A Arte De Escrever Com Tinta Invisível

Dr. Michael LaitmanNós temos que lembrar que a espiritualidade é diferente da corporalidade. Na corporalidade, nós sempre queremos ver os resultados imediatamente. Às vezes, é o produto que fizemos: suponha que eu fiz sapatos, vendi-os e recebi dinheiro por eles. Eu vejo os sapatos que fiz, vejo os resultados dos meus esforços, os frutos do meu trabalho. Eu posso avaliar, melhorar, ajustar, corrigir e torná-los melhor se realmente os vejo.

Diz-se: “Não há ninguém mais sábio do que o experiente”, e o experiente ganha com as próprias mãos. Nós aplicamos o esforço em algum lugar, e lá vemos os resultados do nosso trabalho. Assim, ao longo do tempo, através de tentativa e erro, eu me corrijo e me torno um hábil artesão profissional.

Mas a dificuldade é que no trabalho espiritual não podemos ver os resultados. Imagine um músico que tocasse as teclas do piano e não pudesse ouvir nenhum som. Como ele poderia tocar? Quando uma criança aprende a escrever, ela recebe um caderno para inserir letras estritamente entre as linhas. Mas, na espiritualidade, eu não tenho “linhas”, e até mesmo as letras que escrevo são invisíveis!

Como eu posso me ajustar, se não consigo ver nenhuma resposta? Eu me esforço, mas elas desaparecem como água escorrendo na areia. Bem, digamos, eu estou disposto a sacrificar qualquer resultado em benefício próprio. Mas eu ainda tenho que me ajustar de alguma forma, verificar, melhorar meu trabalho e ganhar experiência. Como é possível?

Não funciona dessa maneira na espiritualidade. Nós não obtemos nenhuma resposta, e isso nos enfraquece. Eu não posso fazer um esforço que não cause qualquer reação visível. É como falar com uma parede. Toda a minha energia desaparece.

Mas a reação existe, só que não ocorre dentro do mesmo desejo, ou seja, ocorre num lugar diferente. Se pelo menos uma pequena parte dos nossos esforços estivesse correta, isto é, se tivéssemos a intenção de sair de nós mesmos e nos conectar com os outros, para nos aproximar do Criador e dar-Lhe a oportunidade de Se revelar a nós, para dar-Lhe alegria sem exigir ou antecipar a fim de obter algo em troca, a reação se acumula. Acontece que o lugar do nosso trabalho e os resultados que obtemos estão completamente separados um do outro.

Será que nós devemos pedir para ver os resultados do nosso trabalho? Se víssemos que fizemos algo corretamente, isso iria nos satisfazer, nos trazer satisfação. Isso pode me impedir e dificultar o avanço, porque eu começo a trabalhar por essa gratificação. Portanto, como eu posso analisar o trabalho que faço e verificar que não sou impulsionado por nossos próprios interesses?

Como posso ver a reação, sem apreciá-la egoisticamente? Como posso gerir e aceitar apenas a informação, sem a sensação, sem o desejo de receber prazer? Isso é chamado exigir um desejo de doar. Em outras palavras, eu não quero nem saber se estou doando ao Criador, porque no meu estado atual, eu iria, inevitavelmente, desfrutar e ser consolado. Eu só quero fazer ações, desprendido do prazer e da satisfação, acalmar meus desejos, sentimentos e pensamentos. Isso dá trabalho.

O resultado do nosso trabalho espiritual é chamado de “um achado”. Os resultados surgem exatamente no momento errado e num lugar que não esperávamos. E o próprio resultado é separado do desejo; portanto, é totalmente inesperado.

Isso acontece em todos os níveis espirituais, porque cada vez é um novo mundo. Nossas sensações se abrem para um novo nível, uma nova profundidade e qualidade, numa gama completamente nova que nunca existiu antes. Nossas sensações e critérios de avaliação passam por mudanças revolucionárias; eles são “atualizados”. É por isso que é chamado de “uma descoberta”, “um achado”.

Da Preparação para a Lição Diária de Cabalá 07/11/13