O Amor Adorna A Vida E Também Estraga

Dr. Michael LaitmanMinha esposa é meu espelho. Afinal, eu nunca vi a minha parceira, mas sim, nela vejo um reflexo de minhas qualidades. Por exemplo, eu não entendo o padrão de beleza aceito na China. Eu olho para uma mulher que tem a reputação de ter uma beleza verdadeira e pergunto: eu nunca a chamaria de bonita. Para o meu gosto, seu rosto é muito redondo, os olhos são muito estreitos, e seu cabelo é muito liso. Tudo parece pouco atraente para mim.

Mas uma vez eu li um artigo de um jornalista chinês sobre o concurso de beleza internacional “Miss Ásia” e ele disse que a menina não teria vencido na China porque os olhos eram grandes demais. Eu estava simplesmente impressionado sobre quão diferente as nossas percepções de beleza eram; elas eram totalmente opostas. É por isso que não podemos entender o outro.

Conclui-se que eu olho para a menina a minha frente e projeto sobre ela todas as minhas idéias sobre beleza. Se eu não subir acima delas, isso irá afetar todo o nosso relacionamento. Eu não vou perceber como ela é, com todas as suas verdadeiras qualidades, mas vou ver nela o reflexo de minhas propriedades, o meu gosto.

Quando uma pessoa olha para outra pessoa de uma maneira imparcial, é impossível determinar se ela é bonita ou não. Pergunte a qualquer mãe, e ela irá lhe dizer que ninguém é mais bonito no mundo do que seu filho. Como se diz, “o amor cobrirá todos os pecados”.

Por outro lado, o nosso ego, o ódio, desfigurará toda a beleza. A aparência de uma pessoa que eu odeio também se torna insuportável. Para ser objetivo, embora eu esteja pronto a admitir que de acordo com os meus critérios, ela aparentemente tem um rosto bonito, eu odeio isso por outros motivos.

Somente os seres humanos exibem tal atitude. Os animais não olham para a beleza, pois eles valorizam no outro o poder, a capacidade de procriar, ter filhos saudáveis, e criá-los até que se tornem independentes.

O homem, entretanto, é corrompido com a noção de beleza. Na verdade, esta não é a beleza, mas a demonstração do meu ego: condições especiais que eu apresento no lado oposto, que excede o mínimo necessário do corpo físico.

Se nós olhássemos um ao outro de forma racional e natural, eu veria diante de mim uma mulher saudável, forte, que estou pronto para desposar. Afinal de contas, eu vejo que ela vai manter a casa bem. No passado, as pessoas costumavam escolher um cônjuge com base neste simples princípio egoísta. Ou eles levavam a posição social, a riqueza, em conta. As pessoas não prestam muita atenção para a beleza, mas costumavam escolher um cônjuge com base em razões simples e pragmáticas: o que é bom para a vida.

Mais frequentemente, até os pais estavam acostumados a escolher e agir como agentes casamenteiros para os casais, e não os jovens. Este era costume na maioria das culturas. Ou eles se voltavam para o conselho de uma pessoa inteligente e respeitada. Em nossos tempos, nós subitamente chegamos a tal distorção que particularmente nos obriga a realizar a correção.

Hoje nós consideramos apenas se amamos uns aos outros ou não. Todos os filmes contam apenas sobre esse amor. Não era assim antes. Nós não entendemos como as pessoas viviam cem ou duzentos anos atrás. Amor ou atração mútua não estavam no campo de visão. A atração sexual tinha um papel, mas não aquele que hoje queremos dizer com o conceito de amor. Ele se desenvolveu muito recentemente e estragou toda a nossa vida… Portanto, se o utilizarmos corretamente e “cobrirmos todos os pecados com o nosso amor”, se lidarmos com o nosso impulso de amar ou odiar o outro, desta forma particular, seremos bem sucedidos.

Da “Discussão sobre Formação Integral” 31/07/12