A Porta Para O Território Do Criador

Dr. Michael LaitmanA coisa mais incomum na sabedoria da Cabalá ocorre quando um iniciante ouve a mensagem sobre “amor, união e inclusão mútua”, que é totalmente contrária aos nossos desejos naturais. No início, a Cabalá nos parece uma ciência convencional, dura: “Eu quero entender o sistema, estudar fenômenos por trás da fachada da natureza, compreender a força superior e os princípios do seu trabalho, aprender as leis do universo e encontrar as causas ocultas da história…”. Em outras palavras, a pessoa tende a estudar fórmulas concretas, e, em seguida, ela descobre que é tudo sobre o amor.

Há alguém que aborda seriamente este assunto? Hollywood? Pessoas sérias estão sentadas em Wall Street, enquanto que o amor é um domínio para companheiros estranhos e “boêmios…”.

Demora muito tempo para começar a entender a mensagem do amor. Levam-se anos para fazer essa informação “mergulhar sob a pele” e atingir o coração. Nosso egoísmo não está disposto a aceitar coisas como o amor, nem permite a mensagem de que somente através da união nós revelamos uma nova realidade e que somente devido ao amor que nós subimos ao nosso estado mais elevado, nos tornamos mais bondosos e revelamos novos mundos. Nossa experiência material não fornece todos os exemplos acima, nem prova estas declarações de forma alguma.

Algumas pessoas são mais propensas a aceitar essas ideias; para outras, essa mensagem é realmente difícil de apreender. Depende da disponibilidade de nossas almas e da “profundidade” do desejo (Aviut). Isso também requer persistência, diligência e uma sensação de absoluta necessidade para atingir esse estado. Se ambos os fatores, uma forte rejeição e uma atração irresistível, nos obrigam a permanecer no nosso caminho, a qualquer preço, então, mesmo antes de chegarmos ao amor, ainda descobrimos que tudo depende de nossas qualidades. A Luz superior nos influencia e provoca várias impressões em nós; assim, nós começamos a perceber que nossas mudanças internas fecham ou abrem a imagem do mundo superior para nós.

Algo “clica” dentro de nós e começamos a ver muito mais e ter sensações mais aguçadas do que nunca. Nós continuamos penetrando a estrutura da realidade; nós adquirimos uma compreensão mais clara e mais ampla dela… Tudo depende do nosso coração. É o lugar onde podemos sentir e distinguir entre tudo e todos  o que está dentro do campo de nossa visão e sensações.

Em seguida, fecha-se a “porta”, como se uma nuvem negra descesse sobre nossos sentimentos e intelecto, e agora novamente, nós paramos de compreender e sentir qualquer coisa, como se estivéssemos andando num sonho e dificilmente conseguíssemos lidar com nossas responsabilidades. O tempo passa, a porta se abre novamente e, em seguida, ela se fecha novamente. Assim, gradualmente, nós começamos a perceber que tudo depende do nível de abertura ou fechamento de nossa mente e sentidos.

Então, nós penetramos mais fundo no núcleo do mecanismo que fecha e abre as portas. Depois de passar por todos esses estados muitas vezes, nós percebemos que a “porta” nos leva não apenas para algum lugar fora de nós, mas para os outros. Quando nos sentimos extremamente perto deles, nossos olhos e ouvidos se abrem e avançamos. Quando estamos longe deles, tudo se fecha.

Esta é a maneira que a Luz nos afeta, formando gradualmente a conexão entre nossos sentimentos e mente, e pela construção de nossa atitude para com os nossos amigos, adicionando mais cuidado mútuo, sensações de aprofundamento e abertura para o outro, tornando-nos familiarizados com o mundo superior e o estado superior. Nesta fase, a pessoa percebe que este mundo não é um lugar nas nuvens, nem que está atrás do horizonte, mas que está concretamente em nossas sensações: quanto mais nos abrimos aos outros, mais alto podemos subir.

Gradualmente, nos aproximamos dos “limites” e começamos a distinguir os detalhes do nosso desejo de receber. Nós o separamos em etapas e níveis; em vista disso, construímos os desejos perto da mente.

Isso leva tempo. Nós temos que nos incluir no grupo tanto quanto pudermos; literalmente “nos atiramos” no grupo como no mar; “nos perdemos” nele, nos dissolvemos em nossos amigos. Devido a este tipo de “auto-aniquilação”, a pessoa se “impregna” nos outros e percebe que “não importa o que conseguimos com esta conexão e inclusão mútua”. Tudo o que vem de nossos amigos é o território do Criador. Tudo o que está em mim é o território da inclinação ao mal, o “anjo da morte”.

Quando ela percebe tudo isso, surge a exigência de “amar os amigos”. Ela sente que precisa deles e se esforça para se relacionar com eles como se estivesse muito perto deles, como uma mãe que abraça permanentemente seus filhos internamente, a fim de protegê-los do perigo.

A partir de agora, fica muito mais fácil avançar, pois a pessoa já construiu seu caminho corretamente: ela já sabe que tudo está dentro dela, dentro de suas sensações, em sua atitude para com seus amigos e próximos, que na verdade são as partes de sua alma. Ela entende que, em vez de ver a externalidade na forma da natureza inanimada, vegetal e animal, ela tem que observar detalhes “externos” que são produzidos pela sua mente e sentidos, como algo que pertence a ela, mas que ao mesmo tempo está separado por uma “nuvem” e “poeira” que cobrem a sua percepção do mundo. Isso significa que ela deve retornar a uma imagem clara, mesmo que haja uma confusão criada pela inclinação ao mal; ela tende a se fundir com a imagem correta do mundo e se torna uma sensação unificada e intelecto.

Esta é a essência do nosso trabalho. Se conseguirmos fazê-lo, subiremos gradualmente a escada dos mundos. Conforme a nossa capacidade de retornar nossas partes “externas”, nós as sentimos como sendo preenchidas com a Luz superior.

Da 2ª parte da Lição Diária de Cabalá 16/01/13, “Amor dos Amigos”