Textos arquivados em ''

Construindo a Linha Média Durante a Leitura do Livro do Zohar

O Zohar: O Criador disse a Noé: “Entre na arca com toda a sua família”. Uma das qualidades do homem, que ele define como o Criador, dirigi-se à sua outra qualidade chamada Noé. Noé é a qualidade de doação e amor, a aspiração por elevar-se acima do ego. A qualidade chamada Criador fala com esta qualidade chamada Noé, a fim de elevá-la ainda mais. É por isso que o Criador diz: “Entre na arca!”, o que significa: Fortifique-se na qualidade de doação.

Está escrito sobre a entrada na arca: “O Criador (Havaya), Zeir Anpin, disse”, e está escrito sobre a saída: “Elokim disse”, referindo-se à Nukvah de Zeir Anpin. Está escrito que o dono da casa, Zeir Anpin, permite que Noé entre na arca. A arca é a qualidade de doação (Bina). Se uma pessoa (a qualidade de Noé que aspira à doação) entra na arca (Bina), ela sente que nada pode prejudicá-la – ela está a salvo de todas as suas outras qualidades, que discordam de Noé. O resto das qualidades do homem são egoístas e podem prejudicar seu progresso espiritual; é por isso que ele quer separar a qualidade de Noé das demais e avançar apenas com ela. Por enquanto, ele deixa as outras qualidades sozinhas, faz uma restrição sobre elas, ocultando-as.

Então a senhora, Nukvah de Zeir Anpin, diz para ele sair. Ele entrou com a permissão do senhor, Zeir Anpin, mas saiu com a permissão da senhora, Nukvah de Zeir Anpin. Isso se refere a duas forças que influenciam uma pessoa: a força Zeir Anpin e a força de Nukvah, o julgamento e a misericórdia. Através da influência destas duas rédeas, nós nos aproximamos do objetivo.

Assim, nós descobrimos que o senhor levou o convidado para a casa, e a senhora o retirou para fora, como está escrito: “Elokim disse a Noé: Saia da arca!” Elokim é a força masculina, a força que vence. Ela tem a permissão para retirar o convidado para fora, mas não tem o direito de deixá-lo dentro.

Mesmo que estas duas forças sejam opostas, elas atuam em conjunto a fim de nos fazer avançar. Nós não podemos avançar somente com a ajuda de uma força que nos empurra para frente. Nós também precisamos da força que nos empurra para trás. Nós somos sempre controlados por elas, como duas rédeas. Se nós entendermos que estas duas forças nos influenciam para o nosso próprio bem, e equilíbrarmos a força da esquerda com a da direita, então nós as uniremos e construiremos a linha média.

Uma Ponte Estreita para o Mundo Espiritual

O Livro do Zohar foi escrito por um grupo de grandes Cabalistas cuja envergadura jamais existira em toda a história. Eles criaram uma ponte de linguagem, informação, forças, sensações e Luz, conectando nossas sensações e a compreensão do mundo revelado, com a sensação e a compreensão do mundo oculto.

Quando nós estudamos O Livro do Zohar, escrito por eles, e tentamos entrar no estado que eles desejam nos transmitir, nós somos como um bebê que avidamente abre os olhos e a boca, a fim de absorver o que sua mãe está lhe dizendo. Ele não entende nada, mas simplesmente olha para ela e manifesta sua alegria através do movimento.

Nós devemos fazer esforços semelhantes para entendermos nossos professores. Para fazer isso, nós devemos nos conectar da mesma forma que os dez autores do O Livro do Zohar estão conectados. Mesmo que o leiamos sem qualquer explicação, começaremos gradualmente a sentir as novas reações e movimentos internos. Dentro de nós, num nível subconsciente e inconsciente, surgirá um novo reino ou mundo e se tornará mais habitual.

Nós chamamos as nossas lições de “Um Estudo do O Livro do Zohar“; porém, na realidade, este livro não é estudado, mas revelado, e a revelação acontece através de nossa aspiração e disposição de sentir o mundo oculto. A disposição deve ser expressa através da união entre nós, semelhante à união entre os autores deste livro. É a união de todos os pontos no coração – as aspirações em relação à equivalência com o Criador. É assim que os Cabalistas descrevem a condição necessária para a utilização correta do O Livro do Zohar.

No processo de leitura deste livro, eu forneço pequenos esclarecimentos, a fim de ajudá-los a “agarrar” o texto, semelhante às explicações de um adulto a uma criança durante um jogo.
Sempre que os Cabalistas escrevem sobre o O Livro do Zohar, eles não se referem a ele como O Livro do Zohar, mas simplesmente como O Livro. Isso expressa o seu desejo de mostrar que não há nenhum outro livro igual no mundo!

Um Livro que Abre os Nossos Olhos

A ciência Cabalística revela um gigantesco mundo novo para nós, o mundo espiritual, que inclui o nosso mundo atual como um minúsculo grão de areia em todo o universo. Mas como nós podemos sentir o mundo espiritual? Da mesma forma como no nosso mundo um bebê nasce sem ter qualquer conhecimento, com sensações que ainda não estão desenvolvidas. Mas aos poucos ele acumula impressões deste mundo, ouve e reconhece sons, vê imagens, percebe as cores, e sente a diferença entre frio e quente. Ele deve aprender tudo isso a partir das impressões que recebe.

Primeiro, ele simplesmente desenvolve seus sentidos e aprende a discernir, por exemplo, a presença ou a ausência de som. Mais tarde, ele começa a discernir diferentes sensações em cada sentido. O que torna uma pessoa desenvolvida diferente das demais é que seus sentidos são capazes de perceber as coisas mais refinadas. Para um músico, os sons despertam um mundo de sensações. Um artista vive no mundo das cores. Um escritor sente a tonalidade de cada palavra.

Mas tudo isso chega à pessoa de forma gradual. Nós existimos numa realidade que se revela gradualmente para nós. Ela nos influencia, nos faz progredir, e cria em nós a capacidade de percebê-la. É assim que a realidade material (este mundo) está organizada; e nós desenvolvemos e revelamos o mundo espiritual através das mesmas etapas, pelas mesmas leis.

Existe um livro especial que desenvolve de forma consistente a nossa sensação do mundo espiritual, para além deste mundo. Em princípio, nós estamos vivendo num mundo único e comum, mas em relação a nós ele se divide numa parte que podemos perceber e uma parte que esta oculta de nós. A fim de revelarmos a parte oculta do mundo, nós devemos começar a senti-la de forma direta, como os bebês. É isso que este livro singular, O Livro de Zohar, faz por nós.

O Desejo é um Meio para Alcançarmos O Criador

O desejo criado pelo Criador é dividido numa infinidade de partes ou desejos; então, ele passa por uma série de transformações, até que se estabiliza num estado onde ele é revelado e chamado de “eu” (self). Este desejo é percebido como um desejo interior existindo num desejo externo, num mundo de desejos estranhos, na imagem de pessoas, animais, aves, peixes, vegetação e rochas. Entretanto, tudo isso faz parte do mesmo desejo que desceu de Malchut de Ein Sof (Infinito) para um estado onde ele começa a perceber e sentir que se origina do ponto interior chamado Adam HaRishon, após a quebra.

Este é o “eu” dentro de cada um de nós – o menor grau do desenvolvimento do desejo. Neste nível, o desejo começa a reunir todos os desejos fragmentados que pareçam estranhos, retornando assim a um estado de plenitude e perfeição. Ao reunir todos os desejos, nós estudamos o nosso “eu”, a forma como foi ele criado, e o nosso Criador. Como resultado, esse “eu” torna-se semelhante e equivalente a Ele.

No entanto, eu não sou o desejo. Eu sou o ponto fora do desejo criado. Assim como eu, o Criador também existe fora do desejo que Ele criou. Ele criou esse “eu”, e criou o desejo diante d’Ele, de modo que estudando esse desejo, “eu” pudesse alcançá-Lo.

O desejo entre nós é como o alimento entre o cliente e o anfitrião: ele permite que ambos se aproximem mais, até alcançarem o amor absoluto e a integração. Em outras palavras, o desejo criado pelo Criador, é o meio para a minha união com Ele.

O Criador existe fora desse desejo, assim como “eu”. O Criador tem um ponto de contacto com o desejo, como eu. Conseqüentemente, nós dois somos iguais! Entre nós está o desejo que Ele criou, bem como a Luz que o preenche. Eu sou a sensação ou a consequência da quebra, uma centelha existindo fora do desejo, a qual me é dada para que eu possa alcançar o Criador.

Dentro do desejo, Ele construiu mundos, Partzufim e Sefirot – e o meu trabalho é restabelecer a sua plenitude e perfeição, para trazer de volta o Uno, Único e Indivisível. Então, eu serei completamente equivalente a Ele, e eu O conhecerei de acordo com Suas ações.