Desagradável, Mas Necessário Tolerar

Dr. Michael LaitmanPergunta: Como a descida chamada de Shaar haTuma (Portões de Impureza) é expressada?

Resposta: Tudo depende do que nós pensamos que seja uma descida. No começo, no primeiro portão de impureza, eu simplesmente vejo que eu não tenho poder, não quero fazer nada e perdi o gosto pela vida.

Enquanto que no portão 10 ou 15, eu perco o desejo de aprender, de estar conectado com os amigos, de realizar atos de doação e de estar envolvido em disseminação; eu perco a fé no que está escrito nos livros dos Cabalistas. Eu simplesmente quero me deitar e ficar longe de tudo ou ficar bêbado e passar o tempo sem fazer nada.

No entanto, junto com isso, eu começo a entender que estes não são os meus estados; ao contrário, eles vêm de uma fonte externa. Eles passam por mim intencionalmente para que eu possa consolidar a minha relação com a Fonte, com o Criador e com o que Ele faz.

Então eu digo a Ele, “Faça o que você quiser! Você pode criar a escuridão em volta de mim, mesmo que isso seja bom! Quando está escuro eu não quero nada, e isso é melhor do que correr atrás de prazeres. Mas junto com isso, dê-me a possibilidade de estar consciente de Você, daquele que cria essa escuridão para mim”.

Isso significa que o Criador torna o coração do Faraó pesado. Aqui eu começo a diferenciar entre o meu desejo, a condição que é sentida nele, e o Criador, que organiza tudo isso para mim. Isso já é uma separação interna, uma encruzilhada.

É assim que continuamos a trabalhar e a escuridão não se dissipa. Pelo contrário, nós passamos por 49 portões de impureza e chegamos à escuridão do Egito. No entanto, graças ao êxodo do Egito, a escuridão deixa de ser escuridão. Nós mudamos a nossa relação com a escuridão.

Na verdade, nós estamos na mesma condição o tempo todo, só muda a nossa percepção dela. É como se eu colocasse outros óculos e visse o estado de forma diferente, avançando cada vez mais, ao passo que o próprio estado não mudou. Nós estamos imersos na Luz do Infinito.

No entanto, um ponto de partida é dado a nós, a fim de sentirmos o mundo que vemos agora dentro da Luz do Infinito. E as mudanças dependem do que eu acho que é bom e ruim. Na verdade a nossa substância é o desejo de receber e cabe a nós decidir o que é bom ou ruim em relação a ele.

Se mudarmos a percepção da realidade, a nossa relação com ela, o mundo inteiro é diferente. O que foi odiado se torna amado. Imagine que um grande homem vestido com uma túnica branca se aproxima de uma criança pequena, pega uma seringa ameaçadora, e lhe dá uma injeção dolorosa. Como a criança deve se relacionar com suas ações?

Mas quando nós crescemos, entendemos que o monstro de branco não é um demônio cruel, mas um médico que tem que me dar uma injeção e é para o meu próprio bem. Isto é desagradável, mas deve ser tolerado.

A realidade não muda, é completa; nós temos que mudar. Em nossos dias, isto é o que o mundo tem que entender. As mudanças que resultam do desenvolvimento interno do ego acabaram. Nós desenvolvemos o nosso ego até o fim. Ele atingiu o seu ponto máximo e não mais espaço para se desenvolver no mundo físico.

Nós chegamos ao limite além do qual temos que começar a mudar o nosso relacionamento. Assim, nós estamos num ponto muito original: o ego não tem onde se desenvolver, pelo contrário, ele começa a se deteriorar e nos derrubar. Na verdade, ele não quer mais nada da vida. Portanto, se quisermos avançar, isso só é possível com o desejo de doar.

Da 1ª parte da Lição Diária de Cabalá 09/04/14, Shamati # 54