Quem Vai Ganhar: O Ódio Ou A Necessidade De Existir?

Dr. Michael LaitmanPergunta: Em nosso mundo, nós vemos claramente a tendência de separação e isolamento. Mas onde está a segunda tendência aqui, o desejo de conexão? Eu não a vejo.

Resposta: A segunda tendência é revelar a minha dependência em relação a todos. Acontece que duas forças estão agindo sobre você: de um lado, você rejeita todos e, por outro lado, você depende deles. Estes dois pólos estão constantemente diante de você.

Se de cima eles quiserem avançar você, eles sempre vão influenciá-lo com a ajuda destas duas forças. Assim como o Criador prometeu a Abraão, (Gênesis 21:12) …é por Isaac que a descendência deve ser continuada. Através dele nascerão muitos netos que vão crescer até uma enorme família, e por outro lado, Ele acrescenta, (Gênesis 22:2) …e oferece-o lá em holocausto.

Se o Criador tivesse lhe dito para matar Isaac, teria sido mais compreensível. E mesmo que ele o abençoasse com uma multidão de descendentes, isso também teria sido claro. Mas, como podem as duas declarações serem realizadas em conjunto?

A humanidade está neste estado agora. Por um lado, a total dependência mútua entre todos é evidente e, por outro lado, a separação é tão grande que ninguém é capaz de falar com o outro. Trinta anos atrás, as relações entre as pessoas eram muito melhores; hoje, os países europeus não conseguem chegar a um acordo entre eles.

Pergunta: Mas em que lugar do mundo nós vemos uma inclinação à conexão?

Resposta: Não há nenhuma inclinação à conexão, mas sim apenas uma descoberta da imagem de quanto dependemos de todos. Por outro lado, de acordo com o nosso sentimento interior, nós queremos nos desconectar.

Por exemplo, a Escócia quer romper com a Inglaterra, embora seja claro que os dois estariam em pior situação, porque há uma infinidade de empresas mistas. Uma nação tem minas de carvão e a outra tem estações à base de carvão; uma tem peixe e a outra tem restaurantes que servem peixes; esta dependência é reconhecida por todos. Por que elas devem ser separadas?

Se isso lhes garantisse ganho monetário, seria compreensível, mas isso não acontece. Elas ganhariam apenas uma coisa: saciar seu ódio. Ou seja, por causa do desejo natural que não tem justificação material, elas estão inclusive dispostas a perder economicamente, desde que o ódio vença.

Essa inclinação existe em todo o mundo. Em breve voltaremos à fragmentação feudal. Por exemplo, há duzentos anos na Alemanha, havia dezenas de pequenos principados. Nós estamos voltando de novo a esses tempos, porque não podemos corrigir o ódio mútuo.

Mas nós não vamos voltamos exatamente a essa condição anterior por causa da dependência mútua. Um tem água, um segundo tem pão, um terceiro tem carne, um quarto tem peixe, um quinto tem carros, um sexto tem equipamentos médicos, e assim por diante. Apesar de tudo, eu dependo de todos. Então, por que existem todas essas fronteiras?

O ódio me obriga a estabelecer fronteiras e a fechá-las. E a vida nos mostra que estamos dentro de um sistema integral que alcançamos como resultado do desenvolvimento do nosso desejo. Então, o que eu posso fazer se eles me obrigam a conectar com todos? Neste caso, só a guerra pode resolver o problema. Ela irá destruir as fronteiras e o mundo inteiro. Então, tudo vai ser do jeito que eu quero: fronteiras rígidas, separação, e o meu ódio poderia se derramar na íntegra. Quando não tivermos escolha, vamos começar a lutar. Este é o resultado se deixamos o ego correr solto.

Em nosso nível não há outra solução. A solução é encontrada acima, acima dos dois opostos. Ódio e convergência são incompatíveis entre si; há um curto-circuito entre eles. É impossível conectá-los diretamente; é preciso colocar algum tipo de adaptador entre eles e transformar o ódio em amor. Então, será possível conectá-los.

Mas como nós vamos transformar o ódio em amor? Em nosso mundo não existe poder que possa transformar nosso desejo egoísta num desejo de doar. Portanto, nós precisamos da ciência da conexão, a sabedoria da Cabalá. Ela nos ensina como organizar o nosso ambiente para atrair o poder interior da unidade através de seus exercícios. Esta força irá gradualmente nos corrigir.

Então, a partir do poder corrigido da conexão, vamos começar a sentir novas relações, uma nova percepção do mundo, porque mudamos. Dentro dessa nova compreensão, dentro da relação de amor em vez da relação de ódio, vamos ver uma nova realidade. Na realidade anterior, eu atraía tudo para mim; a minha visão era para obter benefício pessoal de todos.

Mas, através de uma mudança na orientação para cuidar do bem da sociedade, eu descubro propriedades e poderes completamente diferentes que agem na realidade, que são chamados de mundo superior. Tudo isso vai ser descoberto dentro do meu novo relacionamento com os outros.

Assim como eu agora descubro este mundo através do meu relacionamento egoísta com as outras pessoas, eu vou descobrir o mundo superior dentro do relacionamento altruísta com os outros, até que todos os mundos, todos os níveis, cheguem ao estado de Infinito. Tudo depende apenas das mudanças na percepção da realidade.

Está escrito (Shabat 151b): “Não há nenhuma diferença entre este mundo e o outro mundo, exceto a forma como os governos vão agir”, ou seja, que tudo depende da orientação do desejo de receber: a preocupação comigo ou com o outro. As nações já descobriram o quanto dependem uma da outra, e entendem que é impossível lutar contra uma nação que lhes fornece óleo ou produtos. Se eu a eliminar, o que vai acontecer comigo? Isto é como a queima de uma mercearia no bairro onde você compra todas as suas necessidades. Onde vou conseguir tudo que preciso para existir?

Mas o ódio é tão grande que não nos permite pensar logicamente: “Não faz diferença se eu vou morrer, contanto que aconteça com o meu vizinho primeiro!” É assim que a lei do ódio funciona, e o intelecto fica impotente. A emoção tem precedência sobre a inteligência. Em suma, o intelecto é escravo do desejo. Primeiro, o desejo é despertado e depois a mente ajuda a realizar este desejo.

O intelecto me ajuda a conseguir o que eu quero, não o que eu planejei e decidi! Este é todo o problema. Toda a criação é um desejo de prazer e todos os nossos pensamentos são dirigidos apenas para isso. Portanto, eu não vejo um milímetro além dos limites do meu ego; não faz diferença quão sábio eu sou. Só a ciência da conexão pode ajudar, ou seja, a sabedoria da Cabalá.

Da Preparação para a Lição Diária de Cabalá 25/03/14