“Religião” Como Escola Para Avançar Em Direcção Ao Criador

Dr. Michael LaitmanO Ari escreve no livro A Árvore da Vida (século XVI) que após sair do mundo animal através da etapa de transição dos macacos, nós adquirimos a forma humana. Isto ocorreu tanto no nível físico, corpóreo, como no emocional, espiritual: Nós desenvolvemos interiormente os desejos das naturezas inanimada, vegetal e animal, até chegarmos aos desejos egoístas do quarto grau, o humano. O grau humano está também dividido nestes quatro níveis, mas como um todo, a humanidade é diferente do resto no seu padrão único de desenvolvimento.

O desenvolvimento anterior continuou no nível material, limitado a absorver e excretar substâncias. A natureza inanimada está quase sempre restringida a processos internos; a vegetal troca substâncias com o ambiente circundante: respira, consome e excreta, mas apenas de uma forma muito restrita.

Dado tudo isso, o grau vegetal da natureza depende inteiramente das condições externas; não se move de seu lugar e está sujeito ao ciclo das estações. A natureza animal tem menos restrições: seus representantes deslocam-se de um local para outro, possuem um desejo mais desenvolvido, têm formas especializadas de produzir descendência, e conseguem consumir melhor alimento e excretar resíduos. Isto, em essência, é a conclusão do desenvolvimento externo, material.

Deste ponto em diante um quarto grau especial é adicionado a ele. Mas primeiro perguntemo-nos a nós próprios: Porquê não pode o processo ser completo neste nível? Porquê não pode a terceira fase da Luz Directa tornar-se a final?

Keter, também conhecida como a raiz, fase zero, criou o desejo de receber, a primeira fase (Behina Aleph) e preencheu-o. Então, este desejo ansiou por tornar-se como o superior, que já é a segunda fase (Behina Bet), o desejo de doar. De forma a doar ao superior, a segunda fase toma uma decisão: “Eu devo receber”. Então, do centro de Bina forma-se um novo estado para si mesma, a terceira fase (Behina Gimel), Zeir Anpin, que recebe de forma a doar.

O que é que falta aqui? Aparentemente, a terceira fase tem tudo! Ela tem tudo excepto a sua independência, conhecimento próprio, e percepção do superior, tudo excepto o seu “eu”. Falta-lhe o desenvolvimento interior em relação ao superior. Por outras palavras, ele requer uma ligação com a sua raiz, a única coisa que lhe permitirá continuar o seu caminho.

É aqui que surge a quarta fase (Behina Dalet) ou Malchut. Esta é uma fase única, caracterizada pelo desenvolvimento interior, qualitativo.

Até este ponto o desejo já se desenvolveu no seu curso devido. Vemos isto no nosso mundo, que tem egoísmo mais que suficiente. Agora, nós temos de nos desenvolver qualitativamente de forma a apreender a raiz superior. O mundo já percebeu o seu egoísmo e compreendeu o que pode e o que não pode satsifazê-lo. Todas as formas foram tentadas, como resultado nós crescemos e destruímos tudo. A única forma que permanece agora é a questão da conexão com o superior, o Criador: de onde eu venho e para onde vou?

Esta é precisamente a quarta fase: o grau do verdadeiro desenvolvimento do homem, acompanhado pelos desejos das outras fases. Daqui é necessário entender o que a “religião” é no contexto do desenvolvimento. Ela é um mecanismo especial, um método especial que nos permite compreender a distância entre eu e o Criador. Ela pertence apenas ao nível humano.

Quem, então, pode começar a fazer este trabalho? Aquele que sente a separação do Criador, que sente a inclinação em direcção a isto. Por outras palavras, são apenas aqueles que têm um ponto no coração. Todos os outros estão nas etapas anteriores de desenvolvimento: inanimado, vegetal, e animal.

É por isso que percebemos esta diferença, a separação, a pressão, o impulso em direcção a algo. Ele desenvolve dentro de nós o sentimento de reconhecimento do mal.

O que é o mal? Talvez eu experimente sensações negativas porque não fui capaz de roubar algo e fugir despercebido? Ou é porque estou ciente do mal em relação ao Criador? Assim, a “religião” neste sentido é uma escola de educação interna e externa, que me revela o quão distante eu ainda estou do Criador e como eu posso superar o abismo.

Isto não tem absolutamente nenhuma ligação com as noções tradicionais de “religião”. Existe o homem, e existe a força superior. A questão está apenas no reconhecimento do quão opostos somos e na superação desta lacuna.

Da 4ª parte da Liçáo Diária de Cabalá 29/11/11, “A Essência da Religião e o Seu Propósito”