receber, então, sem vergonha nós começamos a usar o nosso ego instintivamente como animais.

Os animais agem instintivamente de acordo com o programa interno que é implantado neles, e os humanos só podem existir se algum tipo de conexão existe entre eles, como formigas num formigueiro. Nós somos sete bilhões de humanos, cada um deve ter consciência do seu lugar, seu papel e sua obrigação. É assim que, através do trabalho recíproco, vamos construir uma vida segura para nós mesmos.

Da 1a parte da Lição Diária de Cabalá 13/07/14, Shamati # 60