Devoção À Natureza Oposta

Dr. Michael LaitmanA devoção é exigida de nós ao longo do caminho; nós somos obrigados a nos anular, para “assumir o fardo do Céu”, que significa devoção.

Nós vemos qualidades semelhantes nos animais: se algo de ruim acontece com seu dono, ou se o seu dono tem um problema, o cão sente isso e é muito dedicado a ele. Essa é a mesma devoção que falamos aqui, ou não?

Qual é a diferença entre a devoção nos níveis da natureza inanimada, vegetal e animal, e o nível “falante”? O escravo se acostuma com seu dono, sente a sua dependência dele e é dedicado a ele, como um cão. De que maneira ele é diferente de um servo do Criador?

Ser escravizado ao Criador é devoção a uma natureza que é oposta à natureza da pessoa. Eu estou num estado de submissão e auto-anulação, entre dois polos que se dividiram. Dentro de mim, há meu desejo de receber, e nele, eu sinto meu ego, reivindicações de diferentes problemas e decepções. Eu sinto tudo isso e não os anulo, eles vivem dentro de mim, mas, acima de tudo isso, eu gradualmente adquiro o reconhecimento e a devoção espiritual, entendimento opostos à minha propriedade egoísta.

A diferença entre estas duas formas da natureza que estão dentro de mim é clara, compreensível e familiar. Minha devoção sobe acima da minha razão e quanto maior o desejo, mais alto eu subo acima dele. De maneira oposta, a diferença, a tensão, a distância entre a natureza egoísta e a natureza altruísta, entre a intenção de receber e a intenção de doar, para mim ou para o Criador, a diferença entre esses dois polos, cresce cada vez mais.

Diz-se: “Aquele que é maior do que seu amigo, seu desejo é ainda maior” e “uma pessoa não pode cumprir uma Mitzva, a menos que tenha falhado em cumpri-la antes”. Isso significa que temos que cair e sentir uma maior profundidade do nosso ego, da inclinação ao mal, da cobra, e só a partir daí podemos subir para níveis mais elevados de desprendimento e devoção completa.

Estes dois pontos se não anulam. Em vez disso, nós podemos preencher a distância entre eles com o reconhecimento, a compreensão e o nosso amor que se eleva acima do ódio: “O amor cobrirá todas as transgressões”. Esta é a diferença entre a nossa devoção espiritual e a devoção religiosa.

A religião exige que o indivíduo siga com os olhos fechados, e quanto menos ele entende, mais devotado é o crente. Ele faz tudo o que lhe é dito, sem tentar entender. Quanto menos dúvidas ele tem, com mais certeza avança com a bandeira na mão e o olhar fanático no rosto, mais respeitável ele é considerado.

Na sabedoria da Cabalá, no entanto, é a dúvida, a confusão, os diferentes problemas e esclarecimentos internos que geram discernimentos ricos, pensamentos e ideias internas. Eles são todos opostos ao Criador e o trabalho para doar, mas acima deles, a pessoa constrói sua devoção, pois graças a eles, ela pode entender e sentir.

Baseado nisso, ela constrói o entendimento e o sentimento, percebe o mundo de uma ponta à outra nas duas formas, em todos os sentimentos e entendimentos possíveis. Ela não tem uma perspectiva estreita e não avança com os olhos fechados, mas reconhece totalmente o ego e assim constrói sua atitude em relação ao atributo de doação, compreendendo a propriedade do Criador.

Ela eleva o atributo de doação acima do atributo de recepção. De forma independente e consciente, ela consente em se entregar para servir e amar. Isto se torna seu Criador.

Da Preparação para Lição Diária de Cabalá 22/01/13