Roteiro Para O Criador

Dr. Michael LaitmanPergunta: Como eu posso me relacionar com o Criador, se Ele é a qualidade de doação?

Resposta: Realmente, o que significa a “qualidade” de qualquer maneira? É uma força física? Eu posso realmente amar ou odiar a gravidade? Por exemplo, eu posso gostar dela na condição de que ela faça algo bom para mim. Mas isso não significa que eu a amo ou odeio. Eu percebo que é algo inanimado e, portanto, me relaciono com ela de acordo com meu sentimento, de acordo com os benefícios que recebo dela.

Eu gosto do sol. Mas, eu realmente o “amo”? Como nós podemos amar o sol comparado a amar uma planta, um animal ou uma pessoa?

Então, como me relacionar com o Criador? Primeiro de tudo, é dito sobre ele: “Eu HaVaYaH não mudo”. A Luz superior está em repouso absoluto; é o “Bom que faz o bem para o bom e o mau”; o Criador nos trata com amor absoluto.

Por outro lado, o Criador é chamado o Grande, o Terrível, e assim por diante. Todo o mal vem Dele; todo o bem é originário Dele. Tudo é tão contraditório que eu fico confuso.

Se algo é imutável, é ruim. Por que eles nos dizem que o Criador não muda?

Baal HaSulam explica em sua carta número dois, que se um pai se relaciona com seu filho com amor absoluto, ele faz o filho odiá-lo, em vez de amá-lo. Afinal, se não há reação alguma em nome do pai, o filho vê que não importa como ele trata o seu pai; de qualquer forma, o pai lhe responde com amor absoluto. Ele impede que o filho desenvolva amor, e não permite que ele mude, veja a conexão e fique em contato. É como se ele estivesse diante de um objeto inanimado. As plantas têm certo nível de reação, os animais respondem mais fortemente, sem mencionar o ser humano. Em seguida, as reações positivas e negativas penetram umas nas outras e criam uma nova conexão, uma inclusão mútua.

Mas se o Criador não muda, e ao mesmo tempo, Ele é tão bondoso e amoroso, então o que eu sinto por Ele? Não há como eu possa levá-Lo em consideração. Além disso, se eu não posso considerá-Lo, eu O deixo fora de cena, como se Ele não existisse. Por que eu consideraria alguém que nunca muda?

É uma noção muito profunda, que foi explorada não só pelos Cabalistas. No entanto, os Cabalistas se esforçaram em demonstrar que em todos os momentos o Criador significa “Venha e veja” (Bo-reh, em hebraico); assim eu O revelo. Eu não consigo revelar Ele mesmo, Sua essência, mas apenas Sua forma que está vestida na matéria. É por isso que quando nós O alcançamos em Sua totalidade, revelamos Sua forma final e perfeita e realmente O vemos como Absoluto, Perfeito, Eterno, o Bom que faz o bem.

Em todos os outros estados, nós consideramos o bem ou o mal que vem Dele dependendo do nível da nossa própria corrupção, como é dito: “Todo mundo julga de acordo com suas próprias falhas”. Assim, nós temos a oportunidade de nos relacionar com Ele de acordo com nossas próprias deficiências e correções, e vê-Lo como bom ou ruim.

Além disso, nós temos que acreditar no que disseram os grandes Cabalistas que O revelaram em Sua verdadeira forma, que Ele é totalmente bom e doador.

Portanto, nós temos que relacionar isso com os nossos desejos (Kelim): neste momento, nós vemos o Criador de acordo com a exatidão ou corrupção dos nossos desejos, mas quando nós o alcançamos no final da escada, vamos revelá-Lo como o Bom que faz o bem.

Assim, todas as contradições terão desaparecido, e nós receberemos um “roteiro do progresso”, que é dimensionado conforme nossa atitude para com o Criador. Ele nos permite ver como nós mudamos e, consequentemente, como o Criador muda aos nossos olhos.

Nós expressamos nossa gratidão ao Criador por nos dar a escada da ocultação; com a sua ajuda podemos alcançar a conexão com Ele. Caso contrário, não seremos capazes de nos conectar com perfeição.

Da 2ª parte da Lição Diária de Cabalá 09/07/12, “O Livro do Zohar”